sexta-feira, 13 de julho de 2012

Um jornal para ser lembrado



Há jornais inesquecíveis, que imprimem sua marca, disse um antigo redator do Diário Carioca. Fechado há quase meio século, o Diário Carioca despertava, e ainda desperta, fortes emoções. Poucos jornais no Brasil foram lembrados com tanto afeto e nostalgia pelos jornalistas que nele trabalharam.

 
Mas ninguém sentiu saudades da empresa que o editava. O proprietário, Horácio de Carvalho Junior, era rico mas não investia seu dinheiro no jornal. Pelo contrário, havia ocasiões em que limpava o caixa e viajava a Paris. Num país em que salários baixos e atrasos no pagamento na imprensa eram comuns, o Diário Carioca fazia disso uma arte. Era uma tradição da casa. Estava no DNA do jornal desde o seu lançamento. Com apenas um ano de vida, em dezembro de 1929, houve um “pequeno atraso” no pagamento e quase toda a redação saiu para trabalhar num novo diário de esquerda que estava sendo lançado, A Batalha, financiado por um bicheiro.

   

Quando cronista Paulo Mendes Campos queixou-se ao gerente de atrasos do salário e da falta de dinheiro para comprar o leite dos filhos, mas nunca faltava uísque na mesa do patrão, ele respondeu: “Ora, Paulinho, o uísque para o doutor Horácio é como o leite para as criancinhas”.
 
Rubem Braga fazia crônicas para o Diário Carioca. Seu biógrafo escreveu: “À noite, muitas vezes, encontravam-se na boate Vogue patrão e cronistas, onde Carvalho abraçava um por um, efusivamente, pagava uma ou outra dose, e prometia generosos aumentos e pagamentos em dia – promessas das quais não se lembrava nunca, no dia seguinte, quando sóbrio”.
 
Paulo Francis, crítico de teatro, disse que levava meses para receber o salário. “Não peguei o tempo em que os redatores eram pagos em espécie (ventiladores, roupa etc.), mas é célebre.” Evandro Carlos de Andrade – que depois seria diretor do jornal O Globo e da TV Globo – disse que ganhava salário mínimo, distribuído em vales semanais, que não eram pagos semanalmente. Alguns jornalistas só conseguiam receber vales, desde que viessem disputá-los cada manhã, quando entrava o dinheiro da venda diária. Outros recebiam do governo, em empregos conseguidos pela direção do jornal.
 
Texto de Matías M. Molina
 
Leia a íntegra no Observatório da Imprensa

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