Nesse contexto, foi identificada também a dificuldade para captar
receitas dispersas num mercado extremamente fragmentado e dirigir esses
recursos para uma alternativa que se oferece apenas numa plataforma
digital móvel.
O núcleo de seu ponto de vista é a aparente impossibilidade de obter
com os meios digitais a mesma receita que é produzida pelos meios
tradicionais, como os jornais impressos. No entanto, sabe-se que os
meios impressos, embora ainda produzam uma receita maior, estão em claro
declínio.
Alguns pesquisadores chegam a declarar que em menos de uma década o
número de leitores de jornais e revistas impressos vai cair bruscamente a
um patamar tão baixo que o setor poderá entrar em colapso. Portanto,
outros se surpreendem que uma iniciativa aparentemente inovadora, como
um jornal exclusivo para tabletes eletrônicos, tenha tido uma vida tão
curta.
Vida efêmera
No caso do Daily de Murdoch, seria conveniente acrescentar a essas
análises o fator negativo Murdoch. Esse é um nome que, definitivamente,
não combina com inovação. E uma das características mais associadas aos
leitores da nova geração é certa seletividade quanto ao valor moral das
informações, uma vez que eles podem opinar imediatamente sobre qualquer
notícia.
Nesse cenário, que vem sendo transformado pelos novos meios, as
marcas dependiam exclusivamente da ação da mídia de massa. Essa
hegemonia era tão absoluta que conseguia abrigar até mesmo as ações
contraculturais.
Sabe-se, por exemplo, que o efeito de um anúncio na televisão é
muito menor hoje do que era há apenas três anos, porque um número
crescente de telespectadores divide sua atenção entre a tela da TV e o
tablete ou smartphone, aproveitando para usar esses aparelhos justamente
durante o intervalo comercial.
Então, diria alguém, seria de supor que um jornal criado
exclusivamente para tabletes digitais tivesse todas as condições para um
futuro promissor? Não necessariamente, como demonstra a curta
trajetória do Daily de Murdoch.
O fim das mediações
Primeiro, é preciso considerar que, para o papel ou para meios
digitais, a produção e organização de notícias pelo processo tradicional
representam um custo muito elevado.
Segundo, é preciso questionar se o público buscado pela iniciativa
do empresário australiano se enquadra no perfil das audiências típicas
de seus jornais e suas emissoras de televisão, que representam o pior
que o jornalismo pode oferecer em termos de qualidade ética.
Por último, mas não menos importante, os debates sobre o futuro do
jornalismo não têm enfrentado a questão central do fim das mediações
centralizadas, como as conhecemos desde que a imprensa se tornou uma
espécie de avalista dos valores comuns nas sociedades democráticas.
O surgimento e expansão das mídias digitais tende a substituir os
processos midiáticos por sistemas de relacionamento, o que implica
mudança essencial na criação de cultura.
Estamos envoltos no maior fenômeno de mudança cultural vivido pela
humanidade desde a invenção da roda. Murdochs não têm a menor
importância.
Por Luciano Martins Costa, publicado originalmente no Observatório da Imprensa.
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