Está pronto para ser votado na Assembleia Legislativa de SP projeto que, se aprovado, limitará liberdade de expressão e de escolha de seus cidadãos
Está pronto para ser votado na Assembleia Legislativa de São Paulo um projeto de lei que restringe a publicidade
dirigida ao público infantil. De autoria do deputado estadual e
presidente nacional do PT, Rui Falcão, a proposta deve ir à Plenário
ainda neste semestre. Se aprovada, colocará São Paulo em uma vanguarda
duvidosa: a dos estados que limitam a liberdade de expressão e de
escolha de seus cidadãos.
O argumento de quem defende a adoção desse tipo de medida é que as
crianças do Brasil estão em perigo e os pais já não são mais capazes de
proteger seus filhos, por isso precisam de leis que ditem, em seu nome, o
que as crianças podem ou não fazer.
Projetos desse tipo pulularam nos últimos anos em Brasília e nos
estados. Eles sustentam que as crianças são facilmente manipuladas e que
estão se tornando vítimas indefesas do desejo de consumir. Assim,
articula-se um movimento que, além de tutelar a família, pretende
cercear a liberdade de expressão.
Lembre-se, ainda, que a imprensa precisa de um mercado publicitário
pujante para ter garantida sua autonomia. Sem isso relação, o jornalismo
ficaria atrelado à propaganda oficial. É um exemplo de como esses
projetos de lei atingem muito mais do que seu alvo imediato.
Boa parte das propostas toma como base estudos de entidades de proteção
às crianças, como o Instituto Alana. “Defendemos uma restrição total”,
afirma Isabella Henriques, coordenadora do Criança e Consumo, projeto do
Alana que tem como objetivo reduzir o impacto do “consumismo e da
publicidade” na formação da infância.
O movimento tem 7.400 seguidores no Twitter e 2.640 no Facebook. "Não
deveria haver nenhum tipo de mensagem comercial voltada ao público menor
de 12 anos. Até os 8 anos a criança não consegue distinguir uma
mensagem comercial de um conteúdo de entretenimento. Ela precisa ser
protegida."
Em São Paulo - Baseado nos argumentos da Alana, o deputado estadual Rui
Falcão apresentou um projeto de lei que prevê a proibição, no âmbito
estadual, da propaganda de alimentos e bebidas com baixo índice de
nutrientes e com alto teor de gordura dirigida ao público infantil. O
projeto, apresentado em março de 2008, estabelece que, entre as 6h e às
21h, fique vetada, no rádio e na televisão, a propaganda voltada para as
crianças.
Falcão também quer proibir escolas públicas e privadas de abrirem
espaço para mensagens comerciais voltadas ao público infantil. Se
aprovada, a lei impedirá ainda que celebridades e personagens infantis
participem das peças publicitárias e vetará a distribuição de brindes e
brinquedos associados à compra do produto. Em caso de descumprimento
dessas restrições, serão aplicadas multas e suspensão da veiculação da
publicidade.
Apesar de não ser de competência estadual – a Constituição Brasileira
estabelece que compete privativamente à União legislar sobre propaganda
–, o projeto foi aprovado no último dia 22 de março pelas três comissões
permanentes da Casa: Constituição, Justiça e Redação; Finanças e
Orçamento; e Transporte e Comunicações.
O argumento de Rui Falcão é que a medida está de acordo com o artigo 37
do Código de Defesa do Consumidor, sobre o qual o estado tem
competência para legislar. O artigo proíbe a publicidade enganosa ou
abusiva que se aproveite da deficiência de julgamento e experiência das
crianças.
Em Brasília - No Congresso, tramita uma dezena de
projetos semelhantes. Um deles, de número 5.921, está há mais de dez
anos na Câmara dos Deputados e é considerado o mais emblemático a
respeito do assunto porque traz em seu texto a proibição total de
propaganda para o público infantil.
