As curiosidades de uma agência responsável pelos pequenos eventos que fazem do GP Brasil o maior acontecimento de São Paulo
A Fórmula 1 é o evento que promove a maior movimentação de
dinheiro na cidade de São Paulo, com cerca de R$ 230 milhões ao ano,
segundo estimativa da SP Turis, Empresa de Turismo e Eventos da
prefeitura da cidade. Mas o lado mais curioso desse grande acontecimento
não está necessariamente no que ocorre durante os três dias nas pistas
do Autódromo de Interlagos, com transmissão em TV aberta, mas sim nos
pequenos eventos que tornam a corrida possível.
Por ser um País
fora do circuito europeu de corridas, o Brasil exige algumas
peculiaridades em termos de organização. Sem possibilidade de trazer os
motor-homes, caminhões gigantescos com toda a estrutura necessária para
garantir as ações de relacionamento com seus patrocinadores, as equipes
apelam para empresas que, além de organizarem eventos e hospitalities
centers durante a semana da corrida, servem praticamente como babás para
atender a todas as necessidades de última hora.
Uma dessas
agências é a Netza, de Fabiana Schaeffer, que trabalha para McLaren,
Sauber, Red Bull, Lotus, Toro Rosso, Mercedes e outras equipes. Há 12
anos no “circo da Fórmula 1”, ela explica sua atuação, que acaba indo
além da organização dos hospitalities centers. “Imagine equipes
estrangeiras vindo para um País onde poucas pessoas falam a língua e que
exigem um alto grau de qualidade nas coisas, incluindo alimentação?
Isso não se encontra em qualquer esquina”, exemplifica, explicando que
as maiores equipes trazem cerca de 100 pessoas.
Além da
barreira da língua, outra dificuldade está na própria localização de
Interlagos, distante de fornecedores, por exemplo, dos melhores pães da
cidade, estes, uma clássica exigência das equipes. Não foram poucas as
vezes que Fabiana precisou deslocar um profissional do bairro da Zona
Sul para regiões mais centrais atrás de uma determinada necessidade.
“Somos uma espécie de Google da Fórmula 1. Qualquer coisa que eles
querem, ligam para a gente. E o grau de exigência é altíssimo”, aponta.
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Agência local precisa lidar com desafio de estrutura antiquada de Interlagos
Outro exemplo: as equipes trazem seus cozinheiros, mas cabe a
Fabiana apontar os melhores fornecedores de alimentos, e as tendências
de culinária no Brasil. Ela cuida também dos trâmites de hospedagem.
Antes, as equipes ficavam apenas no Hotel Transamérica, mas hoje a
facilidade é maior pela multiplicação de estabelecimentos. Fabiana
ajudou, por exemplo, a intermediar hospedagens no Hyatt.
Sem
contar, claro, com a maior tradição dos membros do circo da Fórmula-1 em
São Paulo: as idas às churrascarias, devidamente reservadas pela “babá”
das equipes.
Outro desafio de Fabiana é garantir o máximo de
conforto aos hospitalities centers dentro da estrutura antiquada do
autódromo que, a despeito de promessas de uma grande reforma estrutural
para 2013, ainda soma vários problemas. “O espaço é pequeno, com pé
direito baixo, não tem instalações boas de banheiros. Além disso, tem
difícil acesso para estruturas como o cabeamento de energia e de fibra
ótica, que precisam de puxadinhos para funcionar”, aponta. “Para tudo,
dá-se um jeito”, relata Fabiana.
Em resumo: São Paulo, embora
tenha vantagens enormes como a quantidade e empolgação do público nas
corridas, o sempre elogiado traçado da pista e as churrascarias, está
longe de ter um circuito com a estrutura estonteante de Abu Dhabi e com
facilidades logísticas proporcionadas pelas curtas distâncias na Europa.
Ou seja: um terror para qualquer empresa de eventos.
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Ron Dennis precisava de um cortador de charuto e a agência se virou
Crédito: Wikipedia
E é aí que o trabalho de empresas como a Netza aparece, de fato.
Nesses anos todos de Fórmula 1, ela já passou por diversas situações
curiosas. Um dos personagens mais peculiares do circo sempre foi Ron
Dennis, ex-chefão da McLaren que não está mais no dia-a-dia das provas.
Às vésperas da corrida em determinado ano, ele desejou um cortador de
charuto. O pedido excêntrico mobilizou diversas pessoas da equipe de
Fabiana. “Onde iríamos achar um cortador de charutos?”, brinca, hoje,
apesar de relatar a tensão do momento.
O artefato foi
encontrado dentro do carro de um dos membros da equipe que, felizmente,
teve a ideia de comprar alguns dias antes, sabe-se lá por qual razão.
Também ficou famosa a história da festa de última hora que o circo
resolveu fazer para o piloto escocês David Couthard, que se despedia da
Fórmula-1. “Foi um grande esforço, porque tinha que ser uma festa
privada, sem exposição na mídia. Mas o problema é que todos os pilotos
estavam lá”, relembra.
Houve ainda um determinado ano em que a
corrida ocorria próxima à Páscoa, que a McLaren pediu para Fabiana
providenciar ovos de chocolate para todos os membros da equipe. “Eles
queriam da marca Godiva, mas representantes da marca me disseram que a
quantidade correspondia quase à Páscoa inteira da marca. Acabei correndo
atrás da Chocolat du Jour, que produziu tudo na madrugada anterior à
corrida, inclusive com decoração relativa à equipe”, conta Fabiana, que
precisou armazenar os ovos em um escritório com ar condicionado e
transportá-los com todos os cuidados com a temperatura ao autódromo.
Quando a primeira embalagem foi aberta, mostrando um chocolate com a
consistência e o sabor intactos, o alívio foi geral.
Em sua
41ª edição, o GP Brasil de Fórmula é promovido pela Federação
Internacional de Automobilismo (FIA). A Rede Globo, pelo segundo ano,
será a organizadora local (até 2010 a responsabilidade era da
International Promotions), ao lado da prefeitura de São Paulo. A corrida
terá transmissão ao vivo da Globo, com largada marcada para as 14h do
domingo, dia 25 de novembro. Com decisão do título em aberto entre
Fernando Alonso e Sebastian Vettel, a corrida promete grandes emoções.
Mas o circo montado dentro do circo da Fórmula-1 também terá as suas
emoções.
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