Em quatro anos de estudos interdisciplinares, pesquisa contribuiu para a compreensão da relação entre os estrangeiros e as transformações ocorridas desde o século 19
São Paulo - Ao longo de quatro anos, um grupo interdisciplinar de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP)
realizou um amplo estudo com o objetivo de compreender, a partir da
presença estrangeira em São Paulo, os processos de transformação física,
demográfica, econômica, social e cultural ocorridos na cidade a partir
do século 19.
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O Projeto Temático “São Paulo: os estrangeiros e a construção das
cidades”, coordenado pela professora Ana Lucia Duarte Lanna, da
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, teve a participação
de pesquisadores da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), da
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e do Museu
Paulista da USP.
Segundo Lanna, as pesquisas procuram abordar a presença estrangeira na
capital paulista a partir de sua diversidade de formas – imigrantes,
viajantes, visitantes, residentes, nativos ou “eternos estrangeiros” –
na heterogeneidade dos modos de viver, descrever e simbolizar o outro.
“Evitamos reduzir a multiplicidade de experiências que constitui o
estrangeiro como categoria sociocultural à figura clássica do imigrante,
que é normalmente associada à explicação dos processos de modernização
das grandes cidades americanas”, disse Lanna.
“Partimos da figura do estrangeiro, mais ampla, com maior
heterogeneidade de inserções e experiências, para tentar compreender
como a cidade se transforma a partir dessa multiplicidade de encontros
possíveis”, disse.
O projeto considerou os estrangeiros também em relação ao universo do
trabalho. Os temas de investigação foram articulados em duas linhas de
pesquisa: “A transformação dos bairros centrais, a construção de
territórios, redes e identidades” e “A transformação dos campos
profissionais: práticas, redes, atores e circulação de saberes”.
“As pesquisas incluíram desde estudos sobre trabalhadores italianos,
judeus e japoneses até a vinda de intelectuais, artistas, arquitetos e
urbanistas. Essa ampla gama de tipos profissionais e nacionalidades, com
inserções e tempos de permanência muito variados, permitiu
problematizar melhor essa relação que é muito importante para a cidade
de São Paulo”, disse Lanna.
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As reflexões realizadas sobre os vários grupos de estrangeiros e os
aspectos relacionados aos trabalhos foram associadas a outros recortes,
abordando categorias como bairro, território e sociabilidade.
O projeto também teve a preocupação de salvaguardar parte dos acervos
com os quais os pesquisadores trabalharam, que estavam sob a guarda da
FAU e do Museu Paulista. Uma das principais propostas do projeto
consistiu em elaborar um banco de dados que pudesse formar uma
plataforma disponível para outros estudos futuros, com as mais variadas
abordagens.
“Todo o material – incluindo projetos arquitetônicos e decorativos,
plantas, fotografias e mais de mil mapas da cidade de São Paulo, das
coleções de arquitetos e fotógrafos estrangeiros – foi tratado e
selecionado. Boa parte foi digitalizado”, disse Lanna.
Para que a consulta do banco de dados fosse mais ágil, seu conteúdo foi
adaptado e disponibilizado no site http://estrangeiros.fau.usp.br. “O
banco de dados continuará sendo alimentado com outras informações ou
pesquisas que surjam como desdobramento do Projeto Temático”, disse.
Sentido de ser estrangeiro
O banco de dados disponibiliza também referências a artigos escritos
por estrangeiros ou que tratam da presença estrangeira no país,
publicados na Revista de Cultura Anhembi, na Revista do Arquivo
Municipal e na Revista Sociologia. Além de toda a documentação, várias
das pesquisas realizadas no Projeto Temático utilizaram entrevistas.
O site apresenta também uma seção focada em bairros que congregam
múltiplos personagens estrangeiros e foram os locais privilegiados de
pesquisa. Os bairros do Bom Retiro e Bexiga são intensamente explorados.
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“No Temático, nos preocupamos em tentar compreender a construção dos
territórios da cidade mais marcados pela presença de estrangeiros. A
análise dessas áreas nos permitiu compreender como a presença
estrangeira contribuiu para a produção do espaço urbano paulistano”,
afirmou Lanna.
Outro produto do Projeto Temático, além do banco de dados e do site,
foi o livro São Paulo, os estrangeiros e a construção da(s) cidade(s),
publicado pela editora Alameda, com apoio da Fapesp na modalidade
Auxílio à Pesquisa – Publicações.
Além de Lanna, participaram da organização da obra Fernanda Arêas
Peixoto, professora do Departamento de Antropologia da FFLCH-USP, José
Tavares Correia de Lira e Maria Ruth Amaral de Sampaio, ambos
professores da FAU-USP.
A obra foi resultado de um dos seminários internacionais realizados no
âmbito do projeto e teve a participação de todos os pesquisadores
envolvidos com ele, além de vários autores convidados.
“O livro apresenta a discussão sobre São Paulo, mas não se restringe a
ela, porque alguns dos convidados trabalhavam com a reflexão sobre a
relação entre os estrangeiros e as cidades em outros contextos”, disse
Lanna.
Um segundo livro, que deverá ser lançado ainda em julho, abordará a
relação entre o estrangeiro e a cidade com foco na questão do
deslocamento.
“Os estudos que serão apresentados nesse livro tiveram o objetivo de
compreender o sentido de ser estrangeiro e, para isso, é importante
avaliar como ele veio ao Brasil, como escolheu o país e a relação
estabelecida entre o lugar de origem e o destino”, disse Lanna.
São Paulo, os estrangeiros e a construção das cidades
Organizadores: Ana Lucia Duarte Lanna, Fernanda Arêas Peixoto, José Tavares Correia de Lira e Maria Ruth Amaral de Sampaio.
Lançamento: 2012
Preço: R$ 78
Páginas: 690
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