Cansa até pensar quantas mudanças serão possíveis, e impossíveis de
ignorar. Ergamos então as mãos para os céus porque nunca tivemos tantas
ferramentas para trabalhar.
As marcas vão adorar. Já estão adorando. Porque nasceram para isso. O
mundo nunca esteve tão aberto para as marcas mais do que comunicarem,
engajarem. Engajarem os outros, se engajarem com os outros, o
engajamento é a fase dois da comunicação total. É o que vem depois do
oi. É onde estamos entrando agora.
Aquele biscoito com nome de constelação, o Oreo, produziu bom exemplo
dessa inovação na campanha para comemorar o seu centenário. Durante cem
dias, ele lançou um anúncio por dia para os mais de 27 milhões de
consumidores que "like" Oreo no Facebook e também para seguidores no
Pinterest, no Twitter e naquela coisa mais antiga chamada site.
É um público simpático e sensível às suas mensagens nunca antes reunido e acessível desse jeito.
E a campanha da Oreo não explora só as novas possibilidades de
distribuição da comunicação, mas as novas possibilidades de produção
também.
Os anúncios são renovados quase diariamente, usando temas dos mais
diversos e quentes. O Oreo transformou-se numa tela circular e o creme
na tinta para temas como orgulho gay, Elvis Presley, a sonda de Marte, a
premiação do Emmy...
O último dos cem dias é hoje, quando será montada uma agência em plena
Times Square, em Nova York, para a produção do último anúncio da
campanha. Será transmitido ao vivo do local, claro, e criado
coletivamente a partir de sugestões do público presente e via mídias
sociais, claro.
É uma campanha complexa na interação de diferentes mídias e formas de
produção, mas simples na integridade. Uma boa ideia sempre será uma boa
ideia. Só que agora você vai precisar de um número maior delas, como os
editores deste jornal precisam de notícias todos os dias.
Na era da comunicação instantânea, as mensagens são do tamanho de um
twitter, de um torpedo, de um post, do tamanho de uma foto no Instagram,
de um filme curto no YouTube. Uma foto e um tweet são comunicações
muito sucintas, mas muito eficientes (porque sucintas).
O jornalista e o publicitário vão convergir cada vez mais nessa
entropia da comunicação. O marketing precisa estar cada vez mais perto
do jornalismo, do seu pulso diário. A propaganda vai ganhar com isso. As
marcas vão ganhar com isso. O jornalismo? Deixo aos jornalistas essa
resposta.
Uma coisa é certa: todo mundo está falando sem parar. E isso não vai parar, vai é aumentar.
Se antes bastava um bom filme de 30 segundos repetidos até o
convencimento nas mídias certas, agora a mídia certa é a mídia incerta e
os formatos são tão elásticos que o próprio termo formato parece
limitá-los.
Mas há uma coisa inescapável que liga o mundo novo ao velho: nós, que
somos os nós amarrando tudo. Ainda é o ser humano o alvo da comunicação,
e ele ainda é regido basicamente pela emoção.
É a emoção, no meio desse turbilhão, que gera o engajamento.
Por Nizan Guanaes, publicado originalmente na Folha de S. Paulo.
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