O que estamos esperando para fazer o paradesporto dar um salto e mudar de patamar no Brasil?
Por Roberto Trinas, de Londres *
A noite do
domingo 2 foi gloriosa para o Brasil. Foram três medalhas de ouro e o
hino nacional brasileiro executado pela primeira vez no Estádio Olímpico
de Londres (nos Jogos Olímpicos não ganhamos medalha em competições
disputadas no estádio) e recorde mundial quebrado na prova dos 200m
rasos, com o brasileiro Alan Fonteles fazendo história ao derrotar e
silenciar as 80 mil pessoas que torciam para Oscar Pistorius, o “Blade
runner”, primeiro atleta biamputado a conquistar o direito de também
disputar os Jogos Olímpicos e a grande celebridade do esporte
paralímpico no momento.
Puro entretenimento. Se ainda restava
alguma dúvida de que os Jogos Paralímpicos são uma grande festa capaz de
trazer provas de altíssimo nível de competitividade e toda a emoção do
universo do esporte, essa noite não me deixará esquecer. O estádio
Olímpico estava lotado, clima de euforia total e finais eletrizantes – o
melhor exemplo foi a última sessão da noite, na incrível prova dos
5.000m para cadeirantes, na qual, numa arrancada sensacional para a
vitória, o britânico David Weir fez o estádio delirar e aplaudi-lo de
pé.
Quando tenho a oportunidade de presenciar um evento deste
porte e assistir às campanhas de comunicação de empresas como Visa,
Samsung, British Telecom, Sainsbury’s, Adidas entre outras, abraçando o
esporte e expondo seus atletas como embaixadores de suas marcas, me
pergunto: o que estamos esperando para fazer o paradesporto dar um salto
e mudar de patamar no Brasil? O que é que está faltando para
mobilizarmos e aumentarmos o investimento que hoje é significativamente
inferior ao do esporte olímpico (3% x 97% do total investido)?
Neste
momento em que muitas empresas estão em busca de projetos e soluções na
área de esportes no Brasil, temos, aqui em Londres, atributos, valores e
histórias belíssimas para contar e energizar marcas, inspirar e motivar
colaboradores e clientes. Temos uma delegação paralímpica altamente
competitiva, com chances reais de estar entre os sete melhores do mundo
nesta edição dos Jogos (o Brasil ficou em 22o lugar nos Jogos Olimpicos)
e um interesse cada vez maior da mídia, que vem progressivamente
ampliando espaço em programas esportivos e na cobertura jornalística.
Acima
de tudo isso, podemos fazer uma enorme diferença na vida de milhões de
brasileiros. Para quem não sabe, hoje são mais de 27 milhões de pessoas
com algum tipo de deficiência no Brasil (14,4%, segundo o IBGE). Se
pensarmos nos núcleos familiares, são mais de 60 milhões de pessoas que
se relacionam com o tema, e que quase todos os dias consomem bens,
produtos e serviços, de diversas empresas, em diversos segmentos. É um
enorme potencial de construção de imagem e reputação de marcas, para uma
parcela expressiva de mercado. Uma oportunidade de negócio incrível.
Não tenho dúvida de que a relação entre o investimento e o potencial de
visibilidade e retorno em imagem no paradesporto seja amplamente
favorável comparativamente a outras propriedades disponíveis no universo
do esporte, sobretudo se levarmos em consideração as diversas
alternativas de benefícios fiscais, entre elas a Lei de Incentivo ao
Esporte, que permite à pessoa jurídica o abatimento de até 1% de IR.
Para as pessoas físicas, o limite é de 6%.
Mais do que
investimento e desenvolvimento através do esporte, estamos falando em
transformar preconceito e vergonha em orgulho, em educar, formar
cidadãos e bons exemplos, e a multiplicar histórias de superação e
inspiração. A hora é de sonhar grande. Precisamos colocar o esporte na
agenda das empresas e do país. E não com uma atitude assistencialista,
filantrópica ou algo parecido, mas com a crença de que vale a pena
investir e desenvolver negócios sociais que geram retorno para todos os
envolvidos. Como o próprio lema do esporte nos ensina, vamos pensar no
que podemos fazer e nunca no que não podemos, pois não há limites que
não possam ser superados.
Em tempo, vale lembrar que dar dinheiro
a quem já tem apoio, sejam atletas, clubes ou confederações, certamente
não é a única maneira. Ao invés de concentrar recursos, porque não
atuar numa base mais abrangente, criando e investindo em projetos com
poder de transformar estruturalmente a base do esporte, criando
mecanismos que facilitam o acesso e criam perspectivas para o longo
prazo, sempre com potencial de replicação e cobertura nacional. Investir
em centros de treinamento, na qualificação de agentes formadores e nas
condições para o desenvolvimento de uma nova geração de atletas em
diversas modalidades vai certamente contribuir para acelerar o progresso
e o reconhecimento do esporte no Brasil.
É isso aí, continuem
ligados e vamos torcer! Já são 7 ouros nos quatro primeiros dias e tenho
certeza de que vem muito mais por aí!!
Abraços e até a próxima!
* Roberto Trinas é sócio-diretor da Vibra Branding Esportivo
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