Incorporadoras sentem dificuldades em oferecer produtos que caibam no bolso do consumidor; lançamentos devem cair 30% neste ano
SÃO PAULO - O setor imobiliário passa por um ajuste. A forte
valorização dos imóveis nos últimos anos deixou a casa própria mais
distante do brasileiro, o que contribuiu para uma queda nos lançamentos
neste ano. Em São Paulo, por exemplo, o preço médio dos imóveis subiu
140% entre janeiro de 2008 e junho de 2012, segundo o Índice FipeZap. Em
compensação, o volume de lançamentos caiu cerca de 30% no ano.
Com isso, a expectativa de especialistas e do próprio Sindicato da
Habitação (Secovi-SP) é de que os preços devem se estabilizar. Por ora,
ninguém aposta em uma queda generalizada, embora algumas localidades
possam passar por esse processo.
A renda da população não aumentou na mesma proporção dos preços e,
por isso, muitos consumidores não conseguem comprar imóveis na região
onde moram. Para adquirir um apartamento de 100 metros quadrados na Bela
Vista, um bairro de classe média situado na região central de São
Paulo, o cliente precisa de uma renda familiar líquida de R$ 17 mil/mês
se quiser financiar 80% do valor do bem.
Só que, nesse distrito, apenas 18% da população ganha mais de R$ 15
mil por mês, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística. O mesmo exercício aplicado a outros bairros aponta
resultados semelhantes.
"Está cada vez mais difícil para o consumidor comprar a casa dos
sonhos nas grandes cidades. Quem poderia comprar um apartamento de 70 m²
há um ano hoje compra um de 50 m²", disse o vice-presidente de
incorporação imobiliária do Secovi-SP, Emílio Kallas. "O preço alto é
ruim para os incorporadores. O público consumidor dos empreendimentos
fica menor."
Euforia
O descompasso entre a renda da população e o preço dos imóveis
provocou uma parada técnica no mercado, avalia o diretor da consultoria
Embraesp, Luiz Paulo Pompeia, especializada no setor imobiliário. "Houve
uma euforia de incorporadores e consumidores. Mas o poder aquisitivo
tem limites e muitos lançamentos não cabem no bolso do cliente", disse.
Na opinião de Pompeia, os preços devem se manter estáveis na média,
mas, em alguns casos, podem até cair no ano que vem. "De 30% a 40% dos
compradores de imóveis são investidores, não é o consumidor final. Há 7
anos, esse índice era de 15%. Eles precisam revender, mas, em alguns
bairros, a demanda real já foi absorvida, principalmente por imóveis de
alto padrão."
Em São Paulo, o especialista vê potencial para queda de preços em
bairros como Campo Limpo, Vila Madalena, Bela Vista e Alto da Lapa. "A
exceção é o segmento econômico (renda mais baixa). Há demanda real para
movimentar o mercado pelos próximos dez anos", disse.
Embora continuem otimistas com as perspectivas para o setor, os
bancos, que nos últimos anos abriram as torneiras do crédito
imobiliário, não descartam estabilização dos valores. "Os preços não vão
subir com a mesma velocidade de antes. Veremos mais moderação e,
eventualmente, alguma acomodação", disse o diretor do departamento de
crédito imobiliário do Bradesco, Cláudio Borges.
"Estamos assistindo a um ajuste entre oferta e demanda", emenda o
diretor de crédito imobiliário do Banco do Brasil, Gueitiro Matsuo
Genso. "Mas vemos perspectivas para um crescimento robusto para o
setor."
Ainda sobre as perspectivas para os preços, o coordenador do Índice
FipeZap, Eduardo Zylberstajn, também adota um tom cauteloso. "Não
voltaremos mais àquela situação de altas muito expressivas", afirmou.
O diretor financeiro da construtora Eztec, Emilio Fugazza, relata que
a margem bruta média das incorporadoras de capital aberto caiu de 39%
para 26% entre 2007 e 2011. "O custo para construir subiu mais do que os
preços dos imóveis", disse.
Projetos
As incorporadoras não atribuem a retração dos lançamentos à alta dos
preços, mas a dificuldades em aprovar novos projetos. "Chegamos a levar
quatro anos para conseguir a liberação de um empreendimento em todos os
órgãos reguladores", disse o vice-presidente do Secovi.
Segundo ele, o setor tem enfrentado entraves para lançar
empreendimentos pela falta de terrenos aptos à incorporação e pela
demora na aprovação de projetos. Para o Secovi, a solução para controlar
os preços está na flexibilização das regras para lançamentos, o que
viabilizará a expansão da oferta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário