O mundo dos quadrinhos é uma constante revolução. Um personagem está
vendendo mal? Mandam matar. O substituto parou de chamar atenção? Criam
uma desculpa e trazem o original de volta.
No mundo real, contudo, a indústria dos gibis é retrógrada. Mudanças são
tratadas com desconfiança e o mercado está estagnado em torno de US$
650 milhões (R$ 1,3 bilhão) há seis anos. Mas há uma luz no fim do
túnel, ou melhor, na tela dos tablets.
Com a popularização dos iPads e similares, abriu-se um terreno fértil
para os quadrinhos digitais nos Estados Unidos. Ficou muito mais fácil
ler um gibi no tablet, sem precisar se locomover até uma loja
especializada.
O ComiXology é o líder entre aplicativos para distribuição e leitura de
gibis em tablets no mundo. Em 2009, dois anos depois de sua criação,
rendeu US$ 1 milhão. Em 2011, o faturamento pulou para US$ 25 milhões.
Em 2012, a previsão é de que o negócio bata nos US$ 70 milhões.
"Enquanto o impresso cresce um pouco, o digital cresce muito", diz David Steinberger, presidente da empresa.
No primeiro semestre de 2012, os quadrinhos impressos nos EUA cresceram
18% em relação a 2011, de acordo com o site The Comics Chronicles.
"É incomum. Geralmente, o mercado físico encolhe. O que fizemos foi
abrir as vendas para o público. Hoje, você está no Brasil e pode ler uma
revista em segundos", lembra Steinberger.
O sucesso dos quadrinhos para tablets está atraindo projetos que
pretendem revolucionar a mídia. Enquanto no ComiXology o leitor toca na
tela para passar a "página", o recém-lançado aplicativo Madefire esquece
qualquer tradicionalismo em HQs batizadas de "motion books".
Esses gibis pós-modernos têm trilha sonora, onomatopeias sonorizadas e
desenhos em 360 graus, mas ainda precisam do leitor para passar os
quadros, os balões de diálogos e controlar a mudança de foco. "A
interação ainda existe", conta Dave Gibbons ("Watchmen"), um dos gurus
artísticos da Madefire.
"Há oportunidades maiores do que escanear as revistas e vendê-las.
Disponibilizamos as ferramentas para os artistas criarem novas
histórias", afirma Ben Wolstenholme, presidente do Madefire, alfinetando
o ComiXology.
Quem baixa o aplicativo no iTunes tem seis opções grátis de títulos que
exploram bem os recursos, mas engatinham em qualidade narrativa.
A iniciativa de elevar a arte para o futuro não é só de investidores
independentes. A gigante Marvel, ao lançar "Avengers vs. X-Men",
aproveitou para estrear a linha digital Infinite, de graça.
Nela, a cada toque na tela do tablet, quadros se modificam e balões
surgem. "É a primeira vez que criamos uma revista em quadrinhos para
aparelhos portáteis", disse o editor da Marvel, Axel Alonso, ao "New
York Times". Primeira, mas longe de ser a última.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
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