Edifícios novos podem ter dezenas de opções de lazer disponíveis para
os moradores, mas nem todas elas sobreviverão ao teste do dia a dia.
Apresentados como diferenciais no lançamento dos produtos, alguns itens
são relegados ao esquecimento após a implantação dos condomínios.
Spas, saunas, ofurôs e espaços curiosos como os redários – para a
instalação de redes de descanso – figuram entre os ambientes pouco
utilizados nos conjuntos. “O ofurô é campeão. Ele funciona em hotel, mas
no condomínio não tem muito sentido. Vira um elefante branco porque é
muito íntimo”, diz a gerente de relacionamento da administradora Lello
Condomínios, Márcia Romão.
Comuns em condomínios-clube, os espaços beauty, simulando salões de
beleza, e os garage band nem sempre são bem aproveitados, segundo
Márcia. “Pelo uso, os condôminos vão percebendo que aquele desenho do
incorporador não funciona tão bem na prática”, diz.
A subutilização dos espaços não se restringe ao mau aproveitamento da
área comum, mas também pode ser entendido como um peso para a taxa
condominial, na opinião do diretor executivo da administradora Manager,
Marcelo Mahtuk. Ele também é consultor de incorporadores durante o
desenvolvimento dos empreendimentos.
“O que discutimos com as incorporadoras é a questão de saber o que
público-alvo vai efetivamente usar. O empresário quer colocar o maior
número de itens de lazer para agilizar a venda. E queira ou não, isso
ocorre. Mas onera o condomínio.”
A combinação mais adequada para cada lançamento depende de fatores
como a localização do empreendimento, o tamanho do condomínio e o
público a que ele se destina. “Há uma certa ilusão do comprador no
estande de vendas. A pessoa olha coisas que nunca fez na vida, mas
imagina que, no futuro, vai fazer.”
Depois de instalado o condomínio, as mudanças de finalidade de áreas
são possíveis, mas exigem um esforço coletivo dos moradores. A
autorização para as alterações somente são obtidas mediante a aprovação
da medida em assembleia por, pelo menos, dois terços dos proprietários
das unidades.
“Tenho de unir os moradores e, às vezes, o condomínio é muito grande.
Temos alguns com mil unidades”, diz o executivo da Manager. Ele
ressalta a importância de os conjuntos se a adaptarem às demandas dos
moradores no decorrer dos anos, na medida em que o perfil do público
interno também se altera.
No condomínio onde Hélio Trevizan Júnior, de 53 anos, é síndico, os
proprietários aprovaram na semana passada a transformação da quadra de
futsal em um espaço gramado para a prática de futebol society. “Antes, o
chão era áspero demais, e as crianças se machucavam. Agora, elas
adoraram”, conta. A adesão à mudança teve ampla aceitação dos
proprietário, segundo o síndico do conjunto, que tem três anos de
funcionamento.
Controle. O acesso restrito de alguns espaços podem
contribuir para a subutilização, de acordo com a gerente de
relacionamentos da Lello. Ambientes como academias, salão de jogos e
saunas ficam, com frequência, fechados com chave, impedindo o uso livre
dos condôminos. A abertura dos espaços somente se dá após a retirada das
chaves na portaria ou com os zeladores.
“Para algumas áreas, na teoria, o mais certo é deixar fechado, mas
talvez isso faça com que elas fiquem esquecidas”, diz Márcia. “Se
deixarmos abertas, pode ser pior. Sabemos de casos de saunas que viram
outras coisas”, brinca.
Síndico profissional e vice-presidente da Associação dos Síndicos
Comerciais e Residenciais do Estado de São Paulo (Assosíndicos), Renato
Daniel Tichauer acredita que o controle da entrada seja necessário para
evitar furtos de equipamentos e garantir a preservação do bom estado dos
itens de lazer. “Não acho que isso desestimule o uso”, defende.
Campeão.. Ofurô
destaca-se como opção deixada de lado nos conjuntos. “É muito íntimo”,
diz gerente da administradora Lello (Clayton de Souza/AE)
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