Equipamentos obrigatórios no
mercado brasileiro só a partir de 2014, freios ABS e airbag foram
desenvolvidos há muitas décadas. O que dizer do rádio, então? O que
poucos sabem é que muitas tecnologias que estão a bordo dos veículos
hoje em dia são bem antigos e ainda têm muito a evoluir.
O
Citroën DS e o Mercedes-Benz Classe S denunciam a idade de alguns
sistemas. O primeiro, por exemplo, possui suspensão auto-regulável desde
o seu lançamento, em meados da década de 1950. Na primeira remodelação
do carro francês, em 1967, vieram os faróis direcionais. Já o alemão
utiliza freios ABS desde 1978 e incorporou a bolsa inflável em 1980.
Solta o som
Os
primeiros aparelhos de som do início do século XX eram verdadeiros
armários, mas, conforme foram se aperfeiçoando, também se tornaram mais
discretos nas cabines dos automóveis. De meros receptores de ondas
curtas, médias e longas, passaram a contar com as frequências AM e,
posteriormente FM. Na década de 1950, já havia dispositivo nos EUA para
tocar discos dentro do carro.
Em
1979, a Sony lançou o primeiro sistema de som automotivo capaz de
reproduzir fitas no formato cassete. Era o modelo XK 20. Em 1984,
chegava o primeiro toca CD, seguido, dois anos de pois, pelo primeiro CD
Player automotivo com disqueteira para dez discos. Em 2002, era vez de
ser incorporado ao rádio um disco de memória, como nos computadores. O
formato USB chegou em 2006, seguido em 2007 pela conectividade via
Bluetooth. Longo caminho desde o pequeno rádio de 6V que equipava os
primeiros Volkswagen Fusca no Brasil, não?
Mas,
e o futuro? Marcos Uematsu, gerente de som automotivo da Sony do Brasil
explica: "esqueça o CD Player. Nossas pesquisas apontam que, cada vez
menos pessoas utilizam este formato". Ao invés disso, comece a imaginar o
som de seu carro como um centro de entretenimento, que vai agregar
desde música até TV, GPS e interação com a internet. O mundo virtual,
segundo Uematsu, é "uma tendência inevitável".
Pare agora!
ABS
não é sopa de letrinhas. Significa Anti-Lock Braking System ou sistema
antitravamento dos freios. Sua história remonta ao início da era da
aviação a jato, na década de 1950, já que foram os aviões os primeiros a
utilizá-lo. Ao contrário do que muitos pensam, o ABS não serve para
melhorar a força de frenagem do carro. Ele garante uma frenagem segura
em qualquer superfície, seja lisa ou aderente.
Para
isso, o ABS utiliza sensores nas rodas que identificam quando os pneus
travam. Aliviando e retomando a força aplicada aos freios de forma
repetida, o sistema evita que o carro derrape durante uma frenagem.
Imagine
que, em 1978, com três sensores, o primeiro equipamento de ABS adaptado
pela Bosch em um Mercedes-Benz Classe S pesava mais de 6 kg. Hoje, não
passa de 1,5 kg e funciona com o mesmo princípio. O segredo está na
informatização intensiva do sistema, que está integrado também aos
controles de tração e estabilidade.
Por
exemplo, se você acelerar demais em uma curva e sair de lado, o
controle de estabilidade aciona o ABS para travar as rodas de um lado do
carro e o colocar novamente na trajetória. O controle de tração faz a
mesma coisa: numa situação de baixa aderência em que uma roda de tração
está girando mais que a outra, o ABS é utilizado para equalizar a
rotação das rodas.
E
o futuro do ABS continua neste caminho. "Cada vez mais, o sistema terá
mais sensores e dará respostas mais rápidas à central eletrônica do
carro para garantir sempre uma condução segura", completa Glauci
Toniato, gerente de marketing de produto da Mercedes-Benz.
Santa bolsa protetora
Você
sabia que o airbag não era permitido nos EUA? Pois é, acontece que em
muitos estados daquele país, o cinto de segurança não era obrigatório e a
falta desse item combinado às bolsas infláveis de ar fazia uma
combinação fatal. Mas isso foi há muito tempo.
A
história desse sistema também tem origem no Classe S, em 1980. Foi nele
que o airbag apareceu pela primeira vez em um carro de produção.
Detectando um impacto, o sensor dispara um sinal para central eletrônica
que comanda a abertura das bolsas de ar, que aliviam o solavanco da
batida.
