Não foram poucos a rotular a recente aquisição da tradicional marca de
motos esportivas italiana Ducati pela Audi, braço "premium" do grupo
Volkswagen, como uma operação desprovida de bom fundamento comercial.
Economistas e homens de finanças em geral não engoliram o porquê do
desembolso de cerca 1 bilhão de euros -- dos quais 140 milhões são
dívidas da Ducati embutidas na negociação -- para incluir no portfólio
do grupo alemão uma marca de motos de nicho. No ano passado a Ducati
vendeu 42 mil motos e obteve um faturamento próximo dos 480 milhões de
euros, uma mixaria em comparação os 8,2 milhões de veículos vendidos
pelas diversas marcas que compõe o grupo VW, que alcançou um faturamento
de cerca 160 bilhões de euros.
- Yamaha TMAX, scooter que incomoda na Europa
Há quem também sustente que a compra da rossa de Bolonha foi
uma decisão pessoal de Ferdinand Piëch, no passado executivo nº 1 da VW e
ainda hoje chairman do conselho. Segundo estes, ter a Ducati no grupo
VW foi um "capricho" do neto de Ferdinand Porsche, que aos 75 anos de
idade é um motociclista renitente, apaixonado proprietário de motos
Ducati.
É evidentemente impensável, por maior que seja a envergadura do
lendário executivo nas entranhas da Volkswagen, que o negócio tenha sido
realizado por razões emotivas. A marca alemã quer dominar a cena
mundial e ser em breve o maior fabricante de veículos do planeta, e
jamais poderia dar-se ao luxo de passos irracionais nessa escalada até
agora muito bem-sucedida. Então, o que há por trás da compra dessa
pequena, mas muito prestigiada marca de motos?
A resposta mais óbvia é a competição. Não nas pistas, onde a Ducati é
uma espécie de Davi que frequentemente bate Golias, formidável
antagonista dos colossos japoneses Honda e Yamaha nos campeonatos dos
protótipos, a MotoGP, onde foi campeã em 2007, e mais ainda no torneio
mundial reservado às máquinas derivadas de série, as superbikes, com 14
títulos em 22 campeonatos.
A competição a que nos referimos é com a BMW, a conterrânea da Audi,
até ontem única marca européia de destaque a atuar no ambiente de duas e
quatro rodas de maneira consistente.
Porém, para a Audi lutar com BMW (via Ducati) no quesito motos há chão:
o catálogo muito mais diversificado e menos elitista fez a marca de
Munique vender cerca de 114 mil motos em 2011, quase três vezes mais que
sua rival italiana.
MOTONOTAS!
DKW, uma das empresas que compôs a Auto Union, associação
de marcas ocorrida na Alemanha em 1932 (as outras marcas eram a Audi,
Horch e Wanderer) foi competentíssima construtora de motocicletas, o
maior fabricante mundial de motos nos anos 1930, extremamente inovadora
na técnica e ativa nas competições, angariando diversas vitórias nas
pistas.
YAMAHA TMAX, considerado o "rei" dos big-scooters, é a
referência máxima do segmento no maior dos mercados deste tipo de
veículo, a Europa. Seu segredo é conciliar a agilidade e praticidade
característica dos scooters com um comportamento dinâmico e performance
próximas às de uma moto de média cilindrada. Para realizar seus
scooters, a BMW se inspirou fortemente neste perfil do modelo Yamaha. RUPERT STADLER, presidente da Audi, justificou a aquisição da Ducati evocando ser a marca italiana uma das mais rentáveis de seu segmento. Todavia, é claro que a possibilidade de geração de caixa da empresa italiana não é o que mais interessa ao gigantesco Grupo Volkswagen. PETER SCHWARZENBAUER, responsável por marketing e vendas da Audi declarou esta semana, por ocasião da inauguração de um showroom da marca em Londres, que a Audi terá veículos de duas rodas em seu futuro, mas que jamais veremos uma Ducati com o logotipo da Audi. MERCEDES-BENZ, a grande rival de Audi e BMW, não ficará de fora dos setor duas rodas: seu primeiro passo será um scooter elétrico de pequenas dimensões, lançado por sua marca Smart. |
Então, o que há por trás da operação Audi-Ducati?
SCOOTER
Rumores bem recentes dão conta de que a marca das quatro argolas mira
mesmo o mercado das duas rodas, e pequenas: os scooters. Inflacionado
mas tremendamente lucrativo, o segmento dos práticos veículos urbanos
entrou recentemente no raio de ação da BMW com o lançamento, no final do
ano passado, de dois modelos destinados ao topo do mercado, os BMW C
600 Sport e C 650 GT, com preços na casa dos 12 mil euros.
Estes inéditos BMW têm como objetivo desbancar o rei deste importante
nicho, o Yamaha Tmax 500, que desde seu lançamento em 2001 vendeu nada
menos do que 180 mil unidades. No berçário da maioria dos construtores, e
para curto prazo, estão versões elétricas destes grandes scooters. A
BMW já mostrou seu protótipo há exato um ano, e não deve demorar para
colocá-lo nas revendas.
A Audi possivelmente não cometeria o pecado de lançar um scooter
(grande ou pequeno) com o logotipo Ducati, maculando a aura especialista
da marca (apesar de ter feito o Cayenne e o Panamera, aplicado o logo
Porsche neles).
O mais provável é que a expertise italiana em motores compactos de alto
rendimento, e principalmente em termos ciclísticos (chassi e
suspensões), seja direcionada para scooters timbrados Audi, permanecendo
as motos de alto desempenho com o tradicional e premiadíssimo nome
Ducati.
Não seria uma operação inédita em termos de Grupo VW: a compra da
Lamborghini pelos alemães em 1998 deu nova vida para a marca de carros
superesportivos, com o motor V10 projetado para o modelo Gallardo indo
parar nos cofres da perua Audi RS6 e do coupé RS8.
Concentrada em ser a nº 1 mundial em veículos, atenta às dificuldades
da mobilidade nos grandes centros, às cada vez mais determinantes
questões ambientais -- e vendo muitos executivos chegarem ao trabalho
montados em TMax e congêneres --, a operação da Volkswagen ao comprar a
Ducati faz, sem dúvida, muito sentido.
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