Entenda como serviços e produtos considerados ultrapassados por muitos se reinventaram para sobreviver à revolução tecnológica que o Brasil alcançou nos últimos 20 anos
Antes líderes de mercado e presentes no imaginário dos consumidores,
empresas como TeleListas.net, Xerox e Polaroid são algumas das maiores
vítimas da revolução digital. Para elas, se repaginar e inovar foram as
únicas saídas para não caírem no esquecimento. Mesmo assim, não há
receita única para empresas que tiveram seu auge continuarem a alcançar
os mesmos resultados. O caminho é passar por adequações para resistirem
às mudanças.
Grande parte da instabilidade dos grupos,aponta Luis Carlos Padrão, é
reflexo de um modelo dinâmico do mercado mundial, que tem a incerteza e a
volatilidade como características fundamentais. Esses atributos são
gerados por três fatores: a dificuldade de se prever a preferência dos
clientes e a demanda; o lançamento rápido de produtos pela concorrência;
e a incerteza sobre a tecnologia certa a ser utilizada nos produtos e
serviços.
Adaptação tem de ser criteriosa
A percepção da necessidade de evolução ou adaptação de um modelo de
negócio não deve chegar quando o faturamento já não alcança mais os
números esperados. Antes de anunciar uma mudança que atinja os
consumidores, é fundamental que a empresa inove internamente. “Depois
dessa mudança interna, ela deve tentar se diferenciar da concorrência
por intermédio da inovação em produtos ou pela sua excelência
operacional”, avalia Luis Carlos Padrão.
O entendimento da mudança econômica pela qual o país passou nos últimos
20 anos e, por consequência, a ampliação do poder aquisitivo do
brasileiro, foram essenciais para que a Xerox ampliasse o diálogo com o
usuário doméstico. Antes impensável, a empresa que já tem 47 anos de
atuação no Brasil possibilitou aos pequenos consumidores a compra de
equipamentos para o dia a dia.
Sem abrir mão dos grandes escritórios ou empresas, a marca lançou em
outubro de 2011 uma máquina fotocopiadora de pequeno porte, exatamente
para uso doméstico. “É a primeira vez que buscamos o consumidor final.
Vimos um aumento do poder aquisitivo da classe C e tivemos a boa notícia
do barateamento da tecnologia. Com isso, soubemos aproveitar a
acessibilidade do usuário e também do pequeno empreendedor”, explica
Cristiana Lannes, Diretora de Marketing da Xerox do Brasil, em
entrevista do Mundo do Marketing.
Mesmo com a revolução digital e a popularização da internet, que trouxe
a possibilidade do e-book ou ainda do download de livros, a Xerox
descarta a os reflexos negativos da atualidade. Hoje a empresa de origem
norte-americana possui um portfólio com mais de 80 máquinas, com
diferentes recursos tecnológicos e preços que vão de R$ 299,00 até
milhões de reais.
Para o grupo, o segredo do sucesso é estar em constante avaliação da
evolução do mercado e da marca, se projetando para o futuro. “Vivemos em
um momento em que a empresa que não for capaz de se reinventar corre um
grande risco. Imaginamos que no futuro a informação vai fluir de uma
forma muito mais rápida, seja em papel ou não. O que temos feito é nos
preparar para um mundo em constante transformação. Nunca deixamos o
tempo superar aquilo que somos por essência”, diz Rafael Veras, Gerente
de Comunicação da Xerox do Brasil.
Manter a essência é o que tem sido trabalhado pela Polaroid para
sobreviver no mercado mundial. O ressurgimento da câmera com fotos
instantâneas em papel foi possível graças a um projeto ousado de
ex-funcionários da marca, o The Impossible Project. Fundado em 2008 por
Florian Kaps, André Bosman e Christian Lutz após a Polaroid anunciar o
fim da venda de filmes, o objetivo do grupo é refazer os equipamentos e
todos os acessórios.
A ideia tem dado certo e, para 2012, o The Impossible deve vender um
milhão de pacotes de filmes, número que evoluiu junto com o grupo. Em
2010, foram 500 mil filmes e, em 2011, 750 mil. “Na era digital, as
ferramentas analógicas recuperam seu valor. Entediado por milhares de
imagens digitais, uma única foto instantânea e imprevisível pode ser
algo precioso”, afirma Florian Kaps, em entrevista ao Mundo do
Marketing.
Para
2013, a nova Polaroid tem a meta de introduzir um novo hardware
analógico no mercado e outras câmeras. Atualmente na loja virtual é
possível comprar o papel fotográfico, sete modelos de máquinas,
acessórios, livros e até mesmo canetas especiais para serem usadas nas
fotos. Para popularizar o uso dos equipamentos, o grupo também criou o
Project Spaces, espaços que funcionam como galerias de arte, nas cidades
de Nova York, Paris, Tokyo e Viena.
Qual a melhor maneira de inovar?
O modelo baseado nos ciclo de adoção de uma inovação é o mais seguido
por empresas que querem aumentar o faturamento. Porém, para que a
novidade esteja no DNA de uma marca, ela precisa adequar-se à cultura,
estrutura organizacional e formas de recompensa. A análise é do
professor Luis Carlos Patrão.
O esforço para não decretar falência é diário. “A inovação deveria ser
uma atividade sistemática e permanente ao invés de algo utilizado
somente para solucionar uma crise. Em alguns casos, a empresa tem que
mudar seu modelo de negócio, o que implica uma mudança de mentalidade
dos diretores da empresa. A empresa deveria ter recursos e estruturas
exclusivos para os projetos de inovação. Ele deveria ser visto como um
aprendizado, ou seja, os fracassos também fazem parte deste processo.
Portanto, não se deveria culpar as pessoas pelo fracasso, mas aprender
as lições deste fracasso e incentivá-las a continuar a exploração de
novas ideias”, completa o professor.
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