Nas conversas agitadas como o de costume nos pavilhões do Salão de
Automóvel de Pequim, duas palavras se destacavam num mar de mandarim e
inglês carregado de sotaque: Brasil e IPI (Imposto Sobre Produtos
Industrializados).
O aumento no IPI para os carros importados de marcas que não possuem
fábrica no Brasil e o novo regime automotivo impostos pelo governo
dominaram quase todas as conversas na mais importante feira do maior
mercado de carros do mundo.
"É uma decisão muito injusta. A competição é boa para o mercado e o
aumento de impostos impede a entrada de novos competidores ou tirar a
competitividade de seus produtos", reclama Wayne Liao, diretor regional
para a América do Sul da Haima, que adiou novamente a venda de produtos
no Brasil, desta vez para o final deste ano.
As chinesas que estão há mais tempo no mercado brasileiro optaram por
fábricas para escapar do aumento, mas os planos de construção foram
acelerados depois que o governo introduziu o novo regime automotivo.
A Chery está investindo R$ 700 milhões para começar a produzir no Brasil
já no final do ano que vem. Segundo Zou Biren, presidente mundial da
Chery International, um ano antes do previsto no projeto original.
"O governo determinou o aumento e não tivemos alternativa se não acelerar a construção de nossa fábrica", afirma Biren.
Salão do automóvel na China
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Visitantes observam a nova Ferrari, F12 Berlinetta, exposto na Exibição Internacional Automotiva de Pequim, na China
ESTRATÉGICO
O Brasil é considerado estratégico para a montadora. Era o primeiro em
vendas fora da China, mas, depois do aumento no IPI, passou a perder
para o Irã.
A planta na cidade de Jacareí (SP) será a primeira da marca fora da China e terá capacidade para 150 mil carros por ano.
"Parte da produção, cerca de 20%, poderá ser exportada para outros
países do Mercosul e ainda teremos margem, dentro das novas normas, para
importar uma boa quantidade de veículos", revela Luís Cury,
vice-presidente da Chery Brasil.
Já a Jac, que chegou a rever sua decisão de produzir no Brasil,
confirmou que inaugura uma planta em Camaçari (BA) até o final de 2014. O
investimento é de R$ 900 milhões e a capacidade para 100 mil carros por
ano.
"Com o super IPI, quem não tiver uma fábrica no Brasil não sobrevive",
diz Sérgio Habib, presidente do grupo que importa a Jac para o país. Um
terço do investimento será feito pela estatal chinesa.
Com o aumento de IPI, Chery e Jac reduziram sua previsão de vendas em
2012 de 60 mil para 30 mil carros e esperam um mercado estável ou até
com queda no crescimento.
"Não é só o IPI, a oferta de crédito no Brasil diminuiu em 2012. Os
bancos recusavam 20% das fichas de financiamento, hoje estão reprovando
cerca de 35% e quase não há mais o parcelamento em 60 meses, no máximo
em 48 meses. E no Brasil, o valor da prestação tem mais impacto para o
consumidor, e na venda, do que o valor da taxa de juro", avalia Habib.
O jornalista RICARDO RIBEIRO viajou a convite da Chery
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