Nova geração do Beetle apela para saudosismo no nome e em detalhes.
De Fusca
sobraram o desenho básico e o nome... Apesar de ter ressuscitado o
termo, a nova geração do Beetle, recém-lançada no Brasil, se mostra bem
superior à anterior e um outro carro em relação ao modelo original, que
conquistou o coração de milhões de brasileiros décadas atrás.
Usar o termo Fusca -e até um garoto-propaganda dos tempos de glória do
"carrinho", o craque Rivellino-, é uma boa jogada de marketing da
Volkswagen porque tanto esse nome quanto o visual ainda inspirado no
hatch popular provocam empatia.
Nova geração é mais larga, mais baixa e mais
comprida que a anterior (Foto: Raul Zito/G1)
O ar de "carro amigão" permanece nos contornos arredondados e no
desenho dos faróis, que agora têm acabamento opcional com luz diurna em
LED. Mas essa conversa acaba aí: de "meigo", o novo Fusca não tem mais
nada.
O modelo à venda no Brasil, importado do México, é um carro esportivo,
com motor 2.0 turbo TSI de 200 cavalos a gasolina (também oferecido no Jetta) e transmissão manual ou câmbio automatizado de dupla embreagem, que abre passagem na estrada.
Desta forma não há por que comparar o novo Fusca com o icônico carro da
VW. Vale mais mostrar como ele evoluiu em relação ao New Beetle.
Para essa "missão", o G1 contou com a ajuda de quem
convive com a geração anterior. Iraihana Leonardi, empresária de 28
anos, de São Paulo, tem um Beetle 2.0, automático, ano 2010. Antes dele,
ela circulava em um BMW Série 1, mas o espaço menor na garagem do
prédio levou-a ao hatch, ainda que com certa desconfiança, pois ela diz
gostar de carros maiores e não se vê dentro de um Mini nem de um Fiat
500.
Ufa, painel mudou
No Brasil, o Fusca por enquanto é
vendido em uma única configuração, a Sport. O interior do carro pareceu
impressionar mais Ira, como é conhecida, do que o exterior, que ela
descreveu como mais masculino -ponto para a Volkswagen, que agora quer
atrair mais os homens.
Iraihana se surpreendeu com o novo interior
(Foto: Raul Zito/G1)
A expressão da empresária ao abrir a porta do hatch na versão mais top
foi de surpresa agradável. O primeiro comentário foi sobre o painel,
que, no antigo Beetle, é profundo, deixando o para-brisa distante do
motorista.
"Está muito melhor. Dá mais noção de onde a frente acaba. E, no meu
carro, é impossível eu usar o GPS [comprado avulso] direito... não tem
como grudar no vidro porque fica muito longe do alcance das mãos.
Geralmente, meu marido tem que ficar segurando o aparelho", reclama.
Acima, painel do Fusca; abaixo, o do antigo
Beetle, mais recuado (Foto: Raul Zito/G1)
Com acabamento em preto, o novo painel tem apelo esportivo. Muito já
foi dito sobre a eliminação do estranho "vaso" de flor que o Beetle
trazia e que confirmava seu rótulo de carro de menininha. "Flor não dá,
né? O meu eu uso como porta-rímel. É a única coisa que cabe ali", conta
Ira.
Entraram em cena, na parte superior central, medidores de pressão do
turbo, de temperatura do óleo e um cronômetro. O volante também é
esportivo. E o modelo agora conta com central multimídia em tela
sensível ao toque. O GPS integrado é opcional. Na versão completa, o som
é Fender -sim, a marca da guitarra e de amplificadores.
Ao volante
O rock n' roll do novo Fusca começa
quando se liga o motor (sem chave, outro opcional). O ronco do motor foi
feito para lembrar o do carro que lhe deu nome. A resposta do
acelerador, assim como no Beetle anterior, é rápida. Na cidade, o
motorzão ignora as subidas mais íngremes. Porém, como carro está mais
baixo que a geração anterior, ainda é preciso cuidado para não bater a
frente ao passar por uma depressão. O pedal do freio ficou mais
sensível, o que pode não agradar a todo mundo no anda e para do
trânsito.
Sai o "vaso" de flor (acima), que a dona do Beetle
antiga usa como "porta-rímel", e entram em cena
instrumentos esportivos (Foto: Raul Zito/G1)
Mas é na estrada que o modelo mostra sua vocação. O G1
experimentou o hatch na Rodovia dos Bandeirantes, na Ayrton Senna e na
Carvalho Pinto, no interior de SP. E constatou que ser ultrapassado por
um Fusca podia ser motivo de piada antes... agora, será comum.
Estabilidade
Ira comenta que viaja bastante com o
antigo Beetle, principalmente entre São Paulo e o Rio de Janeiro. Como
outros consumidores, ela se queixa da estabilidade do antecessor do
Fusca. "Ele sempre dá uma escapada, na traseira. Tem que ir corrigindo."
No carro atual até se sente a traseira puxando bem de leve nas curvas
em velocidades mais altas, mas isso não causa sensação de insegurança ou
exige esforço do motorista. O Fusca conta com freios ABS e controle de
tração (ASR), além do aerofólio traseiro, item que a própria VW
reconhece que faltava. A direção, leve, responde bem rápido (e passa a
ter ajuste de profundidade, outro item que fazia falta, segundo Ira). A
inclinação nas curvas, outra reclamação em relação ao Beetle antigo,
também foi resolvida.
O ajuste mais firme da suspensão, no entanto, não significa desconforto
para os passageiros. Por outro lado, há ruído a bordo, mas nada que
impeça uma conversa.
