Crise mundial é o eixo da mudança de comportamento
O consumo é o maior paradigma da sociedade contemporânea. A conclusão
faz parte da “6ª Onda do Observatório de Tendências da Ipsos,” estudo
que capta as tendências de comportamento e consumo nas principais
capitais do mundo. A tendência mais marcante este ano foi batizada de
Know Your Rights (Conheça Seus Direitos) — a emergência do
socioeconômico. “A base dessa tendência é o consumo, que na verdade é um
paradigma da sociedade contemporânea, pois ela está alicerçada no
consumo”, explica a coordenadora geral do Observatório de Tendências da
Ipsos, Clotilde Perez.
Outro ponto central é que, por causa da crise, as preocupações com o
social e a economia cresceram dentro do conceito de sustentabilidade,
deixando um pouco estagnada a atenção com o meio ambiente. “É um
reajuste por causa dos problemas econômicos. Na Rio+20, por exemplo, o
debate sobre o meio ambiente não foi o que teve mais repercussão, e
mesmo os desdobramentos da conferência giraram em torno da discussão
sobre os índios e Belo Monte, dimensões mais sociais”, pontua.
O consumidor foi classificado em três grandes eixos: Crítico —
relacionado a posturas mais radicais, como o anticapitalismo; Ético —
uma preocupação maior com possíveis abusos em relação a mão-de-obra,
direito dos trabalhos e dos consumidores; e Sofisticado — busca por
qualidade. “O que a gente percebeu é que, nos últimos anos, esse eixo
crítico começou a se diluir e houve uma fusão entre o crítico e o ético.
O comportamento dominante é de que não adianta consumir produtos
orgânicos se o consumo for excessivo, ou comprar de empresas que não
respeitam o trabalhador”, exemplifica Clotilde. Também por causa da
crise, a percepção é de que o luxo começa a se voltar para o básico e
fica mais austero. “As grandes marcas de luxo continuam crescendo, mas
muito em função do core business”.
As mudanças de hábitos de consumo nas 23 cidades pesquisadas durante o
ano pela Ipsos também chamam a atenção — foram analisados 11 países,
entre Brasil, Alemanha, França, Dinamarca, China, Chile e Argentina. Um
exemplo é a compra de roupas por quilo em Paris ou a venda por dose (e
não por embalagem) de protetor solar nas praias do Nordeste. “Mais do
que entrevistas, fizemos imersões em espaços públicos, visita a lojas,
galerias, restaurantes e outros locais. No Brasil, a criatividade do
empreendedor nordestino foi o destaque, enquanto na França a mensagem é
de que não importa a grife, mas uma calcinha não pode custar mais do que
uma jaqueta nas lojas que vendem por quilo”, destaca Clotilde. Ao mesmo
tempo em que o consumo se “humanizou”, ele não é mais visto como vilão e
é apontado pelos governos como uma solução para a crise mundial. “O tom
é de que o consumo pode ajudar a economia. Em função da crise, o
estímulo ao consumo é uma saída que os governos estão buscando”,
ressalta.
No Brasil, outra tendência verificada é de que o houve uma expansão
do conceito de consumo para além do ato de comprar, com as pessoas
buscando mais a satisfação pessoal e abrindo espaço para investimentos
em educação, lazer e cultura. “Aquele primeiro momento de consumo
material que se deu entre as classes emergentes passou. Aqui no Brasil
há, por exemplo, três milhões de aplicativos de idiomas para o celular.
De fato começa a haver um movimento para essa dimensão pessoal”,
finaliza a coordenadora da Ipsos.
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