Pesquisa desenvolvida pela Firefly Millward Brown aponta vícios e erros das empresas na hora de realizar ações de ativação que levem informação e divertimento
A incompreensão e falta de alinhamento das empresas com os consumidores
são os maiores erros na hora de ativar a marca com ações que envolvam
Marketing de Entretenimento. O desejo quase inconfesso de falar com
todos os públicos é o pecado mais cometido pelas empresas, mas eles não
param por aí. Da campanha certa para o local errado, da fragmentação
excessiva à obsessão de aparecer a qualquer custo, sete erros capitais
são cometidos em maior ou menor grau.
Segundo a pesquisa “A Ressignificação da Diversão no Mundo
Contemporâneo - Como as pessoas se divertem e o que as marcas têm a ver
com isto?”, da Firefly Millward Brown, as relações entre trabalho e
diversão mudaram, portanto, mudaram também as forma de compreendê-las,
gerando um ruído na comunicação das empresas com os consumidores. A falta de compreensão leva ao primeiro pecado: a “UltraComplexidade”.
Nele, a ação é de fácil entendimento para a marca, mas complexa para o
consumidor. “Muitas vezes as ativações pecam justamente por terem etapas
demais, serem de difícil acesso,
entendimento e terem uma complexidade intrínseca que afasta o
consumidor”, explica Raquel, Vice-Presidente de Inovação em Pesquisa
Qualitativa, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Falta de percepção
Se antes havia um padrão claro entre o que era lazer e o que era
obrigação, hoje as formas se misturam. “A diversão está no cotidiano das
pessoas, na comunicação das marcas, no ambiente de trabalho, de forma
quase onipresente. Os novos paradigmas alteraram o conceito de lazer e
os seus significados. O que antes era um direito, agora parece ser quase
uma obrigação”, diz a pesquisadora.
O perigo, no entanto, é que, ainda perdidas, as marcas fiquem todas
muito parecidas e não se sobressaiam umas às outras. Da mesma forma, a
falta de compreensão de que o divertimento não está, necessariamente,
ligado a festas e “curtição” prejudica ainda mais o destaque no cenário.
O segundo pecado, “Ausência de percepção pelo consumidor de benefício
tangível”, mostra o despreparo das empresas. “Parece estranho falar, mas
a ênfase excessiva em experiências sensoriais aliada a um planejamento
pobre trouxe um esvaziamento de conteúdo. É comum as pessoas entrarem em
um espaço de marca e saírem sem nada, para elas é como não tivesse
valido. Ainda existe uma cultura de que é ficar com algo concreto, que
ajude inclusive a lembrar da experiência”, diz Marina Fernandez,
Diretora de Pesquisa Qualitativa, ao portal.
O terceiro erro é a “Fragmentação excessiva”, muito usual em marcas que
respeitam um alinhamento global e, nas campanhas locais, ficam
desconectadas do propósito inicial. As plataformas não conversam entre
si e acabam confundindo o consumidor, mesmo que subliminarmente.
Deixe de lado a vaidade
O quarto pecado cometido pelas marcas é a “Obsessão pelo protagonismo”,
quando uma empresa aparece mais do que deveria nas ativações. A
insistência pode até ser parte da estratégia, mas se a ideia é oferecer
diversão e prestar um serviço, o protagonismo excessivo incomoda.
“Ninguém gosta de sentir que está sendo cobaia de um stand de vendas.
Não é legal parecer que está dentro de um comercial ou de um Trumam Show
ou de um merchan gigante. Discrição em alguns casos é a chave do
sucesso”, afirma Raquel.
O quinto, segundo a pesquisa, é o “Desejo (inconfesso) de falar com
todos”. O problema, no caso, é querer atingir um nicho e, na hora da
execução, falhar por estar no lugar errado e não ter o retorno desejado.
Ações em shopping centers, por exemplo, podem ser arriscadas, já que os
espaços lotam e o público alvo pode não ter acesso.
Em sexto lugar está a “Desconexão com as verdadeiras necessidades e
desejos do público alvo”, quando a marca tem o intuito de atingir
diversos targets e acaba se desconectando do consumidor desejado.
Bastante ligado ao quinto pecado, outro problema aqui são as estratégias
complexas a que as marcas se propõem. “Observamos, muitas vezes, ações
tão cinematográficas e difíceis de entender que passam longe do que o
consumidor está realmente querendo”, diz Marina.
Contrário ao sexto, o sétimo pecado, “Acreditar piamente no mantra ‘Não
gastamos um centavo com mídia’”, mostra que ainda existem muitas
companhias achando que um viral no Youtube ampliará a conexão com os
consumidores. “Algumas empresas acreditam que uma boa ativação na internet
vai se tornar viral automaticamente. Ninguém é mais ingênuo a este
ponto, mas ainda existe essa percepção. É necessário muito investimento,
planejamento e muito alinhamento”.
As saídas
Mesmo que os pecados existam e sejam cometidos, nem todas as empresas
erram nas estratégias na hora da ativação. Marcas como Skol, com a festa
anual Skol Sensations, em São Paulo, ou o banco Itaú, como patrocinador
do projeto Bike Rio, no Rio de Janeiro, são cases de sucesso lembrados
pelas pesquisadoras.
A marca de cerveja é patrocinadora do evento de música eletrônica desde
2009 e dialoga de forma simples e objetiva com o público alvo. A
estratégia do Itaú, no entanto, é ainda mais curiosa. Mesmo sendo uma
instituição financeira privada, o banco entendeu o cenário de mobilidade
e sustentabilidade atual e entrou como patrocinador do projeto que
aluga bicicletas em formato diário ou mensal.
“A ação não tem necessariamente a ver com o banco, mas com diversão.
Ele espalha o conceito e a marca, comunicando um manifesto que agrada e
presta serviços ao mesmo tempo. Fica uma imagem positiva, em um tipo de
ação que o consumidor gosta”, pontua Marina. O projeto deu tão certo no
Rio, que foi montado em São Paulo recentemente.
A principal lição e conclusão, segundo a pesquisa, é que as empresas
devem aprender a não subestimar o consumidor. “Existe um estereótipo
para diversão, como se tivesse que ser extroversão ao máximo. E não é. O
que o consumidor quer está nas mínimas coisas, que elas estejam
conectadas ao seu dia a dia. Se divertir é conquista, status e
reconhecimento. Infelizmente, as empresas não olham para isso e ainda
trabalham dentro de um estereótipo inexistente. Aí está o grande
problema”, reflete Raquel.
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