Publicitário entrevistou empresários e personalidades para avaliar as áreas que merecem maior atenção dos executivos em seus planejamentos estratégicos
A evolução econômica e social do Brasil e o cenário mais estável nos
últimos anos trouxeram em sua esteira desafios aos quais não estávamos
tão acostumados, como o planejamento do futuro, por exemplo. O assunto é
abordado pelo publicitário André Torretta no livro “E agora, vai?”
(Editora Da Boa Prosa), que teve lançamento oficial semana passada, em
São Paulo. A obra é um relatório de cenários futuros com base em
entrevistas qualitativas, avaliando o País em várias áreas no período de
2012 a 2021. O resultado geral é de que “a sociedade brasileira será
mais igualitária, educada e próspera”.
Torretta utilizou a
metodologia Delphi, americana, que consiste em colher opiniões em comum
de personalidades “de visão” sobre temas importantes para o País. Foram
26 entrevistados, com perfis díspares. Fazem parte da lista o presidente
do conselho de administração da Gol, Constantino Júnior, a pedagoga
Dagmar Garroux, o engenheiro químico Expedito Parente, que cunhou a
primeira patente mundial de biodiesel na década de 80, o jornalista
Fernando Morais e a empresária e consultora de moda Glória Kalil. Além
deles, o estudo contou com pesquisas qualitativas com 120 jovens entre
15 e 17 anos (que serão os consumidores adultos daqui a 10 anos) e
abordagem com “trend setters”, como jovens executivos, mulheres e
negros.
Destaques da análise
O início
do processo de melhor distribuição de renda, que levou ao fenômeno de
aumento da classe C, foi um dos grandes assuntos citados pelos
entrevistados. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, no entanto,
afirma que a miséria será extinta somente em 2016. Mesmo assim, o
crescimento econômico já trouxe novas tendências de comportamento
interessantes que serão acentuadas nos próximos 10 anos, como a
glamourização, que influencia até as festas populares, e a valorização
do conforto.
A participação feminina no mercado de trabalho
continuará crescendo. A taxa de atividade de mulheres com mais de 10
anos subiu de 26,9% em 1980 para 44,1% em 2000 e somente em São Paulo
deverá chegar a 49% até 2020. Seu papel no consumo já impacta o mercado,
como serviços especiais das seguradoras de automóveis, a valorização da
beleza real pela indústria de cosméticos, o desenvolvimento de
eletrodomésticos mais práticos e o crescimento da indústria de comida
congelada.
O setor agrícola, segundo a Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico verá as exportações do Brasil em
alta até 2020 e o valor das commodities subir em média 55% na próxima
década. O Centro-Oeste desponta como região de alto crescimento, mas com
desafios como a infraestrutura para escoamento da produção e a ameaça
de destruição do Pantanal. Outra mudança, que já está em curso, é a
descentralização do crescimento econômico do País, com as regiões Norte e
Nordeste desempenhando papel cada vez mais importante. Tanto que motiva
iniciativas como as da Kraft, que investiu US$ 80 milhões para abrir
uma fábrica em Pernambuco e tem adaptado produtos, como Tang, para
atender o gosto local.
Já o investimento na educação será o fiel
da balança no avanço, ou estagnação, do Brasil. “A importância da
educação e a precariedade em que ela ainda se encontra no País são
unanimidade entre todos os entrevistados”, diz Torretta. Apesar dos
problemas a tendência, avalia o autor, é de melhora, com um em cada três
brasileiros estudando hoje em dia.
Por fim, no esporte, a
estimativa é que a Copa do Mundo de 2014 gere R$ 183,2 bilhões, dos
quais R$ 47,5 bilhões (ou 26%) diretos e R$ 135,7 bilhões (74%)
indiretos. Para a Olimpíada do Rio, espera-se investimento de US$ 14,4
bilhões e que movimente US$ 51,1 bilhões em todo país. O impacto no
Valor Bruto de Produção do país será de R$ 49,2 bilhões, que deve se
prolongar de 2017 a 2027, com outros R$ 53 bilhões. Como aproveitar da
melhor maneira estes recursos é parte fundamental do desafio para
deixarmos de ser o eterno País do futuro.
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