Projeto revisa a Operação Urbana Água Branca para adensar a região entre a linha férrea e o Rio Tietê, hoje tomada por galpões
A Prefeitura de São Paulo quer lançar no mercado um estoque de
títulos imobiliários que vai permitir a construção de 16.740
apartamentos no eixo Lapa-Barra Funda, na zona oeste da cidade. O
objetivo é levar cerca de 66,9 mil moradores para espaços ociosos ao
longo da linha férrea, que corta a região. Se todo o potencial
construtivo for vendido, serão 160 habitantes por hectare em bairros
cuja ocupação média hoje é de 36 por hectare.
O projeto de lei que revisa a Operação Urbana Água Branca, obtido com
exclusividade pelo Estado, permite um adicional de 1,85 milhão de
metros quadrados no perímetro de 540 hectares entre a Lapa e a Barra
Funda. A nova cota é três vezes maior do que os 409 mil m² consumidos
nos últimos 17 anos na área da operação, e que permitiram a chegada de
empreendimentos como o Bourbon Shopping, o condomínio Casa das Caldeiras
e o câmpus da Universidade 9 de Julho (Uninove).
O estoque extra será negociado na Bolsa de Valores, em leilão, por
meio da venda de Certificados de Potencial Adicional de Construção
(Cepacs). Os títulos permitem à iniciativa privada construir acima da
metragem estabelecida na lei de zoneamento.
Segundo a Prefeitura, a área que foi adensada por prédios comerciais
na Pompeia, em Perdizes e na Água Branca será "protegida" pela nova
legislação. O foco agora é atender a demanda por prédios residenciais na
Lapa e na Barra Funda, especialmente na área entre a linha do trem e o
Rio Tietê.
Residências. Ao propor a revisão da operação urbana, a gestão
Gilberto Kassab (PSD) argumenta que houve uma mudança de perfil na
região, antes com vocação comercial e hoje, majoritariamente
residencial. Técnicos da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano
justificam que há dezenas de galpões do "outro lado da linha do trem",
muitos abandonados há duas décadas, que podem ser substituídos por
torres de apartamentos.
Os bairros são dotados de boa infraestrutura de transportes públicos.
Lançamentos recentes na região têm 100% de unidades vendidas em menos
de dois meses, segundo corretores.
Tanto interesse se traduz em números. Do total de 1,85 milhão de m²
extras, 1,05 milhão será vinculado a empreendimentos residenciais. É
mais que o triplo do estoque atual, fixado em 300 mil m². O novo estoque
residencial ainda representa 59% dos 3,11 milhões de m² edificados em
toda a capital paulista em 2011 - foram 443 prédios no ano passado, com
38.149 apartamentos, segundo a Empresa Brasileira de Estudos de
Patrimônio (Embraesp).
Melhorias. A dúvida de especialistas, porém, é se a chegada de novos
prédios vai se reverter em melhorias para a população, o que não ocorreu
nos primeiros 17 anos da Operação Urbana Água Branca. O corredor
comercial que se consolidou na última década na Avenida Francisco
Matarazzo ainda não se reverteu em obras e benefícios viários e
urbanísticos, como previa o projeto original de 1995.
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