Segundo especialistas, sistema reduz até 10% consumo de combustível.
O câmbio CVT chegou aos carros em 1960, mas só agora, em 2013, terá um
papel importante na indústria automobilística nacional: reduzir o
consumo de combustível para atender às novas normas estabelecidas pelo
Inovar Auto — regime automotivo brasileiro,
que entra em vigor a partir de janeiro do ano que vem. Mas o que é o
câmbio CVT e qual a diferença para o manual, automático e automatizado? A
pedido do G1, especialistas explicam cada uma das tecnologias que não, necessariamente, são melhores ou piores.
As características de cada uma são bem distintas e, por isso, o que vai
determinar a vantagem é o objetivo da montadora ou do consumidor. No
caso do CVT, trata-se de uma transmissão que consome 10% menos
combustível do que a manual e 8% menos do que a automática, de acordo
com o engenheiro da Toyota e diretor da Associação de Engenheiros
Automotivos (AEA), Edson Orikassa.
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“Hoje, os câmbios automáticos estão mais econômicos do que os manuais”,
destaca o engenheiro. Segundo ele, a transmissão automática “normal”,
ou mesmo a automatizada, reduz em 2% o consumo de combustível na
comparação com a manual.
CVT
O CVT (Continuously Variable Transmission) oferece relações de marcha
continuamente variáveis, ou seja, pode-se dizer que este tipo de
transmissão tem marchas infinitas. Isso é possível porque esta
tecnologia não possui engrenagens, exatamente o que a difere de um
câmbio automático tradicional. O câmbio CVT possui duas polias de
diâmetro variável, unidas por uma correia metálica de alta resistência.
Dessa forma, o sistema permite uma aceleração contínua, sem trancos, o
que dá a impressão de que o carro nunca troca de marchas.
Câmbio manual trabalha em conjunto com a
embreagem (Foto: Divulgação)
“Esta é uma solução muito apropriada para carros com motorização até
2.5 litros. Mais do que isso, o custo deste tipo de transmissão fica
muito caro”, afirma o engenheiro e conselheiro da Sociedade de
Engenheiros da Mobilidade (SAE Brasil), Francisco Satkunas.
Os modelos com câmbio CVT vendidos no Brasil atualmente são o Nissan
Sentra, Renault Fluence e Jeep Compass, todos importados. A expectativa é
que, ao oferecer economia de combustível, esse tipo de câmbio seja cada
vez mais adotado, fazendo com que o volume de produção nas montadoras
seja suficiente para o custo desse tipo de tecnologia cair. E é
exatamente isso que o Inovar Auto quer estimular.
Câmbios manuais x automáticos
A diferença básica entre uma transmissão manual e a automática é que a
primeira trava e destrava diferentes sequências de engrenagens dentro da
caixa de mudanças e, assim, permite diversas velocidades. Para fazer as
trocas, o sistema manual possui a embreagem. Ela acopla e desacopla o
conjunto. Os câmbios manuais mais modernos já vêm com seis marchas ou
mais, o que também ajuda na economia de combustível.
A transmissão automática pode reduzir em até 2%
o consumo de combustível em relação à manual
(Foto: Divulgação)
Já a transmissão automática traz um conjunto de engrenagens
“planetárias”, que é um jogo igual ao das engrenagens utilizadas na
manual, mas concentrado em uma única peça. Para que o sistema funcione,
existe um componente chamado de conversor de torque, que faz a função de
embreagem. Este item faz um acoplamento hidráulico que permite que o
motor gire de forma independente da transmissão.
Assim, se o motor girar mais lentamente, a quantidade de torque que
passa pelo conversor é menor. Se o motorista acelera, o motor bombeia
mais fluido para dentro do conversor de torque, o que faz com que essa
força seja transmitida às rodas. “A vantagem das transmissões
automáticas e automatizadas no trânsito é o que tem popularizado este
tipo de tecnologia”, avalia Satkunas.
