O papel feminino mudou, mas a maioria dos anunciantes continua a tratar questões de gênero equivocadamente
Susan Dobscha, para o Advertising Age
Por que
os anunciantes continuam a lidar com gênero tão erroneamente? Enquanto o
papel de muitas mulheres mudou nos últimos 50 anos, você nunca saberia
isso se dependesse dos tipos de anúncios e inovações de produtos que as
empresas estão fazendo para capturar o lucrativo mercado voltado às
mulheres.
Meu trabalho sobre maternidade em particular revelou
diversas verdades difíceis sobre mulheres e o mercado. A maternidade
iminente é um estado limiar entre identidades, no qual os consumidores
são particularmente vulneráveis. Além disso, os anunciantes continuar a
divulgar bens e serviços a essas novas mães usando o apelo do medo. Que
mãe novata vai escolher o bebê conforto mais barato, menos seguro?
Esta
indústria multibilionária alimenta o medo dos novos pais com chavões
como “seguro”, “segurança” e “proteção”. O medo é apenas um caminho pelo
qual os anunciantes se dirigem às mulheres. Eles também usam
autoestima, motivação e valores para seduzir todos os consumidores. Mas
são as mulheres as mais negativamente impactadas por esses apelos, como
evidenciado pela quantia desproporcional de doenças relacionadas à
autoestima, como desordens alimentares e excesso de cirurgias plásticas.
Três exemplos recentes mostram que os anunciantes continuam a agir
errado na segmentação por gênero. A Honda, há pouco tempo, revelou um
carro cor-de-rosa com um tingimento especial nos vidros para combater
rugas. A Bic lançou as “Canetas para Elas”, que foram na sequência
alfinetadas pela apresentadora Ellen DeGeneres e consumidores
inteligentes na Amazon. E uma quantidade incrível de fantasias de
Halloween são tematizadas para homens e mulheres, com a versão feminina
sendo “sacana” ou “sexy”, com tudo que envolva de temas profissionais,
como “policial sexy”, aos temas mais obscuros, como “banana sexy”.
Há muitas teorias sobre por que os anunciantes continuam a tratar
gênero erroneamente. Pat Flynn – uma confiável professora de economia e
administração da Bentley University e expert em mulheres e negócios – e
sua equipe poderiam, provavelmente, argumentar que é por falta de
mulheres em conselhos corporativos e alto escalão das empresas. Outros
acadêmicos poderiam apontar a natureza patriarcal do capitalismo.
Eu tenho outra teoria: ignorância.
Primeiramente, os anunciantes estão constantemente misturando os
constructos separados de sexo, gênero e sexualidade. Eles assumem que
fêmea significa feminina, que significa heterossexual e que macho
significa masculino, que significa heterossexual. Eles assumem que todas
as mulheres são femininas e gostariam de um carro cor-de-rosa. Eles
assumem que as mãos das mulheres são mais delicadas e precisariam de uma
caneta anatomicamente correta, e que as mulheres querem vestir versões
sacanas de praticamente qualquer coisa para o Halloween.
Em
segundo lugar, as empresas continuam a despejar estereótipos de gênero
em seus anúncios porque elas falham em ver que tais estereótipos são, de
forma geral, antiquados e falsos (se é que um dia foram verdadeiros).
Enquanto há mulheres que preferem rosa, e esta se tornou a cor oficial
da campanha contra o câncer de mama, a NFL (liga nacional de futebol
americano) desde então tem criado roupas mais realistas para sua
clientela feminina.
Em terceiro lugar, anunciantes são
ignorantes sobre a diversidade de preferências entre as mulheres porque
há muito tempo eles têm usado masculino e feminino como categorias
“abrangem todo mundo” para segmentação. Enquanto anunciantes do setor de
moda têm segmentado os consumidores mais profundamente usando
categorias demográficas adicionais, tais como idade e renda, outras
indústrias não seguiram o exemplo. A automobilística habitualmente erra o
alvo quanto tenta usar sexo como uma categoria demográfica, mas faz
muito melhor quando usa estilo de vida e classificações sociais.
A diferença de gênero na eleição recente, particularmente entre
mulheres solteiras, demonstra que os anunciantes não são os únicos a
tomar de forma equivocada a questão de gênero. Para permanecer
relevantes, os anunciantes, assim como os partidos políticos, devem
aprender a se adaptar às modernas consumidoras/cidadãs do sexo feminino,
cujos desejos e necessidades refletem um novo padrão de papéis de
gênero.
Sobre a autora: Susan Dobscha é professora associada de marketing da Bentley University em Waltham, Massachussets.
Tradução: Roseani Rocha
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