Pesquisa mostra que momento econômico da nova classe média não é único: ele já existiu em 1970. Diferencial de agora é na consciência e influência do brasileiro
Quarenta anos depois, a grande diferença está na forma com a qual o
consumidor se relaciona com as marcas e na ampliação dos canais que
esses grupos podem usar para conversar com seu público. Antes focadas no
rádio e na televisão, a comunicação das empresas se estendeu para o
campo digital, onde sé necessária uma adaptação e adequação da
linguagem.
Outra diferença entre o Brasil de 1970 e o atual é no desejo da nova
classe média. Se antes havia a busca pela elitização, atualmente os
consumidores emergentes sabem o que querem. “No passado, o aumento da
renda fazia com que essas pessoas assumissem padrões que não eram de sua
classe. Um exemplo claro é daqueles que ‘enricavam’ e para mostrar
status, saíam de seus bairros. Hoje, além do consumidor ficar na
periferia, ele faz questão de lembrar suas raízes e usar suas
referências”, afirma Alexandre Horta sócio-sênior da GS&MD – Gouvêa
de Souza, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Mais por menos
De acordo com a pesquisa, a nova forma de comprar
do brasileiro emergente pode ser chamada de “mais por menos”. São
pessoas cada vez mais exigentes com o que escolhem, mas que são
conscientes na hora de gastar. Apesar de ainda haver uma demanda
reprimida, entre produtos e serviços que estão sendo incorporados pela
nova classe média estão computadores e notebooks, TV a cabo, viagens de
férias e, aos poucos, a priorização da educação.
Os atributos mais valorizados, segundo a pesquisa, são preço,
variedade, qualidade e marca. “O preço porque ainda continua sendo
relevante, a variedade porque o consumidor emergente busca mais
alternativas pra fazer suas escolhas, o que nos leva ao terceiro e
quarto atributos: ele tem preocupação com durabilidade e segurança e,
surpreendentemente, passa a referenciar marcas de predileção entre as
suas escolhas, muito mais que puramente produto versus preço”, explica
Horta.
Ainda assim, as marcas pecam por não segmentar e a relação com os novos
consumidores acaba sendo um “calcanhar de Aquiles”. O estudo indica que
é preciso criar uma experiência memorável no ato da compra, focando
principalmente em um atendimento mais eficiente, que cumpra o que
promete. “É preciso prestar atenção aos desejos efetivos desse
consumidor ao invés de tentar ‘empurrar’ uma alternativa qualquer para
ele. Curiosamente existe no Brasil uma percepção equivocada de que o
nível de atendimento existente por aqui é muito bom, particularmente por
confundir "afetividade" e sorriso fácil com eficácia”, completa o
executivo.
Sortimento e comunicação
A entrada definitiva dos consumidores “mais por menos” acaba definindo
dois movimentos paralelos no Brasil, segundo a pesquisa. De um lado, a
imagem de estabilização financeira pela qual o país passou agregou um
grupo imenso de novos consumidores no mercado, o que atraiu a ambição de
novas marcas, produtos e operadores de varejo internacionais. Para se
estabelecerem, esses grupos tendem a atacar inicialmente alguma posição
de nicho, mais fácil de oferecer uma vantagem superior por meio de
estratégia segmentada.
Do outro lado, esse consumidor emergente surgiu com um nível de
consciência sobre seus desejos, com conhecimento dos canais onde ele
pode expressá-los e crítica muito maior, exercendo uma pressão sobre o
mercado para que ele busque alternativas para satisfazê-lo. “Ou seja,
essa evolução será fruto tanto da resposta daqueles já estabelecidos no
Brasil com a intensificação da concorrência dos ‘de fora’, como uma
maior exigência dos consumidores em relação à existência de soluções
mais identificadas com os seus interesses e desejos”, avalia Horta.
A alternativa para as marcas se exporem, dialogarem e segmentarem seus
produtos está na conveniência para o consumidor. O sortimento tem que
estar alinhado com a proposta de valor e o foco de quem vai comprar. Não
adianta oferecer algo que não faça parte dos hábitos daquela classe
social, com preços que não sejam atraentes.
Do ponto de vista da comunicação, a linguagem tem que ser direta e
objetiva, enfatizando os benefícios e vantagens do produto. “Não pode
haver proselitismo. Um erro fatal em tempos de maior consciência do
consumidor e de maior alternativas para ele exercer a sua crítica, é
tentar ‘dourar a pílula’ sobre um determinado produto, criando falsas
expectativas e posteriores decepções. Menos nessa situação sempre será
mais”, afirma Alexandre Horta.
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