5º Congresso Brasileiro de Pesquisa debate novos paradigmas
As profundas transformações que o mercado de consumo brasileiro
está passando estão entre os principais destaques do 5º Congresso
Brasileiro de Pesquisa, que termina nesta quarta-feira (27), em São
Paulo. Especialistas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística) e do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada)
confirmaram com dados as mudanças do consumo interno e ainda as
desigualdades regionais.
A crise mundial também esteve no centro das
discussões, no primeiro dia de palestras, na terça-feira (26). Paulo
Pinheiro Andrade, presidente da Abep (Associação Brasileira de Empresas
de Pesquisa), realizadora do encontro, fez a abertura ao lado do
convidado especial, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior, Fernando Pimentel. Em discurso, o ministro se propôs a fazer
uma reflexão sobre o que está acontecendo no cenário internacional e os
reflexos no mercado brasileiro. “Nós estamos atravessando um período da
economia internacional de grandes turbulências e incertezas. Essa é uma
crise de longa duração, que mistura política e economia", disse.
Pimentel falou que o mundo vive uma mudança de
paradigmas no padrão industrial sem precedentes. “Henry Ford, assim como
outros capitalistas e países, ficaram ricos criando, desenvolvendo e
produzindo os seus produtos. Isso acabou e essa não é uma mudança
trivial. A maioria dos países não está preparada para isso”, reforçou.
O ministro disse que a bola está com os países emergentes, do Brics,
que estão caminhando para se tornarem nações líderes. “Hoje o mundo olha
os países emergentes como mercados dinâmicos. Ninguém poderia imaginar
isso há 20 anos. Ninguém olhava para a África”. Pimentel destacou as
“enormes vantagens do Brasil no processo”. O ministro lembrou da
inserção recente de 40 milhões de novos consumidores no mercado
brasileiro, com a ascensão das classes sociais. "É como se tivéssemos
incorporado uma Argentina inteira. Esso é uma mudança profunda nos
padrões de consumo, aliada às novas noções de sustentabilidade, que não
existiam há 20 anos".
Segundo o ministro, para se tornarem nações líderes, é
preciso ter uma grande população, recursos naturais e soberania sobre
eles, além de tecnologia. “Nós temos tudo isso, só estamos devendo um
pouco em avanços tecnológicos. Com mais acertos do que erros nos últimos
anos, tenho certeza de que estamos no caminho de ser um dos países
líderes do século 21”, destacou o ministro. Para Pimentel, outra mudança
radical será a troca do padrão monetário mundial, com o fim da
hegemonia do dólar. “Vou arriscar fazer uma predição. O dólar não chega a
2050 como a moeda de troca internacional”.
Marcas
A palestra a seguir foi de Luciano
Deos, ceo da Gad’, que tem cinco empresas associadas ligadas à área de
design e comunicação, que falou sobre “O papel das marcas nas
estratégias de negócios”. Segundo Deos, nesse cenário de transformações
do consumo e de mudança empresarial, o papel das marcas ganha cada vez
mais relevância dentro da perspectiva de criação de valor para os
negócios das empresas. Ele falou também sobre a corrida do empresariado
brasileiro para não perder a janela de oportunidade que o Brasil está
tendo. “Todo empresário brasileiro com quem converso quer vender,
crescer rápido até 2016. Ninguém quer perder essa janela de oportunidade
que o Brasil está tendo”, afirmou o ceo da Gad’.
Desigualdade
Uma das constatações é que além da
expansão, o consumo brasileiro está mais sofisticado. Outro dado
destacado é que, apesar da expansão do consumo, a profunda desigualdade
regional nos padrões de consumo persiste. “Esse mapa é reflexo da
distribuição das riquezas no país, que ainda é muito desigual”, apontou
Jefferson Mariano, tecnologista do IBGE.
Contextualizando o cenário da desigualdade
brasileiro, Miguel Matteo, diretor adjunto do Ipea, disse que a
desigualdade diminuiu um “poquinho”. “Digo que é pouquinho porque é
mesmo. Muita gente não ganhava nenhum dinheiro e passou a ganhar um
pouco”, falou ele. Matteo falou que o padrão de
desenvolvimento do país melhorou com o aumento do salário mínimo, mas
ainda assim é um país desigual entre as regiões e pessoas. Ele citou que
o Norte e Nordeste ainda têm um padrão muito distante da média
brasileira, enquanto que o PIB do Sudeste é 40% maior do que a média
nacional.
“O Brasil continua sendo um dos campões de
desigualdade, porém o país está mudando para um mercado maior e
efetivamente de massa. O desafio é compatibilizar o crescimento do
consumo familiar com investimentos e criar políticas públicas ativas
para as diversas regiões, que ainda são muito desiguais”, ressaltou
Matteo.
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