Na semana passada, o Ministro das
Comunicações, Paulo Bernardo, anunciou a intenção do governo de
universalizar o acesso à banda larga. Atualmente, apenas 27% das
residências brasileiras têm acesso à internet. A intenção é chegar a 70%
até 2015 e posteriormente até próximo dos 100%.
A Internet para Todos, muito à semelhança do Luz para Todos, que
universalizou a energia elétrica no Brasil, deverá facultar o acesso à
banda larga para a maioria da população brasileira, naquele que poderá
vir a ser um dos maiores projetos de infraestrutura do mundo.
De acordo com as declarações do Ministro, a ideia será fornecer um serviço básico por um preço acessível.
Um estudo recente da consultoria McKinsey & Co. estima em US$ 17
bilhões o valor gerado no Brasil pelas tecnologias de busca existentes
na internet. Não é muito, quando comparado com o PIB brasileiro.
Acima de tudo, o que a internet veio trazer, mais do que negócio para
anunciantes e varejistas, foi uma janela para o mundo. Hoje é fácil
navegar por conteúdos de toda a espécie e manter a conectividade com
pessoas em todo o mundo. A questão que se coloca é recorrente.
Os últimos resultados do estudo Ideb (índice de desenvolvimento da
educação básica), divulgados na semana passada, vieram novamente colocar
este assunto em pauta.
A população escolar apresenta resultados deficitários nos vários
graus de ensino. A consequência é conhecida: uma taxa de 28% de
analfabetismo funcional.
A propósito, uma Comissão Especial da Câmara Federal aprovou um
projeto para elevar o investimento em educação para 10% do PIB nos
próximos 10 anos.
Atualmente o Brasil já investe 5,1% do PIB em educação, um valor superior à media dos países da OCDE, que é de 4,4%.
A China, por exemplo, investe menos de 4% e tem tido ótimos
resultados. No último teste Pisa da OCDE, a China (Xangai) obteve o
primeiro lugar, enquanto o Brasil se quedou pela 53ª posição. Ou seja, o
importante é a qualidade da educação, não a quantidade de investimento.
O acesso à internet não é um Santo Gral do desenvolvimento. Agora que
a sua utilização é massificada, começam a surgir os sintomas dos
excessos.
Um estudo recente no Reino Unido revela que 45% das crianças dizem que são mais felizes online do que com as suas vidas reais.
Outro estudo britânico mostra que 25% das pessoas sentem que as redes
sociais as tornam mais infelizes, ao colocarem grande ênfase na
comparação com a vida dos outros.
Outro estudo da Universidade de Harrisburg, nos Estados Unidos,
revelou que o uso continuado de mídias sociais eleva os níveis de
stress, prejudica os padrões de sono e degrada as relações pessoais.
Aliás, o Facebook já foi citado como contribuindo para um terço dos divórcios registrados.
Em suma, o projeto de universalização da internet parece meritório.
No entanto, a febre digital que vivemos hoje ameaça a nossa sociedade
com os malefícios resultantes dos exageros que a tecnologia
possibilitou.
Por outro lado, a aposta numa revolução educativa deve ser encarada como prioridade fundamental.
De nada serve ao Brasil ter conectividade integral dentro do cérebro
de silício que cobriu o mundo, se não estiver preparado para isso. Mais
do que "internet para todos" não será mais urgente "educação de
qualidade para todos"?
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