quinta-feira, 14 de junho de 2012

CCR mira ampliar venda de mídia em concessões

Após 10 anos do seu IPO e com investimentos previstos de R$ 1 bilhão em 2012, empresa espera aumentar dividendos com exploração de mídia em suas propriedades, como aeroportos, metrô e rodoviais

A CCR comemora em 2012 o décimo aniversário de sua abertura de capital — a primeira do Novo Mercado. Principal empresa de concessões de rodovias do Brasil, com receita líquida de R$ 4,577 bilhões em 2011, possui 2.437 quilômetros de estradas sob gestão, que incluem CCR Ponte, CCR Nova Dutra, CCR Via Lagos, CCR RodoNorte, CCR AutoBan, CCR Via Oeste, CCR Rodoanel, CCR SP Vias e Renovias. Nesta entrevista, Francisco Bulhões, head de comunicação, marketing e sustentabilidade, analisa a importância do IPO para o desenvolvimento do grupo, detalha os novos projetos na área de mobilidade urbana e aeroportuária, e comenta o potencial de exploração de mídia nas propriedades, como a Linha 4 do Metrô de São Paulo.
Meio & Mensagem ›› Em fevereiro a companhia comemorou dez anos do IPO. Qual a importância da abertura de capital para o desenvolvimento da empresa?
Francisco Bulhões ›› Numa breve retrospectiva, 2002 foi um ano muito especial, com eleições majoritárias. Você adiciona dois elementos: um político e econômico, e outro do momento do mercado de capitais brasileiro, que vinha de alguns anos com tentativas para aprimorar e propor novas regras para atrair novas empresas e investidores. Neste contexto, a CCR foi bastante audaciosa em se preparar para entrar num processo de abertura de capital. Entre 2002 e 2004, apenas duas empresas adotaram a política do Novo Mercado. A partir daí, com a chegada da Natura e de mais uma penca — hoje são mais de 120 empresas —, esse segmento da bolsa foi chancelado. O IPO mudou completamente todo o processo organizacional, societário e de relacionamento com os diversos públicos. Nosso próprio processo de comunicação começou a abrir mais frentes, mais linhas de diálogo com diversos públicos. Hoje, 48% do nosso capital está nas mãos de mais de cinco mil investidores brasileiros e estrangeiros. A empresa tem de se preparar, prestar contas, tem de estar aberta a um investidor vir aqui falar com o presidente, com um diretor.
M&M ››  E qual foi o resultado em termos de geração de negócios?
Bulhões ›› O princípio da abertura de capital é aumentar a capacidade de investimento da empresa, atrair novos sócios e capital. Além disso, queríamos atrair uma coisa que na época chamamos de credibilidade ou de representatividade. Éramos um grupo de sócios de um setor de construção, que não tem tradição de se expor ao mercado, e essas empresas juntas num ativo chamado CCR, que não era conhecido, num setor desconhecido também do investidor brasileiro, criavam uma oportunidade para a empresa crescer com o acesso a novas linhas de financiamento e a novos acionistas, que por sua vez abririam portas do mercado de financiamento de infraestrutura nacional e internacional. Foi uma alavanca fundamental para o crescimento que a companhia vem desenvolvendo nesses últimos dez anos. Parte de uma estratégia também. Não foi ao acaso. Foi estudado e planejado, e vem dando resultados.
M&M ›› A empresa surgiu com o foco em concessões de rodovias e depois ampliou o leque. O que motivou essa expansão?
Bulhões ›› A ampliação começou aproximadamente entre 2004 e 2005, concretizando em 2006 com o primeiro negócio, com a linha 4 do Metrô de São Paulo (com o consórcio Via Quatro). Nossa área de desenvolvimento de novos negócios foi identificando ao longo dos anos um cenário de crescimento das grandes cidades no País que daria a oportunidade à iniciativa privada de fazer investimentos em infraestrutura e mobilidade urbana. A linha quatro é o primeiro grande exemplo. Foi a primeira parceria público-privada (PPP) no Metrô em São Paulo. A linha foi desenhada para ser uma PPP, onde o governo entra com uma parte de infraestrutura, basicamente a parte de construção civil, e a empresa privada entra com sistema, equipamentos e a gestão propriamente dita. A partir dessa sensibilidade de perceber essas mudanças que viriam, a empresa começou a investir no desenvolvimento de outros negócios. Aí veio a oportunidade de participação na Controlar. O Sem Parar/Via Fácil é mais antigo. É um projeto que começou em 2002, e que nasceu muito mais de uma necessidade de gerir os meios eletrônicos de pagamento do que propriamente o desenvolvimento de uma tecnologia para outros negócios. Hoje enxergamos diferente. O Sem Parar se mostra um negócio viável para outras plataformas, como controle de frota, abastecimento, estacionamento e diversas oportunidades ligadas ao tema da mobilidade urbana.
M&M ›› E como se deu o ingresso no setor aeroportuário?
