Incorporadoras de menor porte aprenderam que é preciso ter foco de atuação para sobreviver no cenário de concorrência acirrada
SÃO PAULO - A corrida desenfreada de construtoras e incorporadoras
rumo à Bovespa em 2006 e 2007 deixou como legado uma nova geração de
companhias que aprenderam com os erros das veteranas e assumiram certa
aversão à abertura de capital.
Integrantes de um setor bastante fragmentado, formado em grande parte
por empresas familiares, construtoras e incorporadoras de menor porte
aprenderam que é preciso ter foco de atuação para sobreviver no cenário
de concorrência acirrada.
"Quem cresceu demais perdeu a mão... Não acredito em crescimento
indeterminado", disse o presidente da Vitacon, construtora e
incorporadora com atuação apenas em São Paulo criada há cerca de três
anos, Alexandre Lafer Frankel.
Frankel citou PDG Realty e Cyrela Brazil Realty como exemplos de "aprendizado com erros de empresas de capital aberto".
Na onda da euforia vivida pelo mercado imobiliário entre 2008 e 2010,
as maiores companhias do setor diversificaram o mix de produtos,
ingressaram em novas regiões e começaram a trabalhar com parceiros.
Hoje, após terem seus balanços pressionados por tamanha
diversificação, essas mesmas empresas passaram a abandonar regiões com
baixa escala, focar a produção em determinado segmento e descartar a
terceirização.
"Atuar em determinado nicho é o diferencial, com profissionalização",
acrescentou Frankel. "Não adianta querer fazer tudo porque não dá
certo."
A especialização, de fato, parece ser a alavanca -e o mantra- das empresas pequenas e médias no setor.
Formada a partir do banco Modal, mas hoje totalmente independente da
instituição, a MDL Realty deve fechar este ano com R$ 450 milhões em
lançamentos, com operações concentradas em São Paulo e Rio de Janeiro.
"A escala nacional e o aumento do volume (de produção) tiram o
brilhantismo do processo", disse o diretor da MDL Realty Ricardo
Freitas. "Esse é o problema das empresas grandes, que não estão
conseguindo entregar os 'guidances' prometidos, porque os custos
aumentaram muito."
O cenário traçado aponta para a tendência de um mercado formado muito mais por grandes empresas regionais do que nacionais.
"Neste setor, para ganhar dinheiro, não é preciso necessariamente
crescer muito, mas melhorar a eficiência operacional, com foco no que se
sabe fazer... Estar em todas regiões do Brasil faz perder dinheiro e
escala", disse o presidente da Mudar, construtora voltada ao segmento
econômico em São Paulo e Rio de Janeiro, Augusto Martinez de Almeida.
Ao notarem que o preço de gerenciar custos, parceiros e obras, somado
à perda de escala, era alto demais, boa parte das grandes companhias
hoje listadas na Bovespa vêm anunciando a saída de determinadas regiões e
o fim de parcerias. Esse recuo, entretanto, tem saído caro até que
todas as contas sejam ajustadas e as operações colocadas em ordem.
A equipe de análise do Credit Suisse afirmou, em relatório no mês
passado, que "as construtoras menores devem ter vantagem competitiva nos
próximos trimestres em função de menores complexidades e maior
controle", citando como exemplos Tecnisa, Helbor e EZTec, esta última,
com operação concentrada apenas em São Paulo.
Aversão ao IPO
Além do aprendizado quanto à especialização, a onda de ofertas públicas iniciais (IPOs, em inglês) de construtoras e incorporadoras, há cerca de seis anos, fez o sinal vermelho acender para as empresas que têm subido um degrau por vez.
Além do aprendizado quanto à especialização, a onda de ofertas públicas iniciais (IPOs, em inglês) de construtoras e incorporadoras, há cerca de seis anos, fez o sinal vermelho acender para as empresas que têm subido um degrau por vez.
Hoje, o setor imobiliário contabiliza cerca de 20 empresas listadas
na Bovespa -considerando também as administradoras de shopping centers.
"Fiquei preocupado com aquele 'frenesi' de abertura de capital, em
2006", disse Almeida, da Mudar. "Foi uma decisão acertada não abrir
nosso capital... Investidores que compraram esses papéis estão sofrendo e
certas empresas tecnicamente estariam quebradas pela dívida que têm."
Frankel, da Vitacon, faz coro: "O modelo das empresas que estão na
bolsa se mostrou ineficaz e elas estão desintegrando valor... Hoje a
preocupação maior dessas empresas é com o preço da ação."
Com o capital fechado, a Vitacon tem recebido propostas de compra, fusão e investimento, segundo ele.
Menos radical, Freitas, da MDL Realty, não descarta realizar um IPO
da companhia, mas assinala que o momento atual não é favorável.
"O IPO é mais uma forma de colocar recursos dentro da empresa. Eztec e
Helbor, por exemplo, fizeram bem feito e focaram as operações em poucas
regiões", avaliou.
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