Representantes do mercado imobiliário alertaram nesta quarta-feira para a
tendência de o setor passar por um período de estagnação nos próximos
anos, resultado do avanço desenfreado visto entre 2008 e 2010.
"Em cinco anos, o crédito corporativo vai secar, resultando em
desalavancagem forçada das empresas, que voltarão a investir à frente",
disse o diretor de Relação com Investidores da EZTec, Emilio Fugazza,
durante evento promovido pelo CTE (Centro de Tecnologias e Edificações),
em São Paulo.
Segundo ele, construtoras e incorporadoras com ações listadas em Bolsa
estão passando pelo "vale" antes de voltarem a gerar recursos.
"O cenário é de diminuição de volume (de lançamentos de imóveis) e
desalavancagem... serão anos de mudança radical para as empresas de
capital aberto", acrescentou.
O executivo citou a "escalada irracional do comprometimento", cuja
largada foi dada há cerca de quatro anos, levando construtoras e
incorporadoras de grande porte a realizar elevado volume de lançamentos e
vendas, resultando em problemas de capacidade de execução e de entrega
das unidades prometidas.
Entre 2008 e 2010, as maiores companhias do setor diversificaram o mix
de produtos, ingressaram em novas regiões e começaram a trabalhar com
parceiros.
Hoje, ao pagarem um preço alto para gerenciar custos, parceiros e obras,
boa parte das grandes construtoras na Bovespa vêm anunciando a saída de
determinadas regiões e o fim de parcerias. Esse recuo, entretanto, tem
saído caro até que todas as contas sejam ajustadas e as operações
colocadas em ordem.
"Comprometimento tem risco e afeta a marca que, por sua vez, afeta a
margem (da empresa)... execução de obra não pode ser um detalhe do fluxo
de caixa", disse Fugazza.
INVESTIMENTO ESTRANGEIRO
No âmbito de investimentos, o diretor executivo da GP Investments,
Antônio Ferreira, afirmou que os investidores internacionais --parte
relevante na composição do setor-- estão adotando, na maioria, uma
postura cética quanto ao setor no Brasil.
"Investidores imediatistas estão vendo um cenário complicado no país e
estão travados, visto as incertezas na Europa", disse ele, acrescentando
que muitos associam as preocupações com os balanços das empresas
listadas ao setor como um todo.
Com poucas exceções, os resultados financeiros das principais companhias
que compõem o setor vieram abaixo do esperado pelo mercado no primeiro
trimestre, pressionados, entre outros fatores, por estouro de custos das
obras.
Esse estouro, segundo Fugazza, da EZTec, levou a uma desvalorização
generalizada das ações e a uma certa descrença quanto aos resultados do
segundo trimestre.
"Já o investidor de longo prazo vê turbulências, com o mercado
imobiliário não tão pujante como dois anos atrás, mas crescendo em
relação a outras economias que estão encolhendo", ponderou Ferreira.
Após investir em diversas empresas do setor --como Gafisa, BR Malls e BR
Properties-- a GP possui atualmente participação apenas no grupo
hoteleiro BHG, dentro do segmento imobiliário.
A gestora também criou, há cerca de um ano, um fundo imobiliário
destinado a investimentos em projetos residenciais, comerciais e de
shopping centers.
"Acreditamos muito em um vetor de crescimento (do setor) nos próximos
dez anos... essa alternância entre altos e baixos acaba sendo positiva",
acrescentou Ferreira.
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