Volante esportivo tem boa 'pegada' e a direção
responde rápido; controles são de série na versão
com câmbio automatizado (Foto: Raul Zito/G1)
A opção S da transmissão de dupla embreagem, que equipava a versão
avaliada, deixa a condução mais divertida, melhorando ainda mais as
respostas da direção. Essa versão conta com borboletas (paddle shifters)
para trocas de marcha ao volante, que também possui controles para
rádio, telefone e computador de bordo.
Banco de trás
Os bancos dianteiros "vestem" bem.
Menos conforto têm os passageiros de trás, fato consumado nos compactos.
No Fusca, não se trata de um banco só para fazer figuração; é possível
levar quatro pessoas, sobretudo com as novas medidas - o carro ficou
mais largo (8,4 cm) e mais comprido (15,2 cm). Mas, se o trecho for
longo, o cansaço é inevitável.
Banco traseiro do Fusca (Foto: Raul Zito/G1)
A dona do Beetle repara que a posição do assento traseiro, inclinada,
continua a mesma, mas parece haver mais conforto no formato do banco.
"No meu carro já tive que levar minha cunhada, grávida, do Rio a São
Paulo, e ela teve que se revezar com meu marido no banco da frente, de
tão ruim que era viajar atrás. Mesmo para criança não é legal", relata.
Alguma ginástica é requerida para entrar e sair do banco de trás,
considerando que o carro só tem duas portas, mas o sistema que inclina e
permite empurrar facilmente o assento da frente melhorou, opina Ira.
Mesmo para o motorista, o teto mais baixo que o anterior requer algum
esforço na entrada. A linha de cintura do hatch também subiu,
estreitando um pouco mais as janelas. Para Ira, a visão traseira do
antigo Beetle é melhor.
Na 'guerra' de porta-malas, o Fusca leva a melhor
com 310 l contra 209 l do Beetle (Foto: Raul Zito/G1)
O porta-malas evoluiu: a capacidade aumentou de 209 litros para 310 l. E
uma das "graças" do novo Fusca é que a tampa pode ser aberta apertando o
logo da VW.
Já o teto solar (outro opcional) piorou, segundo a empresária. No
antigo Beetle, a oferta de posições de abertura é maior e ele abre
completamente. "No novo, o teto abre muito pouco", compara.
Saudosismo
Se a "pegada" do antigo Beetle era parecer um Fusca moderninho, é bom
reforçar que o desenho atual mudou bastante, mesmo tendo sido mantidas
as linhas básicas dos 3 arcos. O capô dianteiro e o porta-malas têm
traços mais quadrados. As lanternas encostam na tampa do porta-malas e
são mais angulares, assim como os faróis de neblina.
A coluna "A", onde está o para-brisa, ficou mais ereta, o que, segundo a
marca, lembra mais o antigo Fusca. Mas a novidade que mais se destaca é
o aerofólio traseiro. Em geral, o carro ficou mais robusto: pode
desagradar a alguns e, em contrapartida, conquistar outros consumidores
avessos à "meiguice" da geração anterior.
Porta-luvas superior, que abre para cima, com
alavanca; embaixo, porta-objetos com elástico;
contorno da caixa de som pode mudar de cor
(Foto: Raul Zito/G1)
Obviamente, a montadora não pretende desvinculá-lo do "Fusquinha"
original, apesar de se tratar de produtos muito diferentes. Por isso
incluiu (ou manteve) detalhes nostálgicos. O estreito "porta-luvas" na
parte superior do painel, que abre com uma alavanca, é um exemplo (muita
gente, à primeira vista, pensa que só existe esse espaço para objetos).
Ele coexiste com o porta-luvas de verdade, na parte inferior do painel.
A alça para o passageiro do banco de trás se segurar continua lá. Assim
como o estribo lateral, que não serve mais para se pisar, mas voltou a
ter uma faixa cromada.
Para enfatizar a aura moderna e jovem, a VW inventou uma iluminação
"personalizada" das portas (só dá para ver direito à noite), em que se
pode escolher entre azul, vermelho ou branco. Lembra um neon dos anos
80. É um detalhe dispensável, enquanto há outros que poderiam ter sido
melhorados, como o porta-objetos, na porta, que é um elástico (no
Beetle, era uma redinha). O acabamento, em geral, é simples para a faixa
de preço.
Conclusão
O Fusca mudou muito em relação ao antigo Beetle, mas é só sair com ele
nas ruas para constatar que o carisma permanece. É um trunfo em relação
aos rivais, mas, justamente por ter uma "cara" tão singular, é um carro
tipo "ame-o ou deixe-o", independente de quanto ele acelere.
Na tampa do porta-malas, nome Fusca; logo
da VW é usado para abertura (Foto: Raul Zito/G1)
Os preços, a partir de R$ 76,6 mil, com câmbio manual, e de R$ 80,9
mil, com o automatizado, podendo chegar a pouco mais de R$ 100 mil com
os opcionais da versão testada, são bem salgados quando se pensa em
Fusca, mas agora o público é outro: a Volkswagem mira quem "namora" um
Citroën DS3, um Audi A1, um Mini... Em resumo, é um carro de imagem.
Pelo conjunto, o novo Fusca é uma proposta tentadora. Ira é fã de
carrões (pretende um dia comprar um Chevrolet Camaro). Mas, ao ser
perguntada se ter um carro chamado Fusca hoje em dia soaria mal,
responde rápido: "Claro que não".
Mesmo com novas linhas, modelo mantém os arcos que fizeram fama no icônico Fusca (Foto: Raul Zito/G1)
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