Há jornais inesquecíveis, que
imprimem sua marca, disse um antigo redator do Diário Carioca. Fechado
há quase meio século, o Diário Carioca despertava, e ainda desperta,
fortes emoções. Poucos jornais no Brasil foram lembrados com tanto afeto
e nostalgia pelos jornalistas que nele trabalharam.
Quando cronista Paulo Mendes Campos queixou-se ao gerente de atrasos do
salário e da falta de dinheiro para comprar o leite dos filhos, mas
nunca faltava uísque na mesa do patrão, ele respondeu: “Ora, Paulinho, o
uísque para o doutor Horácio é como o leite para as criancinhas”.
Rubem Braga fazia crônicas para o Diário Carioca. Seu biógrafo
escreveu: “À noite, muitas vezes, encontravam-se na boate Vogue patrão e
cronistas, onde Carvalho abraçava um por um, efusivamente, pagava uma
ou outra dose, e prometia generosos aumentos e pagamentos em dia –
promessas das quais não se lembrava nunca, no dia seguinte, quando
sóbrio”.
Paulo Francis, crítico de teatro, disse que levava meses para receber o
salário. “Não peguei o tempo em que os redatores eram pagos em espécie
(ventiladores, roupa etc.), mas é célebre.” Evandro Carlos de Andrade –
que depois seria diretor do jornal O Globo e da TV Globo – disse que
ganhava salário mínimo, distribuído em vales semanais, que não eram
pagos semanalmente. Alguns jornalistas só conseguiam receber vales,
desde que viessem disputá-los cada manhã, quando entrava o dinheiro da
venda diária. Outros recebiam do governo, em empregos conseguidos pela
direção do jornal.
Texto de Matías M. Molina
Leia a íntegra no Observatório da Imprensa
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