Borboletas no volante são usadas para as trocas
no câmbio automático sequencial e automatizados
(Foto: Divulgação)
Hoje, os carros podem contar com transmissões automáticas de até 8
velocidades. Essa transmissão, especificamente, foi desenvolvida pela
empresa ZF e já equipa os modelos Range Rover Sport, Volkswagen Amarok,
Chrysler 300 Luxury Series, Bentley Continental GT Speed, entre outros.
A tecnologia traz o recurso “Block Shifting”, que reduz, por exemplo,
de 8ª para 4ª marcha, dependendo da demanda. Outra tecnologia faz com
que a transmissão corte a aceleração quando detecta que o motor está na
rotação ideal para o torque que foi entregue. As vantagens da
transmissão de 8 velocidades são as mudanças de marcha mais rápidas e
suaves e a melhor eficiência de combustível.
Câmbio automático sequencial
Existe ainda uma variação do câmbio automático chamada de “automático
sequencial”. Esse tipo de câmbio é um modelo automático que tem como
opção as trocas manuais, ao comando do motorista. Porém, esse “manual”
só troca as marchas em sequencia, ou seja, não dá para ir da terceira
para quinta sem passar pela quarta, por exemplo. Essas
trocas podem ser feitas pela alavanca (sentido "+" e "-") ou por
borboletas no volante. É por causa dessa opção, que muitos confundem o
câmbio automático sequencial com os automatizados. Mas uma tecnologia é
diferente da outra.
Câmbios automatizados
As montadoras desenvolveram os câmbios automatizados em parceria com
seus fornecedores para ajudar o motorista a descansar o pé esquerdo, mas
sem gerar grandes custos, o que encareceria o produto. Cada uma delas
dá um nome para o seu sistema, como acontece com os motores
bicombustíveis. Na Fiat, o câmbio automatizado é o Dualogic; na GM,
Easytronic; e na Volkswagen, I-Motion, por exemplo.
Câmbio automatizado parece automático, mas tem
mesma dinâmica do manual
(Foto: Flavio Moraes/G1)
Os câmbios automatizados têm a mesma dinâmica do câmbio manual
tradicional. No entanto, recebem a ajuda de uma embreagem automática e
da centralina, dispositivo que trabalha o engate das marchas. Por isso,
também não há pedal de embreagem e os comandos da alavanca são os mesmos
de um câmbio automático sequencial. Na prática, o motorista tem todas
as facilidades do câmbio automático, mas com preço e manutenção mais
baratos. Em alguns modelos, a troca de marchas também podem ser feitas
por meio de borboletas no volante.
No entanto, as transmissões automatizadas têm respostas mais lentas e
os “trancos” são mais sentidos. Para reduzir isso, a opção atual das
montadoras é a adoção da dupla embreagem, como no novo Ford EcoSport,
embora essa tecnologia gere um custo adicional. Com ela, o desempenho
fica mais parecido com o de um câmbio automático. Com tal recurso, é
possível aplicar os câmbios automatizados em carros mais potentes sem
perda do desempenho.
A dupla embreagem surgiu para veículos de competição, que necessitam de
troca de marchas mais rápida. Ela trabalha com dois conjuntos de disco
de fricção. Um deles agrega as marchas pares, o outro, as ímpares.
"Quando a primeira está engatada, a segunda já é colocada 'em espera' na
outra embreagem e, assim, sucessivamente", descreve Satkunas.
Conforme o motorista aumenta a pressão no acelerador, os engates e
desengates são feitos de forma muito mais rápida. Todo o movimento é
controlado eletronicamente. Com isso, a marcha não “arranha”, como
acontece em um carro normal e o consumo de combustível também é
reduzido.
Overdrive
Há ainda um recurso chamado overdrive, utilizado por poucos carros
atualmente. Nada mais é do que um “alongador” de marcha — o mecanismo
permite um ajuste “artificial” para o carro manter a velocidade em baixa
rotação, aproveitando melhor o combustível. “Isso era muito usado
antigamente, quando as transmissões automáticas tinham apenas 3
marchas”, explica Orikassa.
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