Comer na rua é uma realidade para 50% dos brasileiros das classes C e D no Brasil. Com uma estimativa de gastos de R$ 9 bilhões, empresas ainda estão cegas para criar iniciativas
“Ver para enxergar”
O quase desaparecimento das empresas também gera confusão e muitos
consumidores se atrapalham na hora de separar marcas e categorias de
produtos. Um das causas do conflito se deve à inexistência de exposição
de itens ou ações nos pontos de venda. A invisibilidade é a primeira
“verdade” em um ranking de 10 definições feitas pelo estudo do que o consumidor espera do comércio de rua e, por consequência, o que as marcas poderiam fazer para melhor ser relacionar com ele.
Usando o termo verdade como sinônimo de valorização dos consumidores em
relação às marcas, a pesquisa confirmou a percepção anterior à
apresentação dos resultados. “A rua é um lugar repleto de oportunidades,
tanto do ponto de vista do posicionamento das marcas quanto das cifras
movimentadas pelo mercado de alimentação. O grande problema é que as
empresas veem, mas não enxergam e estamos falando de 63 milhões de
pessoas economicamente ativas de duas classes sociais emergentes comendo
fora de casa”, avalia Aloísio Pinto, Vice-Presidente de Planejamento da
WMcCann e um dos responsáveis pela pesquisa no país, em entrevista ao
Mundo do Marketing.
A cegueira em relação à praticidade na hora de comer e à fidelização
que pode ser gerada entre a marca e o cliente também são comuns na visão
dos consumidores. Juntas, elas formam as verdades “Mover-se é preciso,
comer é acessório” e “Intimidade gera confiança”. “Mesmo sabendo que
todo mundo tem pressa e o convívio quase diário aproxima comprador e
vendedor não há muitas ações para criar vínculo. A intimidade gera
confiança no produto consumido e propicia a fidelização dos clientes”,
afirma o Vice-Presidente.
O gosto da comida de rua
Mais do que ser saudável, a comida de rua precisa ser prática e agradar
o paladar. No Brasil, 78% dos pontos de venda são quiosques, de acordo
com a pesquisa, e alternativas como os combos são vistas como incentivo à
compra, o que gera a quarta verdade “A oferta deve ser simples e
conveniente”. “A compra casada ajuda a ‘empurrar’ a bebida e dá uma
sensação de bom negócio para o consumidor e mais lucro ao comerciante”,
avalia Pinto.
A falta de alimentos saudáveis não é um problema e “O que os olhos não
veem o estômago não sente” é a quinta verdade. Segundo o estudo da
WMcCann, tanto no Rio de Janeiro como em zonas periféricas de São Paulo,
as condições dos locais estão em segundo plano. A cobrança é maior
dentro de casa em relação a alimentos saudáveis e higiene.
Outro ponto é que o consumidor acredita no mito “A rua tem um tempero
diferente”. A sexta verdade representa a rua como um universo
gastronômico próprio, com sabores que não se encontram em casa. “Uma
hipótese é que essa valorização ajuda a diminuir a culpa de trocar uma
alimentação nutritiva por algo mais gostoso, o que seria menos perdoável
dentro de casa”, afirma o executivo.
A culpa, no entanto, vem como sétima verdade paradoxal, intitulada de
“Culpa (in) consciente”. Apesar da preocupação com a saúde existir no
discurso dos entrevistados, quando estimulada, ela parece não fazer
parte do processo de escolha. “No Rio, a pressa é citada como motivo
para consumirem salgados ou alimentos pouco nutritivos. Já em São Paulo,
a preocupação parece não existir. Muitos afirmaram que não acreditavam
que o que estava sendo consumido não fosse saudável”.
Sentir-se bem é agora
O consumo de alimentos pouco saudáveis, de acordo com a pesquisa, faz
com que os brasileiros tentem equilibrar a refeição com bebidas naturais
ou diet. A oitava verdade, “Lei da compensação: uma balança
‘nutritiva’”, serve como desculpa e grande parte dos consumidores faz
confusão de componentes das fórmulas dos produtos, gerando a verdade
“Excesso de informação, pouca compreensão”. “Há muita referência, mas
pouca compreensão sobre o que faz bem e o que faz mal à saúde”, diz
Pinto.
Por outro lado, ainda que haja culpabilidade por se alimentar na rua,
para os brasileiros das classes C e D, o “Bem estar é sentir-se bem
agora”. A 10ª verdade traz o conceito de que felicidade e satisfação não
precisam, necessariamente, ter relação com alimentos saudáveis e
nutritivos. Questionados sobre marcas que trazem bem estar e saúde,
muitos incluíram McDonald’s, Coca-Cola, cervejas e até certas marcas de
cachaça como exemplos.
O conceito de comida de rua tem relação direta com felicidade e apesar
de grandes marcas aparecerem como referências, ações com esses
brasileiros são inconsistentes. “Comida saudável é que dá sossego e
prazer instantâneo. A lógica da rua é outra e esse setor vai continuar
crescendo. O brasileiro tem saído mais, seja por lazer ou a trabalho. A
oportunidade está aqui e agora e o estudo serve para que as marcas
acordem e não fiquem cegas perante um mercado que já apresenta números
tão significativos”, indica o executivo da WMcCann.
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