Apresentanda pelo então deputado federal Carlos Hauly (PSDB-PR) em
2001, a proposta já foi aprovada por duas comissões temáticas da Casa: a
de Defesa do Consumidor, em 2008, e a de Desenvolvimento Econômico,
Indústria e Comércio, em 2009. Desde então, segue em análise na Comissão
de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática.
Uma das propostas com a tramitação mais avançada é o projeto de lei do
Senado nº 150, de 2009, da ex-senadora Marisa Serrano (PSDB-GO). A
medida sugere alterações nas embalagens, na publicidade e nas regras de
marketing direcionado às crianças de produtos que tenham muito açúcar,
gordura saturada, gordura trans, sal e de bebidas de baixo teor
nutricional.
A exemplo do projeto estadual de Rui Falcão, o texto determina
alterações na elaboração e no horário de exibição de comerciais de
alimentos calóricos voltados a crianças e proíbe a associação ao produto
de artistas ou personagens ligados ao público infantil.
A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado
designou, há cerca de um mês, a senadora Marta Suplicy para ser a
relatora do projeto. A matéria está em análise, ainda sem parecer.
Os parlamentares que defendem a restrição da publicidade usam como
exemplo limites estabelecidos por outros países. Nos Estados Unidos, a
propaganda para crianças e adolescentes é limitada a 20% do total
veiculado. Há um limite de 10 minutos e 30 segundos de publicidade por
hora nos fins de semana e de 12 minutos por hora durante a semana.
Eles também proíbem a vinculação de personagens infantis à venda de
produtos. Na Suécia, é proibida a publicidade na TV dirigida à criança
menor de 12 anos antes das 21 horas e, na Inglaterra, é proibida a
publicidade de alimentos com alto teor de gordura, sal e açúcar dentro e
durante a programação de TV para o público menor de 16 anos.
Moralismo - A sensação de controle e segurança
implícitos nas propostas não passa de ilusão. “A proibição da
publicidade infantil é um movimento muito mais preocupado com o
moralismo do que com a educação e o bem-estar das crianças", acredita
Fabio Mariano Borges, professor de Pós-Graduação em Ciências do Consumo
Aplicado da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). "Ela tira
os pais de cena, como se eles não tivessem mais responsabilidades sobre
seus filhos."
O deputado federal Milton Monti (PR-SP) considera equivocada a
percepção de que a televisão educa a criança. "Educação compete à
família. O Congresso tem que se preocupar em oferecer educação e cultura
e não em proibir a propaganda."
Presidente da Frente Parlamentar da Comunicação Social do Congresso
Nacional, Monti defende a autorregulamentação como o instrumento mais
democrático nessa matéria. "Ela garante liberdade total editorial dos
veículos de comunicação."
As agências - Por seu empenho em impedir que o
Congresso interfira no ambiente familiar, Monti foi procurado pela
Associação Brasileira de Agências de publicidade (Abap) para ser uma das
vozes do movimento Somos Todos Responsáveis.
"Nós, publicitários, temos consciência do grau de persuasão de uma
propaganda. As crianças de hoje já nascem com a publicidade em todos os
lugares e a solução não passa pela simples proibição”, diz Luiz Lara,
presidente da Abap. “Liberdade exige responsabilidade.”
A campanha foi estruturada a partir de uma pesquisa que mostrou o
interesse da sociedade em discutir a questão da publicidade para
crianças e uma lacuna de informações a respeito do tema. Uma das
principais ferramentas do movimento foi a criação de um blog, que reúne
vídeos com autoridades e pais anônimos defendendo a liberdade de
expressão.
Entre os apoiadores do movimento estão o ministro da Saúde, Alexandre
Padilha, o ministro do Supremo Tribunal Federal José Antonio Dias
Toffoli, o cartunista Maurício de Sousa e o presidente nacional da Ordem
dos Advogados do Brasil, Ophir Cavalcanti. A campanha está presente nas
redes sociais, como Twitter e Facebook, que juntos somam mais de 4.800
seguidores – 70% deles têm entre 24 e 44 anos e 60% são mulheres.
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