O
airbag evoluiu; está menor e mais eficiente, pois conta com sistemas
detecção do peso do ocupante e pode abrir em fases para diminuir o
impacto. Antes restrito ao compartimento do volante, o airbag pode
cobrir virtualmente todo o carro. Ele está nos bancos, janelas, colunas e
até sob o painel para proteger os joelhos do motorista. "Hoje em dia,
os carros já são desenvolvidos pensando no airbag, pois está inserido na
estrutura do veículo", acrescenta Glauci. "Os sensores contam mais com a
desaceleração do carro que com o impacto em si para tornar o tempo de
resposta mais curto", completa.
O
equipamento será cada vez menor e com mais sensores para se adaptar
tanto ao impacto como às necessidades do ocupante, que variam de acordo
com o peso e a altura.
E fez-se a luz...
Os
farois começaram a vida como lanternas a gás, adaptadas às carruagens.
Conforme a elétrica nos automóveis se desenvolveu ao longo da década de
1920, os faróis se eletrificaram. Para aumentar a longevidade das
lâmpadas, foi inventado o sistema de lâmpada selada, preenchido com gás
halógeno. Isso gerou nos EUA um desvio: é comum ver carros globais das
décadas de 1970 e 1980 com faróis diferentes no país norteamericano em
relação ao resto do mundo. Isso porque o governo dos EUA achava perigoso
o uso do gás nas lâmpadas e exigia que todo o bloco dos faróis fosse
selado.
O
farol direcional existe desde a década de 1930, porém, o primeiro carro
a utilizá-lo em larga escala foi o Citroën DS, na década de 1950. Até
hoje, funciona com o mesmo princípio, com poucas variações. Uma delas é o
do Fiat Bravo, que não é direcional, mas aciona os faróis de neblina em
curvas para aumentar a visibilidade.
Para
o futuro pode-se esperar do farol que ele se torne tão inteligente
quanto o carro. Hoje, pode se ligar e desligar sozinho por meio de
sensores. Modelos como o novo BMW Série 3 vão além: seus sensores captam
o movimento ao redor do carro e são capazes de modular a potência e o
uso do farol alto na estrada de forma a não ofuscar a vista de quem vem
na mão contrária.
Essas
tecnologias tendem a se tornar mais presentes no futuro, conforme a
produção em larga escala. É o exemplo do Day Time Running Lights, ou
farois diurnos, que saem de fábrica em veículos fabricados na Europa. O
Brasil ainda não possui regulamentação para o equipamento, que tem como
vantagem aumentar a visibilidade do carro no trânsito.
O carro de três rodas
Desde
a década de 1950, os carros de competição já contavam com amortecedores
ajustáveis. Inicialmente eram de rosca, que comprimia as molas para
deixar o veículo mais firme. O Citroën DS possuía um sistema
hidropneumático em que o motorista podia escolher a altura do carro. Um
atributo muito propagandeado na época era que o modelo francês podia
andar com apenas três rodas, já o sistema se encarregava de regular a
pressão nos amortecedores.
Os
sistemas ajustáveis mais comuns hoje em dia são do tipo hidráulico, em
que o motorista pode alterar o comportamento do sistema de suspensão por
meio de um botão, deixando o carro mais firme e baixo, confortável, ou
alto para ultrapassar obstáculos. A Land Rover usa esse princípio com um
sistema pneumático no Discovery. Na posição mais alta, o carro pode
ultrapassar terreno alagados com até 80 cm de água.
Modelos
da Ferrari já estão à frente, com amortecedores com partículas
polarizadas junto ao fluído hidráulico. Com uma carga elétrica, o carro
muda instantaneamente de comportamento, podendo, inclusive, se adaptar
sozinho ao terreno, como o antigo modelo F1 da Williams da década de
1990 fazia com sua suspensão ativa. O sistema eletromagnético, por sua
vez, substitui o amortecedor hidráulico e a mola por um conjunto que
utiliza os princípios do magnetismo para fazer o papel da suspensão.
E o "sistema carro", como fica?
Os
sistemas automotivos evoluíram muito, mas não estariam aqui hoje se não
fosse pelo automóvel. De uma carruagem sem cavalos para uma estrutura
metálica cheia de tecnologia embarcada, o automóvel enfrenta um
paradigma para o futuro: como será o carro do amanhã? Elétrico,
compartilhado, guiando-se sozinho?
Paulo
Roberto Garbossa, consultor automotivo da ADK Automotive, diz: "hoje os
carros se diferenciam pela tecnologia embarcada, mesmo que os donos não
usem nem 20% do que o carro tem". Mas, segundo o especialista, as
tecnologias que se mostrarem realmente viáveis vão se baratear e entrar
em produção de larga escala. "Foi o que aconteceu com o airbag e com o
ABS", lembra.
Quanto
ao carro autônomo e ao sistema de compartilhamento de automóveis,
Garbossa é mais cético: "O carro te dá liberdade e o ser humano a quer.
Com o compartilhamento de veículos, ele pode não estar disponível na
hora em que você quiser".
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