Ao entrar no quarto ano de inspeção técnica ambiental para toda a frota
da cidade de São Paulo, pode-se afirmar que se trata de uma ação
bem-sucedida. Em 2011, cerca de 3,2 milhões veículos passaram pelas
linhas de inspeção, incluindo automóveis, motocicletas, caminhões e
ônibus.
A partir das estatísticas da concessionária do serviço, Controlar, um
mito já pode ser desfeito. A maior cidade do país está longe da frota
"monstruosa" de 7 milhões de veículos que lhe é atribuída pelos dados
distorcidos do Denatran. A empresa estima a evasão -- veículos antigos
que poluem muito, mas rodam relativamente pouco -- em 30%. A frota real
estaria, portanto, em torno de 4,5 milhões de unidades. Simplesmente, o
Denatran não pondera o sucateamento natural de veículos ao impor regras
complicadas ao último proprietário.
O controle da frota é fundamental para qualquer planejamento viário,
análise de poluição do ar, inspeção de segurança e incidências de mortos
e feridos no trânsito. Números artificialmente elevados de veículos em
circulação mascaram as taxas de acidentalidade. Se o divisor fosse
próximo da realidade, os 40 mil mortos por ano colocariam o Brasil em
posição ainda mais vexaminosa no quadro mundial.
Hoje, apenas a cidade de São Paulo e o Estado do Rio de Janeiro fazem
inspeções regulares. No segundo caso, além de emissões, há checagem de
poucos itens de segurança, de forma superficial e tarifa muito cara. Uma
verdadeira e confiável inspeção técnica veicular (incluindo a
ambiental) ainda está esquecida no Congresso Nacional. O que existe é a
obrigatoriedade de inspeção de emissões, imposta pelo Conama (Conselho
Nacional do Meio Ambiente) a todos os Estados sob critérios discutíveis e
desconectada da realidade.
Uma inspeção unificada permitiria tarifas menores e atacaria o problema
maior, os riscos de acidentes por falta de controle de manutenção. Não
se trata de menosprezar a qualidade do ar e seus reflexos na saúde.
Clama-se por racionalidade. Afinal, São Paulo e uma cidade à beira-mar
no Nordeste mostram cenários bem distintos de poluição.
A Controlar, depois de muita insistência, abriu alguns de seus números e
se esforçou para tentar provar a importância de inspecionar automóveis
de até três anos de uso. Em 2011, o índice de reprovação na primeira
vistoria para carros fabricados em 2010 foi de ridículo 1%; em 2009, 2%;
em 2008, 3%. Nesses percentuais se incluem táxis e veículos de frota
que, por rodarem bastante, ficam mais sujeitos a desconformidades e
devem ser inspecionados em intervalos menores.
Veículos com motor a diesel, incluídos picapes e SUVs, tiveram índices
elevados de reprovação inicial: 15%, 16% e 14%, respectivamente.
Motocicletas: 4%, 7% e 18% para os mesmos anos de fabricação (2010, 2009
e 2008). As frotas problemáticas são essas e não os carros com motores
a gasolina, etanol ou flex com três anos de uso. Os movidos a GNV foram
os piores por falta de controle sobre a instalação de kits de
adaptação. A melhora do ar na cidade ocorre com ajuda da inspeção, mas
fatores atmosféricos aleatórios também influenciam.
A concessionária insiste em inspecionar carros seminovos pelo
equilíbrio financeiro do seu negócio, pois a evasão é baixíssima. Se
fossem dispensados, como a regra nos demais países, a renovação de frota
poderia se acelerar. Haveria estímulo para troca de automóvel e se
livrar, a cada ano, do maçante processo burocrático (agendamento, boleto
e inspeção).
Tarifa cobrada pela Controlar baixou para R$ 44,36, mas deveria ser
menor para automóveis recentes. Estes dispõem de sistema de diagnose a
bordo, mais confiável e que encurta o tempo de inspeção.
Nenhum comentário:
Postar um comentário