Igreja e cinema abandonados há 30 anos, na Vila Morro Grande, podem ser reformados. Veja o vídeo!
Exatamente às 11h uma sequência de estrondos ecoavam na Vila Morro
Grande, na Zona Norte da capital, e alcançavam os bairros vizinhos como a
Vila Cruz das Almas onde nasceu o advogado Nivaldo Godoy, de 61 anos. O
som da explosão das rochas da antiga Pedreira Morro Grande era esperado
por ele todas as manhãs e não assustava mais. “Já estávamos acostumados
porque acontecia no mesmo horário. À tarde, começava às 17h”, relembra.
Para Godoy, o barulho é a recordação de um tempo feliz. Das missas
aos domingos na igreja, dedicada à Santa Clara, e de como conseguia
avistar o Pico do Jaraguá pela janela atrás do altar enquanto ouvia o
sermão do padre. No cinema assistiu filmes de romance, comédia e
faroeste e realizou a sua festa de formatura do ginásio. Para o
advogado, é lamentável ver o abandono das edificações. “Há mais de 30
anos elas estão largadas. Dá uma tristeza. Foi um lugar que teve muita
vida”, queixa-se.
O antigo morador do bairro, Arquimedes Matias Cardoso, 49 anos,
estudou na escola que ficava no mesmo prédio do cinema e onde a banda da
cidade se apresentava. “Os lugares eram concorridos. Eu ficava
esperando abrir as portas. Quem teve uma infância no Morro Grande, nesse
tempo áureo da Vila, é impossível não ter sido superfeliz”, recorda.
A Rua Raimundo Cunha Matos é o endereço onde foram construídas a
antiga Pedreira Morro Grande, a Tecelagem Santo Eduardo Tecidos de
Algodão, o cinema, a igreja, o cafezal e as casas para os funcionários.
Atualmente funcionam metalúrgicas nos galpões da tecelagem, o cafezal é
um terreno baldio e a antiga pedreira continua abandonada. As
construções estão pichadas e deterioradas. No local, há apenas nove
casas que ainda mantêm a mesma aparência de quando foram erguidas e
pouco mais de dez moradores. Não fosse pelo movimento dos
micro-ônibus, que usam o endereço como ponto final, a rua seria
praticamente deserta.
O Sindicato das Cooperativas de Reciclagem do Estado de São
Paulo trabalha, desde 2005, num projeto de revitalização para a região
do Morro Grande. O documento contempla a criação de uma cooperativa de
reciclagem nos antigos armazéns da tecelagem e de uma horta no terreno
que foi o cafezal. Além disso, transforma o prédio do cinema em uma casa
de cultura e reforma a igreja para devolver o prédio à comunidade. Na
semana passada o sindicato apresentou um ofício ao vereador Claudinho
de Souza (PSDB). “O nosso desejo é gerar emprego em uma área que é
nobre e tem infraestrutura, além de capacitar a comunidade para
trabalhar na região. Temos de analisar o que pode ser reaproveitado e
tombado”, afirma o diretor José Carlos Lima.
Está em tramitação na Câmara um projeto de lei para criar, em
parceria com a Secretaria do Verde e Meio Ambiente, um parque municipal
na área da antiga pedreira. Em nota, a pasta informou que a Prefeitura
não detém a posse da área e, portanto, o local ainda não é um local
público. Por esse motivo a criação do parque está emperrada. Até o
final desta edição a Pedreira Anhanguera não respondeu os
questionamentos do DIÁRIO.
Inauguração: 1962/1963
Localização: Vila Morro Grande, Freguesia do Ó, Zona Norte da capital
1943
O empresário Elysio Teixeira Leite funda a Pedreira Morro Grande Ltda., na vila Morro Grande, no bairro da Freguesia do Ó.
1949
O genro do empresário, Thomaz Melo Cruz, assume o controle da empresa após a morte do sogro.
1954
É fundada a Pedreira Anhanguera S.A.
1960
Thomaz
constrói a igreja e o cinema para os seus funcionários usufruirem nos
dias de folga. Os colaboradores também montaram uma banda, que durou
mais de 10 anos.
1970
Moradores contam que nessa época, com a desativação da antiga pedreira, os prédios foram deixados de lado.
1981
Forma-se a Pedreira Anhanguera S.A Empresa de Mineração devido à fusão de empresas.
2005
O Sindicato das Cooperativas de Reciclagem do Estado de São Paulo inicia um projeto para revitalizar a igreja e o cinema.
2008
O vereador Claudinho de Souza (PSDB) cria o projeto de Lei 301/08 para a implantação de um parque municipal na antiga pedreira.
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