Mercedes festeja os 60 anos da linha SL com uma nova geração de conversíveis mais leves e tecnológicos
O conversível cinza fosco engole a autoestrada que bordeja o
Mediterrâneo. Faz 10°C na ensolarada tarde de inverno da Andaluzia, mas
seguimos com a capota arriada. Basta manter os vidros laterais
levantados e a calefação ligada para aproveitar o céu azul.
Vamos ganhando velocidade: 100km/h,120km/h... No banco do carona, vai
o colega Boris Feldman, do jornal “Estado de Minas”. Olho para o lado
com medo de que a boina dele voe. Temor besta: a inclinação do
para-brisa e uma telinha retrátil logo atrás dos encostos de cabeça
evitam o vento e a turbulência na cabine. Tudo o que se sente é uma leve
aragem.
O mundo parece perfeito quando se está em um Mercedes-Benz SL. A cada
evolução da linha de esportivos,criada há 60 anos, a marca alemã tenta
se superar em eletrônica, mecânica e qualidade de construção– como se
tentasse domar as forças da natureza e as debilidades humanas.
Fomos à Espanha conhecer a sexta geração do modelo. O 500 SL que
dirigimos pesa 1.780 kg — uma redução de 130 kg em relação ao modelo
antigo.
A única parte de aço é o quadro do para-brisa, que é feito com metal
de alta resistência e reforçado por tubos internos. Em caso de o
conversível capotar, isto protegerá os ocupantes.
Falando em segurança, há dois santantônios retráteis. Se os sensores
eletrônicos perceberem que o carro vai virar, um elevador hidráulico
levantará duas colunas de metal numa fração de segundos. Para comprovar a
eficiência do dispositivo, o pessoal da Mercedes mostrou o vídeo de um
acidente real, um SL capota em velocidade altíssima e os ocupantes saem
andando ilesos.
A princípio, o estilo do carro pareceu pesadão aos olhos deste que
vos escreve. A carroceria da geração R231 é algo mais comprida e larga
que a da antecessora (R230). Porém, na hora de registar as imagens que
ilustram esta reportagem, o conversível se mostrou fotogênico em
qualquer ângulo. Não há como escapar ao apelo das curvas do porta-malas,
dos vincos e das aberturas de saídas de ar que emulam o modelo original
dos anos 50. As linhas ganham ainda mais destaque com a pintura
sutilmente fosca, como a do SL 500 testado.
Como manda a tradição dos SL, o novo modelo é muito acolhedor. Entre
os bancos que abraçam, vai um console alto com o pequeno seletor do
câmbio automático de sete marchas. Há infinitos ajuste de encostos,
assentos e direção. O esmerado acabamento de couro clarinho faz qualquer
plebeu se sentir nobre. Truques eletrônicos surpreendem todo o tempo. O
teto dobrável é coberto por um vidro especial, que fica transparente ou
opaco (num azulão escuro), com um simples apertar de tecla.
É possível abrir e fechar a tampa do porta-malas sem usar as mãos:
basta ter a chave no bolso e passar o pé sob o para-choque traseiro.
Propulsão /Aperta-se o botão de partida e o V8
biturbo desperta em silêncio. Na cidade, vai mansinho, controlado pela
ponta do pé direito. Querendo, o motorista ativa o modo start/ stop, que
desliga e liga o motor a cada parada no sinal.
No ambiente urbano, o SL não se mostra nem áspero, nem molenga.
Encontrou um ponto de equilíbrio, ao menos para o asfalto europeu...
Para tentar antever o que acontecerá no Brasil, procuramos quebra-molas e
buracos — e o Mercedes os superou sem maior desconforto.
Vamos à estrada e o motorzão biturbo parece um aspirado. Não se
percebem assovios ou hiatos de potência. Pudera: são 71 kgfm de torque.
Uma brecha na estrada, pé fundo e o V8 cresce imediatamente, numa
explosão de poder.
Aí o SL mostra que foi feito para rodar nas autobahnen alemãs, sem
restrições ou multas. O carro lida com velocidades altíssimas sem
ameaçar ou provocar vertigens. E, quase sempre, o motorista fica em
dúvida se é realmente talentoso ou se a eletrônica já assumiu o carro (a
atuação é sutil). Só se ouve o rugir do V8 quando se chama no
acelerador com vontade– e talvez este seja o maior “defeito” do SL.
Dá para passear manso. A 120 km/h, em sétima marcha, o motor está a
1.800 rpm. Quem estiver cansado, liga o controle de cruzeiro, conjugado
ao dispositivo Distronic Plus. Isso faz o Mercedes manter, sozinho, uma
distância prudente em relação ao carro que vai na frente. Há ainda o
sensor de faixa, que dá uma pancadinha nas mãos do motorista quando se
muda de faixa sem usar a seta.
O esguicho do para-brisa é formado por pequenos buraquinhos nas
próprias palhetas. A água sai sob controle — testamos a mais de 100
km/h, com a capota aberta, e não entraram pingos na cabine.
Problemas? É preciso procurar muito... As colunas do para-brisa são
largas demais e tiram um pouco da visão lateral. Com o teto fechado, o
rumor dos pneus larguíssimos reverbera no ambiente. Por outro lado, não
ouvimos ruídos das ferragens da capota– ao menos no carro
zero-quilômetro rodando em asfalto europeu... Mas ficamos pensando no
que acontecerá com toda a eletrônica embarcada dentro de uns 15 anos.
As vendas no Brasil começam no segundo semestre, com a versão V8
testada (a SL 500) e, só depois, usando o motor V6 aspirado (SL 350). Os
preços, por ora, não foram divulgados. Como referência, o SL 350 antigo
era vendido por R$ 336 mil.
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