Tecnologia avançada encarece modelos híbridos e elétricos, e economia com combustível normalmente leva anos para compensar o preço mais alto
São Paulo – Apesar da economia com o combustível, a tecnologia de ponta usada para o desenvolvimento dos carros híbridos e dos carros elétricos
ainda encarece muito seu valor em relação aos veículos convencionais.
Para que a maior eficiência compense o gasto adicional na compra, o
proprietário precisa esperar anos ou quase um século, como no caso da BMW Série 7 híbrida, para que o investimento seja recuperado. A conclusão é que o investimento nos carros
sustentáveis pode valer a pena apenas por motivações ideológicas, mas a
maior parte dos modelos ainda está distante de trazer vantagens
econômicas.
A constatação pode ser feita a partir de dois estudos, um deles
nacional, da consultoria automotiva Jato Dynamics, realizado a pedido de
EXAME.com e outro americano, realizado pelo site de pesquisas
automotivas TrueCar.com. Ambos comparam modelos de carros híbridos e
elétricos com veículos similares, mas com motores convencionais, para
avaliar em quanto tempo o investimento retorna ao bolso do comprador.
Dos carros híbridos vendidos no Brasil, a Jato Dynamics fez a comparação dos modelos Ford Fusion e BMW Série 7. O único outro modelo híbrido já vendido no país é a Mercedes Classe S, que não divulga os dados sobre consumo de combustível, por isso não foi incluída no estudo.
Abaixo podem ser observados os resultados da comparação entre carros
híbridos e similares vendidos no Brasil, considerando o consumo de combustível
anual oficial anunciado pelas montadoras com o valor da gasolina a 2,58
reais por litro, válido para um nível de consumo de um carro usado em
grandes cidades. E para o cálculo do retorno do investimento em anos,
foi assumida uma média de rodagem de 15.000 quilômetros por ano.
Carro híbrido | Carro similar com motor convencional | Gasto adicional na compra (R$) | Economia de combustível por ano (R$) | Prazo de retorno do investimento (em anos) |
---|---|---|---|---|
BMW Série 7 Híbrido | BMW Série 7 motor movido à gasolina | 71.050 | 748,81 | 94,11 |
Ford Fusion Híbrido | Ford Fusion motor convencional | 49.400 | 1.851,78 | 26,8 |
Nesta segunda tabela foi reproduzido o estudo feito pelo site TrueCar,
que compara carros híbridos e elétricos com similares movidos a
gasolina vendidos nos Estados Unidos. Os valores e dados de consumo de
combustível foram usados de acordo com padrões americanos, sendo que foi
considerado o preço da gasolina a 1,41 dólar por litro. O estudo também
assume uma média de 15.000 quilômetros rodados por ano.
Carro híbrido ou elétrico | Carro similar com motor convencional | Gasto adicional na compra (US$) | Economia de combustível por ano (US$) | Prazo de retorno do investimento (em anos) |
---|---|---|---|---|
Lincoln MKZ Hybrid | Lincoln MKZ | 1.394,80 | 1.129 | 1,2 |
Toyota Prius | Toyota Camry | 1.440 | 794 | 1,8 |
Kia Optima Hybrid | Kia Optima | 2.451,00 | 444 | 5,5 |
Hyundai Sonata Hybrid | Hyundai Sonata | 2.554 | 444 | 5,8 |
Porsche Cayenne Hybrid | Porsche Cayenne | 3.926,00 | 470 | 8,4 |
Nissan Leaf | Nissan Versa | 9.781 | 1.119 | 8,7 |
Toyota Highlander Hybrid | Toyota Highlander | 8.877 | 938 | 9,5 |
Ford Escape Hybrid | Ford Escape | 7.156 | 623 | 11,5 |
Honda Civic Hybrid | Honda Civic | 5.324,00 | 440 | 12,1 |
Chevrolet Volt | Chevrolet Cruze Eco | 11.842 | 446 | 26,6 |
Pelos resultados mostrados em ambos os levantamentos é possível
perceber que apenas dois carros possibilitam um retorno do investimento
em um curto prazo de tempo, o Toyota Prius e o Lincoln MKZ Hybrid.
Todos os outros modelos só recompensam o maior gasto inicial após 5
anos de economia com combustível. Sendo que, em alguns casos, o retorno
só ocorre depois de décadas, como no caso do Chevrolet Volt, e nos dois carros vendidos no Brasil, a BMW Série 7 e o Ford Fusion.
