Depreciação é a maior do mercado, mas a oferta de itens de série pode compensar perda
São Paulo – Os carros
chineses ainda são motivo de receio para muitos compradores. Por causa
desta dose de desconfiança, o valor de revenda desses automóveis são
mais baixos do que o de similares. Segundo o índice de depreciação
dos veículos, divulgado pela agência Auto Informe, com base na tabela
Molicar de preços, os chineses são os que mais se desvalorizam em suas
categorias.
Na tabela abaixo é possível observar a desvalorização média entre julho
de 2011 e julho de 2012 dos modelos nacionais e de modelos chineses da
mesma categoria. Para efeito de comparação, foram selecionados alguns
dos carros mais vendidos das montadoras Chery, JAC e Lifan. Veja a seguir:
Categoria | Modelo chinês | Desvalorização | Modelo nacional similar | Desvalorização | Diferença em pontos percentuais |
---|---|---|---|---|---|
Hatch pequeno (compacto) | Chery QQ 1.1 | 18,7% | Chevrolet Celta 1.0 | 10,0% | 8,7 p.p. |
Hatch pequeno (compacto) | Lifan 320 1.0 | 18,2% | Ford Fiesta 1.0 | 13,2% | 5,0 p.p. |
Sedan Médio | Lifan 620 1.6 | 18,2 | Fiesta Sedan 1.6 | 15,2% | 3,0 p.p. |
Sedan compacto | JAC J3 Turin 1.4 | 19,2% | Peugeot 207 1.4 | 16,0% | 3,2 p.p. |
Grande cab * | JAC J6 2.0 | 19,8 | Chevrolet Zafira 2.0 | 17,2% | 2,6 p.p. |
Utilitário esportivo | Chery Tiggo 2.0 | 18,7% | Ford Ecosport 2.0 | 14,5% | 4,2 p.p. |
(*) Categoria representa as grandes peruas, que inclui desde carros
na faixa dos 50.000 reais, como Chevrolet Zafira e JAC J6, até modelos
que superam os 100.000 reais, como o Kia Carnival.
As diferenças são maiores em alguns casos, como o do Chery QQ, que teve
uma depreciação de 8,7 pontos percentuais acima do Celta. E em outros
casos são mais sutis, como entre o JAC J6 e o Zafira. Como os populares
costumam ter demanda alta e constante, sua depreciação é a menor do
mercado, o que acentua a diferença em relação aos chineses. E no caso
dos carros mais caros, como há menor procura na revenda, a
desvalorização é mais alta mesmo entre os nacionais, e por isso não se
distancia tanto da depreciação dos chineses.
O fato de os chineses serem os mais depreciados de suas categorias,
contudo, tem uma explicação comum: o preconceito com os produtos
chineses e o fato de o carro ser importado. “Os produtos chineses têm
uma imagem de algo descartável no Brasil. Eles são associados, por
exemplo, aos produtos da 25 de Março [rua de comércio popular de São
Paulo]. Por isso, perdem até mesmo de outros importados”, explica o
diretor da Auto Informe, Joel Leite.
E pelo fato de serem carros importados, quando eles precisam passar por
um reparo ou uma reposição, as peças são trazidas de fora e podem
demorar a chegar no Brasil. É justamente por isso que algumas montadoras
preferem já vender o carro completo.
Além disso, como as chinesas ainda são relativamente novas no país –
marcas como Chery e JAC, chegaram há menos de quatro anos – é mais
difícil encontrar oficinas especializadas nas marcas e concessionárias
do que em relação aos nacionais. Na hora de comprar um usado, as
concessionárias costumam buscar em outras lojas os mesmos modelos para
avaliar se estão fazendo um bom negócio. Sem uma boa base de comparação,
algumas acabam desmotivadas a concretizar a compra.
Outros importados também costumam sofrer maior desvalorização por estes
motivos, mas o “preconceito” deprecia mais os chineses do que os
coreanos e japoneses. Leite acredita, porém, que assim como os outros
asiáticos, os chineses também devem cair no gosto dos brasileiros com o
tempo. “No começo dos anos 1990, os japoneses eram vistos como os piores
carros. Depois chegaram os coreanos e tiveram muito preconceito. Quem
tinha carro da KIA precisava explicar por que comprou o carro e hoje o
coreano é um carro de grife”, compara.
Prós: Baixo valor de compra, fartura em itens de série, garantia estendida
Se a intenção é trocar o carro em pouco tempo, os chineses não são uma
boa opção para o comprador, que pode se desapontar com o baixo valor de
revenda. No entanto, se a intenção é ficar com o carro por alguns anos, a
compra pode valer a pena do ponto de vista financeiro.
Em primeiro lugar, eles são muito mais fartos em itens de série do que
os nacionais. “O chinês é um carro que vem completo de fábrica ao preço
de um carro popular pelado. O consumidor se sente valorizado: tudo que
as grandes montadoras não deram estes anos, eles estão ganhando com o
chinês”, avalia Leite.
O Chery QQ, motor 1.0, cinco portas, tem como itens de série
ar-condicionado, direção hidráulica, travas elétricas, vidros e
retrovisores elétricos, CD player, airbag e ABS. Atualmente, é um dos
carros novos mais baratos do mercado, vendido nas concessionárias por um
valor médio de 23.822 reais, segundo a tabela Fipe (valor médio dos
carros vendidos com opcionais ou sem). O Celta, motor 1.0, cinco portas,
por exemplo, tem valor inicial sugerido pela montadora de 24.468 reais
(sem opcionais) e não possui os itens de série acima citados.
Apesar dos problemas na reposição das peças, os carros chineses podem
ter custo de peças menores, já que os preços são proporcionais aos
valores do carro completo. Até o momento, o melhor indicativo sobre isso
é uma pesquisa do Cesvi, órgão dedicado à segurança viária e veicular,
que avaliou o custo de reparabilidade de dois veículos chineses, o J3 e o
J3 Turin. Os dois carros ficaram com 13 pontos em uma escala que vai de
10 a 60, sendo 10 a melhor nota. Com este resultado, os carros da JAC
ficaram entre os cinco melhores no ranking de reparabilidade do mercado
nacional, que avalia custos e o tempo que o carro fica na oficina.
Outra vantagem dos chineses é o prazo de garantia, mais extenso do que
no caso dos nacionais. Os veículos da JAC, por exemplo, vêm com seis
anos, enquanto boa parte dos veículos comercializados no mercado
brasileiro tem garantia de três anos.
Contras: Segurança e motor movido a gasolina
Saindo do aspecto financeiro, outros pontos podem não compensar a compra do chinês. Um dos principais motivos de preocupação em relação a estes carros é a segurança.
Ainda não foram realizados muitos testes, mas o Chery QQ, por exemplo,
foi submetido a um crashtest no padrão EuroNCap em 2006 e obteve
resultados ruins. A Chery, porém, defende que reformas estruturais foram
feitas desde então. Por outro lado, a pesquisa da Cesvi realizada com o
J3 e do J3 Turin, conclui que o índice de segurança de ambos os carros
foi considerado satisfatório.
Outro fator contrário aos chineses é que a maioria deles não tem motor
flex. E apesar de os preços do álcool ficarem elevados na entressafra da
cana-de-açúcar, fora deste período, os preços costumam ser mais
vantajosos que os da gasolina na maior parte dos estados brasileiros.
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