Gigante norte-americana pretende chegar ao mercado nacional em 1º de setembro e deve causar frisson no setor de livros digitais. Concorrentes precisarão se adaptar
A chegada da Amazon ao Brasil, prevista para o dia 1º de setembro,
promete ser apenas a ponta do iceberg na movimentação do e-commerce no
país. Focada no primeiro momento no setor de livros, com destaque para
os e-books, a marca terá como concorrentes diretos as livrarias Saraiva e
Cultura e os grupos B2W, que inclui Submarino, Americanas.com e
Shoptime, e Nova Pontocom, com Ponto Frio, Casas Bahia e Extra. As metas
da norte-americana são ousadas: até o fim de 2012, a Amazon espera
vender 1,1 milhão de produtos e, em 2013, chegar a 4,8 milhões.
Aprendizado e crescimento
As dificuldades das marcas brasileiras em concorrer com a Amazon em um
primeiro momento podem se transformar em aprendizado e adaptação a médio
prazo. O principal passo é a atualização nos sistemas de inteligência,
banco de dados, sistema de estruturas e até mesmo novas contratações.
“Isso vai imprimir nos players brasileiros conhecimento em tecnologia,
estrutura, infraestrutura, pessoal, cultura organizacional e desenho do
fluxo de processos”, indica Carvalho.
Outro ponto positivo é que a entrada de uma empresa de grande porte
representa aumento de concorrência e, por consequência, disputa por
melhores preços. A união dos fatores reflete nas escolhas dos
consumidores do e-commerce, que passaram de 9,5 milhões em 2007 para
31,9 milhões no último ano, número que representa 53,7 milhões de
pedidos pela internet.
Para a disputa acirrada não ficar só no papel, no entanto, um obstáculo
da Amazon é na logística e distribuição dos produtos. Apesar de
gigante, a companhia encontra dificuldades em reunir conteúdo para a
venda de e-books. Com o objetivo de fechar acordos com 100 editoras até
abril deste ano, em março, a Amazon havia assinado apenas 10 contratos,
um provável reflexo da força dos concorrentes nacionais.
A plataforma para leitura dos livros digitais também é outro desafio.
Para ter acesso às obras, é necessária a aquisição do leitor Kindle,
aparelho que a Amazon quer vender na faixa de R$ 149,00 a R$ 199,00 no
país. O preço seria tentador, já que produtos de outras marcas no
Brasil, como o Alfa, da Positivo, e o Cool-er, importado pela primeira
livraria virtual do país, a Gato Sabido, não saem por menos de R$
600,00. Especialistas apontam, no entanto, que para ter um preço abaixo
dos aparelhos disponíveis hoje no mercado brasileiro, a Amazon teria de
fabricar o Kindle aqui ou importá-lo com isenção de impostos.
Esbarrando na lei
O momento considerado economicamente positivo para a inserção de uma
empresa de grande porte como a Amazon, em um mercado emergente como o do
Brasil, não impede que a marca encontre dificuldades com a legislação
brasileira. O grande desafio é o despreparo do país, que não possui leis
específicas para a internet e para o comércio eletrônico.
Os conteúdos digitais não têm tributação específica e a interpretação é
vaga quanto ao item comprado ser serviço ou mercadoria. “Essa é uma
barreira de entrada da Amazon e a empresa precisa olhar com atenção na
hora de chegar a países assim. Ela precisará fazer um investimento e não
sabe se calcula os ganhos, ou melhor, se tem lucro ou prejuízo, porque
também desconhece quanto terá que pagar de imposto”, explica Mauricio
Salvador, Sócio Diretor da GS&Virtual, braço da GS&MD, e
especialista em Comércio Eletrônico e Cross Channel, em entrevista ao
portal.
Na opinião de Salvador, a entrada da empresa no mercado brasileiro pode
chamar a atenção do poder público e ser o empurrão necessário para
discutir a criação de legislações tributárias no mundo digital. Com a
definição de parâmetros, grupos internacionais poderiam definitivamente
mirar no país sem receio de investir. “Temos três problemas graves: a
burocracia, a corrupção e a tributação. Quando qualquer investidor
estrangeiro olha para o Brasil e vê essas barreiras titubeiam. Temos
confusão e deslealdade e a entrada de um grande player mostra ao mundo
inteiro o que está acontecendo. A torcida é para que dê certo e que
novos empreendimentos sejam abertos”, diz.
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