Depois de tanto discurso sobre o
estímulo às ideias das equipes, sobre o desastre motivacional que é ter
uma ideia rejeitada, a cruel realidade: você terá que dizer não a
algumas ideias.
Ideias podem não estar adequadas ao momento ou à cultura da empresa,
podem ter custo muito alto de implementação ou já ter sido testadas e
reprovadas. E podem ser ruins mesmo.
É claro que você não vai contribuir para a implementação de uma má
ideia. Mas também não quer se tornar o vilão do programa de ideias, nem
ser acusado de pôr fogo por um lado e abafar pelo outro, não é?
Mas nem tudo está perdido. Há formas de, sem desmotivar, dar retorno à
pessoa ou equipe que deu a ideia e elas vão muito além do “agradeço sua
contribuição”. Vou enumerá-las abaixo, mas prefiro começar com o que
você não deve fazer:
Jamais esqueça, abandone ou adie a resposta. Se você acha que a pessoa
ou equipe que deu a ideia também vai esquecê-la, pode perder as
esperanças. As pessoas se apegam às suas ideias. Mesmo quando as
sugestões não envolvem prêmios, elas mexem com a autoestima. Do ponto de
vista psicológico, o esquecimento é pior do que um não.
Aja preventivamente – Deixe bem claro quais os tipos
de ideias que a empresa quer. Algumas pessoas temem podar o processo
criativo ao determinar limites logo no início. Mesmo o brainstorming,
técnica que propositalmente adia o julgamento, só é completo depois que
as ideias passam por um crivo. O crivo inicial é de quem faz a sugestão,
não do líder. E lembre-se: ao dar foco para as ideias, você já está
estimulando a mente de quem vai contribuir com essas sugestões.
Não rejeite uma ideia porque não a entendeu – Boas
ideias podem ser desperdiçadas se não forem bem explicadas. Não tente
adivinhar qual é a ideia, pois será muito difícil. Peça esclarecimentos
ou peça o a quem a propôs, reescrevê-la. Cuidado com os “gênios
incompreendidos”. As pessoas tendem a considerar as próprias ideias tão
boas, que nem precisam de explicação. E depois, poderão vir a se queixar
para a empresa inteira que foram injustiçados.
Se a proposta demandar mais criatividade, avise. Sugestões com alto
custo de implementação, que necessitarão de negociações específicas, ou
ideias que podem ser aprimoradas merecem uma segunda chance. Antes de
rejeitar a proposição, aponte seus aspectos negativos e peça a quem teve
a ideia para tentar aprimorá-la. É possível que ele desista (ponto para
você, que não posou de carrasco) e é possível que traga a solução (mil
pontos para você que ajudou a ressuscitar uma ideia!)
Desvincule a ideia da pessoa – Não avalie uma pessoa
pela ideia que teve, nem positivamente. Por exemplo, não chame a pessoa
de gênio, mas diga que a ideia é genial. Este vínculo dificulta o
feedback quando a ideia é negativa e raramente é justo, pois as ideias
sempre têm contribuições de outros, mesmo que involuntárias.
Transforme você a ideia – Quem conhece bem o processo
criativo sabe que sua essência tem muito de “nada se perde, tudo se
transforma”. Se você abandonar o espírito avaliador e adotar a postura
de validador – aquele que se esforça para fazer valer a ideia –, poderá
contribuir para tornar válida uma ideia indevida. Aliás, muitas ideias
famosas surgiram assim. Afinal, o papel de um líder é estimular a
criatividade de seus colaboradores, mas nada o impede de ser criativo
também!
Por Gisela Kassoy, consultora
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