A última pesquisa sobre avaliação
do governo, publicada pela Folha de S.Paulo no domingo (22/4), cria a
oportunidade para algumas reflexões interessantes sobre a reputação da
imprensa tradicional.
Reputação, aqui, quer significar a convergência
entre a maneira como uma instituição pretende ser vista, seus atributos
reais e o modo como é realmente percebida. Esta análise, que a
circunstância torna obrigatoriamente ligeira, leva em conta,
principalmente, a intenção da imprensa de se apresentar como gatekeeper –
ou guardiã da ética –, suas reais condições de ainda cumprir esse papel
e o efeito real desses atributos sobre a sociedade.
Em primeiro lugar, é preciso convencionar que a questão da ética tem
tomado espaço predominante no noticiário sobre política, enquanto na
economia a temática mais frequente tem sido o desenvolvimento econômico
do Brasil – questões pontuais da economia são quase sempre relacionadas a
possíveis efeitos de uma crise externa no desempenho nacional.
Candidato preferido
Para se estabelecer um período específico de observação, tomamos a
década, que coincide com a eleição do ex-presidente Lula da Silva para
seu primeiro mandato. Em seus dois primeiros anos de governo, o
noticiário político se concentrava na formação das alianças de governo, e
o jornalismo econômico criticava a escolha estratégica de buscar o
desenvolvimento com base em políticas sociais de distribuição de renda.
A partir de 2005, com os primeiros resultados positivos que superaram a
curta instabilidade iniciada em 1999, o interesse dos jornais se
concentrou nas denúncias que acabaram sendo unificadas sob a denominação
de “mensalão”. Desde então, e até os dias de hoje, não há tema mais
recorrente na mídia do que os escândalos de corrupção.
Essa é, portanto, a base de valores sobre a qual a imprensa pretende
montar sua reputação: ela teria como atributo essencial marcar o
território da ética e denunciar seus desvios. Nesse contexto, se a
reputação da imprensa fosse o que ela imagina ser, ou seja, se a
sociedade visse a imprensa como ela pensa que é, não apenas o
ex-presidente Lula da Silva como sua sucessora, a presidente Dilma
Rousseff, deveriam estar amargando pesados índices de rejeição.
Mas o que dizem as pesquisas publicadas pela Folha de S.Paulo?
Exatamente o contrário, ou seja: a sociedade brasileira aprova o governo
de Dilma Rousseff, que bate novo recorde positivo com 64% de avaliações
como “ótimo” ou “bom”, e apenas 5% dos consultados afirmando que seu
governo é “péssimo”.
Numa extensão da consulta, o instituto Datafolha quis saber qual seria o
candidato preferido para a eleição presidencial de 2014 e o resultado
foi que Lula da Silva é o predileto, com 57% do total, contra 32% que
prefeririam um novo mandato da atual presidente. Numa hipotética disputa
com o oposicionista José Serra, Dilma seria eleita com quase 70% dos
votos num segundo turno.
Texto de Luciano Martins Costa, publicado no Observatório da Imprensa
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