Bulhões ›› Recentemente, a Camargo Corrêa e a Andrade Gutierrez, acionistas do Grupo CCR que tinham ativos na área aeroportuária em alguns países da América Latina, concluíram que com a demanda de investimentos de empresas privadas em aeroportos no Brasil seria mais interessante concentrar seus ativos na CCR, que já era um veículo para infraestrutura de rodovias e transporte de passageiros. Elas resolveram oferecer à CCR e aos demais acionistas a oportunidade de transferir esses ativos e dar um mandato para a empresa, a partir daquele momento — isso foi no final do ano passado —, assumir toda a gestão de processos de licitação e de aquisição de aeroportos no Brasil e no exterior. O processo foi concluído e aprovado no começo deste ano. A empresa está agora num processo de transferência dos ativos dos aeroportos: Quito (Equador), Curaçao, e San Jose (Costa Rica). Na semana passada o de Quito já foi transferido. Os outros dois serão transferidos nos próximos meses.
M&M ›› No Brasil, o grupo participou, mas não venceu a licitação — resultado que valorizou suas ações. Ainda existem planos para entrar nesta área no País?
Bulhões ›› Nós entramos em consórcio com a Zurich. Participamos, mas, infelizmente, não fomos vencedores. Com o resultado, as ações do grupo se valorizaram. Mas não foi só com a gente que isso aconteceu. A nossa interpretação depois do processo acontecido é que o mercado entendeu que as propostas vencedoras foram agressivas demais e que, portanto, iriam destruir valor em vez de trazer valor. Se você faz algum tipo de aquisição, participa de alguma licitação ou faz uma oferta considerada excessivamente agressiva, suas ações são penalizadas. O mercado é muito pragmático. Se você está entrando num negócio que você não explicou de onde virá o resultado ou se este resultado não se mostra satisfatório àquela expectativa, certamente vão penalizar você em termos de valor da ação. A CCR foi responsável em relação ao capital dos seus acionistas, de todos os níveis, e foi bem percebida. Havendo outras licitações, o grupo vai participar. Mas sempre com o mesmo cuidado, com disciplina de capital, a preocupação com uma avaliação muito cuidadosa dos investimentos, custos operacionais e viabilidade econômica.
M&M ›› Ainda na área de mobilidade urbana, o grupo tem dois novos ativos: Transolímpica e Barcas. Em que fase estão estes projetos?
Bulhões ›› A Transolímpica foi uma licitação que vencemos em consórcio com outras duas empresas (Invepar e Odebrecht TransPort). É um tipo de projeto que chamamos de greenfield: o projeto não existe ainda, você foi vencedor da licitação da implantação de um projeto. A coisa mais parecida é a Linha Amarela no Rio de Janeiro, que foi construída nos anos 1990 desta maneira. É uma via expressa que vai ligar a Barra da Tijuca a região de Deodoro, onde será a Vila Olímpica. Com os investimentos para os Jogos Olímpicos, essa região vai se desenvolver. Tem um potencial imobiliário muito grande. A via entrará em operação antes da Olimpíada. O contrato de exploração é de 35 anos. Assinamos há dois meses. Já a Barcas é outro processo. A Barcas é uma ligação importante no Rio de Janeiro (transporta passageiros na Baía da Guanabara). Tem mais de 100 mil passageiros por dia. É um projeto já existente. É um contrato com o governo do estado começado em 1998, mas que entrou em processo de degradação porque não houve reajuste de tarifa. É um projeto de revitalização completa por um período ainda longo. Compramos 80% do capital da concessionária (a Barcas S.A. por R$ 72 milhões). O negócio ainda não foi concluído porque estamos na fase de autorização do poder concedente. Mas vamos assumir para fazer uma série de investimentos, trocar os equipamentos e melhorar os terminais. A concessão inicial era de 25 anos e agora passou para 35 anos com a negociação.
M&M ››  Quais os investimentos previstos para estes novos projetos?
Bulhões ›› Para o ano, o nosso investimento total é de R$ 1 bilhão. Sem considerar os novos negócios que ainda não foram transferidos. Cada negócio tem um pacote de investimentos previsto. Quando você assina o contrato, se compromete. Aí nós adicionamos à nossa previsão de investimento.
M&M ›› A Copa do Mundo e a Olimpíada devem apresentar novas oportunidades de negócio em termos de infraestrutura?
Bulhões ›› Sim. O que acontece é que o contexto de negócio da CCR é de longo prazo. São contratos de 35 anos. Fora do Brasil, têm contratos de 90 anos. Os eventos são importantíssimos para motivação e movimento de melhoria da infraestrutura e da mobilidade urbana, mas, para o nosso negócio, eles são simplesmente eventos. Estamos mais preocupados com o que vai acontecer depois. Se o projeto do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), por exemplo, se tornar viável, se a Prefeitura do Rio de Janeiro resolver colocar a licitação do projeto na rua, nós certamente vamos entrar, desde que seja viável no longo prazo. A CCR não é construtora. Ela vem para ficar, desenvolver infraestrutura e gerar resultado com isso. 
M&M ›› Quanto cada divisão representa dentro dos negócios do grupo?