Milad Kalume Neto, gerente de atendimento da Jato Dynamics e autor da
comparação, atribui os custos mais elevados dos carros híbridos e
elétricos principalmente ao processo de desenvolvimento tecnológico dos
modelos. “Existe a necessidade de introdução de novos elementos
destinados exclusivamente para os veículos híbridos. Por ser uma
tecnologia recente e ainda em fase de desenvolvimento é normal
verificarmos esses preços mais elevados”, explica.
De acordo com ele, o segundo fator gerador dos altos custos é o baixo
volume de vendas desses veículos, que dificulta uma economia de escala.
Kalume usa um exemplo hipotético para explicar o conceito: “Entre tantos
outros fatores, você teria que parar uma linha de produção que produz
100.000 painéis para produzir um outro painel, específico para um
híbrido ou elétrico, que venderá apenas 50 unidades. Os custos fixos da
produção do painel, que poderiam ser diluídos em 100.000 painéis,
deverão ser diluídos em 50 unidades apenas para os híbridos”,
esclarece.
O gerente da Jato Dynamics também ressalta que, apesar de as
comparações se aterem apenas aos gastos com combustível, o custo de
manutenção tende a ser maior nos carros verdes, bem como a depreciação ao longo dos anos.
É por isso que , diante das desvantagens financeiras, a maior parte dos
modelos híbridos e elétricos, por enquanto, compensa apenas do ponto de
vista conceitual. “Um veículo híbrido traz o sentimento de estar à
frente de seu tempo, por utilizar o que existe de mais moderno na
indústria automotiva. É um carro ecologicamente correto por emitir
menos gases tóxicos, fator muito importante nas atuais discussões que
surgem em todos os lugares do mundo nos mais diferentes setores. Por
fim, por ser um veículo mais caro, traz um sentimento de status que
outros veículos semelhantes não possuem”, afirma Kalume.
Alguns motoristas também acabam comprando um carro sustentável
simplesmente por não fazer muitas contas, ou por superestimar a real
economia de combustível dos carros mais eficientes. E ainda, alguns
consumidores apenas pensam que, como o preço do veículo é pago apenas
uma vez, logo o custo mais alto é esquecido, conforme avaliou Jesse
Toprak, vice-presidente de inteligência de mercado da TrueCar, em entrevista ao jornal "The New York Times".
Apesar de esses fatores contribuírem para a compra, especialistas
defendem que o fator financeiro ainda pesa muito na escolha dos
consumidores, e os carros ecológicos só devem ganhar espaço mais
significativo quando se tornarem mais acessíveis economicamente. "Tanto
no SIMEA (Simpósio Internacional de Engenharia Automotiva ) quanto no
Congresso da SAE (Sociedade de Engenheiros da Mobilidade) este tema foi
muito discutido. Os custos dos veículos híbridos e elétricos deverão ser
assemelhados aos dos mesmos veículos a gasolina para que exista um
potencial de compra maior”, comenta Milad Kalume.
Por fim, vale ainda ressaltar que o estudo da TrueCar considerou não
apenas carros elétricos e híbridos, mas também carros com motores super
eficientes. Mas, mesmo no caso destes outros veículos, o investimento
também demora a retornar. Um exemplo é o Ford Fiesta
SFE (Super Fuel Economy), cuja própria designação do motor, em tradução
livre, significa "super economia de combustível". O modelo é 613
dólares mais barato do que o Fiesta similar, com motor convencional, mas
a economia de combustível anual é de 23 dólares, portanto são 26,8 anos
até que o o preço mais alto compense a economia.
Híbridos no Brasil
Além da BMW Série 7, o Ford Fusion e a Mercedes Classe S, devem embarcar no mercado nacional em breve também os híbridos Honda Civic e Toyota Prius e o veículo 100% elétrico Nissan Leaf. Segundo a Toyota, o Prius deve ser lançado no Brasil ainda neste semestre. A Honda ainda não informou oficialmente quando fará o lançamento do Civic híbrido.
E segundo a Jato Dynamics, o Nissan Leaf já vem circulando por aqui. A
consultoria diz que 10 unidades do modelo, que já é produzido em grandes
volumes em outros mercados, já passaram por testes na cidade de São
Paulo.
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