O Brasil está passando ou não por uma bolha imobiliária? Não há
unanimidade dos especialistas sobre isso. Para alguns, o país está
distante de um cenário como esse, pois não apresenta a "receita"
completa para que ele se concretize. Para outros a bolha existe e pode
estourar depois que o Banco Central voltar a elevar os juros.
Uma das análises que apontam para o risco da bolha foi publicada por
dois economistas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea),
ligado ao governo federal. Os pesquisadores Mário Jorge Mendonça e
Adolfo Schsida escrevem que o problema ficará claro quando a taxa básica
de juros, a Selic, hoje em 7,5% ao ano, aumentar para segurar a
inflação.
O efeito, afirmam os economistas no texto divulgado em agosto, será a
alta do custo do financiamento de imóveis e do saldo devedor. Assim,
ficaria mais difícil arcar com os empréstimos, prejudicando os
brasileiros que se endividaram nos últimos anos, em decorrência das
políticas de estímulo ao crédito.
Mesmo que a alteração na taxa de juros ocorra a curto, médio ou longo
prazo é possível que em algum momento o comprador seja afetado, avaliam
os pesquisadores, já que o período de financiamento pode chegar a 30
anos.
Com a dificuldade de receber, os bancos, por sua vez, liberariam menos
crédito, reduzindo o volume de financiamento e, portanto, a compra de
imóveis. Com demanda menor, os preços cairiam.
Uma bolha distante
Por outro lado, Ricardo Amorim, economista, comentarista do programa
Manhattan Connection (Globonews) e presidente da Ricam Consultoria,
avalia que faltam ¿ingredientes¿ básicos, presentes em bolhas
imobiliárias que já ocorreram em outros países.
Nos exemplos internacionais, um dos fatores ligados à bolha imobiliária foi a forte atividade no mercado de construção.
"Para tornar os dados de construção comparáveis entre diferentes países e
períodos, analisei o consumo anual de cimento per capita, em cada país
no ano em que a bolha estourou. Não encontrei nenhum estouro de bolha
com consumo anual de cimento inferior a 400 quilos per capita. Na
Espanha, passou de 1.200 quilos e há casos, como na China atual, de
consumo ainda superior, 1.600 quilos, sem estouro de bolha. No Brasil,
minha estimativa é de que hoje estamos em 349 quilos", diz Amorim.
Para o economista, outro fator que caracteriza a bolha imobiliária são
os preços muito altos em relação à capacidade de pagamento do
consumidor. Amorim alega que nenhuma cidade brasileira está hoje entre
as 20 mais caras do mundo, embora Brasília, Rio de Janeiro, Salvador e
Balneário Camboriú estejam entre as 100 mais caras ¿Brasília, a mais
cara do país, ainda é bem mais barata do que Rabat, no Marrocos, a mais
cara do mundo.¿
Amorim avalia ainda que qualquer bolha, imobiliária ou não, cresce por
conta da vasta oferta de crédito. Segundo a análise do economista, todas
as bolhas imobiliárias estouraram quando o total do crédito imobiliário
superava 50% do Produto Interno Bruto (PIB), como nos EUA, que em 2006
chegou a ser 79%. No Brasil, apesar de todo crescimento dos últimos
anos, este número é hoje de 5%.
Para ele, pelo menos em breve, não há risco, já que crédito imobiliário
está em expansão e o seu custo em queda. E, no longo prazo, o que vai
garantir que a bolha não estoure é a redução de preços.
Hora de comprar?
Já o economista Samy Dana, da Faculdade Getúlio Vargas (FGV), declara
que "os preços estão inflados". É preciso avaliar se o imóvel vale mesmo
o preço que está sendo cobrado. Ainda assim, alerta: "Não é hora de
comprar um imóvel. Os índices já apontam queda nos preços e maiores
descontos."
Para ele, a mesma tendência predomina no aluguel: os preços estão altos,
não há espaço para subirem mais. Em breve, isso vai acarretar numa
queda natural do valor.
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