Bulhões ›› Basicamente, 90% a 95% é concessão de rodovias. Temos uma projeção que provavelmente em 2020 esse número caia para 70%, 65% do total do negócio da CCR, com os outros modais representando entre 30% e 35%, principalmente mobilidade urbana e aeroportos. Mas isso é uma projeção. Daqui a oito ou dez anos a empresa deve estar ainda com boa parte do seu negócio no segmento de concessão de rodovia, mas com tendência das outras áreas aumentarem. Além de 2020, não temos projeção muito clara. Depende de mudança de governo, de política de investimento. Mas acreditamos que mobilidade urbana, aeroportos e portos, que ainda não é um negócio em que atuamos, tendem a crescer muito.
M&M ›› Nas concessões administradas pelo grupo existem propriedades de mídia. Como esse tema é tratado pela companhia?
Bulhões ›› Ainda exploramos muito pouco esse mercado. A Via Quatro é um exemplo de como isso pode se tornar um componente importante. Quando começamos no negócio de concessão de rodovias, não encontramos nenhuma empresa representativa com um percentual de receita de mídia significativo em comparação à receita de pedágio. Esse percentual não passava de 4%, 5% da receita total. Esse número, em relação à receita, é baixo. Não significa que ele é pequeno. Nominalmente ele pode ser grande. Daí a razão da CCR nunca ter desenvolvido um investimento para ampliar essa área. Não significa que não estamos atentos. É o exemplo da Via Quatro, que tem outro tipo de comportamento e de utilização. Foi montado um processo de seleção e o Terra foi contratado para um projeto muito inovador, mas específico para o Metrô. Vamos agora para o mercado aeroportuário, que é outra coisa. É como se fosse um shopping center. Neste setor, a receita oriunda da publicidade, da locação de espaços, quiosques, de ações comerciais e exploração de estacionamento é muito maior. Acredito que a diversificação e a entrada em negócios que tenham mais atratividade para o mercado publicitário possam trazer mudanças na estratégia da empresa.
M&M ›› A relação entre uma concessionária e o público é delicada, pois o usuário passa a ter de pagar para trafegar. Qual o papel da comunicação neste contexto?
Bulhões ›› Não gostaria de rotular que foi o papel do marketing, da comunicação ou da publicidade. Foi um movimento da necessidade de relacionamento mesmo. A partir do momento em que uma empresa privada assume um ativo que é público, uma rodovia, que no geral você não pagava pedágio e não tinha de quem cobrar o serviço, você passa a ter uma figura jurídica com endereço, CNPJ, e responsabilidade civil. A infraestrutura passa a ter nome e endereço, e alguém para ser cobrado. A empresa privada acaba sendo motivada, pressionada e demandada a se comunicar de uma maneira diferente. Isso significa marketing, comunicação, interna e externa, publicidade. A origem desse movimento é mais relacional, de prestação de conta e informação, do que pela competição. Impelido por esse tipo de relacionamento com o público usuário, uma massa gigantesca, as empresas foram desenvolvendo formas de relacionamento, e, com a chegada da CCR — as concessões vieram antes do grupo —, acabamos capitalizando algumas dessas atividades. As ações de comunicação, marketing e relacionamento ficavam com as concessionárias, e fomos aprendendo algumas formas de canalizar isso para a CCR, especialmente para que a empresa ficasse visível e capturasse um pouco da imagem e da percepção que a gestão das concessionárias detinha. A partir do momento em que essa empresa ganha capacidade de imagem, de percepção, nós podemos apresentá-la como solução, como uma parceria capaz de fazer novos investimentos em outras infraestruturas. Essa foi a lógica em termos de marketing, de construção de marca e de relacionamento feito nestes anos. Em função do crescimento e das demandas, começamos a trabalhar de forma institucional publicidade (agência Mood), comunicação (RP1), design (Yemni Branding, Design & Comm), marketing cultural (Jleiva), digital (AdBat/Tesla), pesquisas (Somar e Datafolha), sustentabilidade (consultoria Axia) e conteúdo (New Content).
M&M ›› O resultado da CCR do primeiro trimestre apontou alta de 14,5% na receita líquida (R$ 1,194 bi), de 17,9% no Ebtida (R$ 780,5 milhões) e de 64,7% no lucro líquido (R$ 288,6 milhões). Já o PIB do País cresceu 0,2%. O que é possível esperar do ano?
Bulhões ›› O desempenho do grupo foi extremamente satisfatório. O crescimento de tráfego tem uma correlação com o PIB, então sofremos um pouco quando a economia para ou diminui o seu ritmo. Mas como resultados, temos trazido bastante alegria para os investidores. O nosso negócio é muito atrelado ao PIB, principalmente o de concessão de rodovias, que é o nosso negócio mais representativo. Trabalhamos sempre com uma elasticidade de uma vez a uma vez e meia. Se o PIB der 3%, a CCR deve estar entre 3% e 4,5%.

 

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