Marc Gobé, especialista em branding, fala sobre os desejos da nova geração e afirma que os consumidores querem ir além da relação meramente comercial com as marcas
Marc Gobé esteve em São Paulo para a palestra Branding Trends
(tendências do branding), realizada no dia 3 de setembro durante o
Seminário Marketing 2.0. O especialista falou sobre marcas, conexão
emocional e sobre o novo perfil do consumidor. “Muitas organizações
consideram as pessoas como simples máquinas que realizam compras. Mas
não é isso que o novo consumidor deseja. Mais que uma relação de
consumo, este novo público considera as marcas como parte importante de
suas vidas”, analisa. Veja a entrevista:
Mundo do Marketing: Você sempre coloca que as pessoas amam as
marcas, mas as marcas não amam as pessoas. O que exatamente você quer
dizer com isso?
Marc Gobé: Quando elas compram uma marca, desejam que esta empresa
participe das suas vidas. As marcas dizem muito sobre o que nós somos.
Isso é muito poderoso, pois envolve nossa emoção. Muitas organizações
consideram as pessoas como simples máquinas que realizam compras. Mas
não é isso que o novo consumidor deseja. Mais que uma relação de
consumo, este novo público considera as marcas como parte importante de
suas vidas. Então precisamos humanizar as marcas e não apenas considerar
que elas realizem transações meramente comerciais com a sociedade. O
consumidor não quer ser tratado exclusivamente pelo aspecto
transacional. Ele quer ser mais que consumidor. As marcas precisam ir
além da relação comercial.
Mundo do Marketing: E o que uma empresa pode fazer para que sua marca ame as pessoas de volta?
Marc Gobé: As marcas precisam entender que o mundo mudou. E o poder
social mudou de lado. Quando falamos das diferentes gerações, percebemos
que por conta das mídias sociais, as pessoas possuem poder sobre as
marcas. São elas que elegem as marcas, falam sobre as empresas,
compartilham com os seus amigos e redes de contato. As marcas que estão
engajando nas mídias sociais, participando das conversas que acontecem o
tempo todo, têm maiores chances. As empresas precisam fazer isso, não
há outro caminho. É como ir para uma festa. Se você vai a uma festa e
conhece pessoas que ficam tentando te vender alguma coisa, naturalmente
você se afasta. Quando entramos em uma conversa, não queremos que alguém
nos venda algo. Queremos compartilhar informações e valores. As pessoas
esperam que as marcas compartilhem produtos, mas esperam também que as
marcas compartilhem valores. As marcas precisam estar próximas do seu
público, participando realmente das conversas, engajando e
compartilhando. As empresas precisam estar mais focadas em como ajudar
as pessoas a terem uma vida melhor e construir um mundo melhor.
Mundo do Marketing: Você poderia citar alguns exemplos de marcas que estão fazendo um bom trabalho neste sentido?
Marc Gobé: Acho que a Apple faz um bom trabalho. As pessoas amam a
Apple porque ela está sempre compartilhando a sua visão de futuro. De
repente você não precisa mais de um GPS, você usa o seu Iphone para
isso. E assim temos infinitos exemplos de aplicações que ajudam as
pessoas no seu dia a dia. A Apple amplia o mundo das pessoas e as ajuda a
viver de uma maneira melhor. Estou querendo dizer que as marcas não
devem ver a venda de produtos como o ponto final da relação com o
consumidor. Este na verdade é o primeiro passo da conversa. A questão do
engajamento e de ser socialmente relevante também é muito importante
neste processo.
Mundo do Marketing: Então o caminho é apostar no Marketing de conteúdo?
Marc Gobé: O conteúdo é criado para as pessoas. Sempre foi assim. As
empresas criavam conteúdo para as pessoas. Hoje, porém, o conteúdo é
criado pelas pessoas. Quando olhamos o que o consumidor faz na internet, percebemos claramente esta mudança. As marcas precisam adaptar o seu conteúdo e as suas estratégias a esta nova realidade.
Mundo do Marketing: As companhias ainda gastam a maior parte de
suas verbas com publicidade. Você acredita que este é o melhor caminho
para criar conexão entre marcas e as pessoas? É justifcável o que as
empresas gastam com publicidade e anúncios?
Marc Gobé: Acredito que vivemos na era da conversação e do
compartilhamento. Esta é a realidade. Acho que os anúncios têm a sua
importância. O que precisamos é que as marcas façam este link da
publicidade para o conteúdo e para outras mídias. Os anúncios não são o
final da comunicação. Na realidade, eles são apenas o início do diálogo
com o público. As marcas precisam entender que o caminho é migrar as
pessoas a partir da publicidade para outras plataformas onde elas possam
ampliar esta conversa com seus públicos e engajá-los. A publicidade
tradicional tem a oportunidade de se tornar bem mais poderosa se levar as pessoas a viverem experiências. A publicidade não é o fim, mas o início da conversa.
Mundo do Marketing: Parece que as empresas são muito fortes e
ativas para comunicar uma marca, seus produtos e serviços, mas falham
quando chega o momento de criar a experiência. Qual é o caminho para
transformar uma marca intocável e distante em uma marca que pode ser
tocada e experimentada pelos consumidores?
Marc Gobé: Acho que um projeto que toda marca deve ter é sobre conhecer
quem ela é e o que ela aparenta e transmite ao público. Se olharmos o
Google, percebemos que eles mudam a marca e a reformulam toda semana,
através dos doodles. Eles entenderam que a marca é mais que a identidade
visual, e eles não podem controlar isso. O Google é forte pelos seus
valores e pelo quanto de inspiração que ela traz à vida das pessoas.
Viajei pelo mundo estudando branding e percebi que as marcas ainda não
entendem como o consumidor quer participar da conversa e como ele pode
ser engajado. Provavelmente, o melhor exemplo de marca que engaja é o
Google. Eles possuem uma incrível habilidade para estar na vida das
pessoas e ajudá-las a melhorar. Eles estão presentes nas nossas vidas.
Mundo do Marketing: Você alerta que as marcas que não souberem
dialogar e não criarem a conexão emocional com seus consumidores, podem
morrer. Isso se refere a um futuro próximo ou ainda distante?
Marc Gobé: Acho que já existe um forte entendimento das empresas sobre
branding, sobre a personalidade das marcas, sobre a conexão emocional
entre elas e o estilo de vida das pessoas. Mas ainda precisamos reforçar
que as pessoas não compram produtos, elas compram valores. O que as
interessa em uma marca não é a linha de produtos, mas os valores. As
gerações mais jovens estão muito mais interessadas no impacto que cada
empresa causa na sociedade e como esta participa da vida das pessoas do
que nas características dos produtos em si. Os mais jovens não querem
ter uma relação meramente transacional com as organizações. Eles querem
ver como as marcas participam do ambiente que as cerca. Querem que as
marcas mostrem que estão fazendo algo de bom por eles e pela sociedade.
Esta é uma mudança fundamental. As pessoas demandam marcas mais
receptivas, abertas e transparentes. As pessoas querem ver significado
na marcas, querem se identificar com elas. Esta identificação fará com
que as pessoas gastem mais tempo e mais dinheiro com produtos cujo
valores elas compartilham e acreditam. Existe uma mudança de significado
em curso. As empresas precisam estar atentas a isso.
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