quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Recrutadores decifram a mente da nova geração


Profissionais nascidos após 1979 exigem desafios e recompensa financeira, mas também querem preservar a vida pessoal

Uma pesquisa da Robert Half traduz em números o que profissionais de recursos humanos já constataram na prática: é difícil agradar os profissionais da geração Y. Essa categoria, que engloba desde recém-formados até profissionais com pouco mais de 30 anos, exige da empresa bem mais do que estabilidade e um salário no fim do mês. Por isso, acaba sendo especialmente difícil de atrair e reter.
A consultoria americana usa uma divisão clara entre as três diferentes gerações no mercado de trabalho, que têm dificuldade de conviver no dia a dia corporativo. Os "baby boomers" nasceram entre 1946 e 1964, a "geração x" vai de 1947 a 1978 e a "geração y" é formada pelos profissionais nascidos a partir de 1979.
Enquanto os primeiros eram tradicionalmente fiéis à empresa e não raramente permaneciam toda a carreira com um só empregador, a geração x buscou a diversificação, mas com uma dedicação quase "canina" ao trabalho para atingir o sucesso profissional. Segundo Fábio Saad, gerente sênior da Robert Half, a geração y desafia esses dois modelos. Busca, além da recompensa financeira, também um propósito "maior" para a atividade profissional.
A geração y já percebeu, na visão de Saad, que uma relação subserviente com o empregador nem sempre rende frutos. Esses profissionais são os filhos da geração x e da geração y: viram os pais serem demitidos após décadas trabalhando na mesma empresa ou então se transformarem em "workaholics" para vencer na carreira. Por isso, buscam uma nova maneira de encarar a vida profissional.
Tudo pelo trabalho. Os profissionais mais jovens, diz Saad, preferem mostrar trabalho em "horas líquidas", enquanto a geração anterior media produtividade em "horas brutas". "Esse modelo em que competência é entrar às 7 horas e sair à meia-noite está sendo desafiado", frisa o executivo. "Ao mesmo tempo em que a geração y quer subir rapidamente, ela também se preocupa com a vida pessoal."
A ambição por desafios e renda combinada à preservação da vida pessoal deixa os recrutadores confusos. A pesquisa da Robert Half mostra que 48% dos recrutadores acham a geração y a mais difícil de atrair para uma vaga; e 55% pensam que essa faixa etária é a mais complicada de reter (veja quadro ao lado).
Para Luiz Eduardo Gasparetto, professor de cursos de MBA da Universidade Gama Filho, os profissionais mais jovens não têm medo do desconhecido - logo, trocar de emprego não é nenhum drama. "No entanto, a falta de estabilidade dificulta o crescimento profissional. Em algum momento, você tem de parar de aprender e aplicar os conhecimentos. E isso exige tempo."
Como toda a regra, a tendência de instabilidade da geração y também tem exceções. Aos 30 anos, a economista Telma Mantovani se tornou diretora de transição de carreira da consultoria de RH Mariaca após dez anos de atuação na empresa. Permanecer tanto tempo na mesma companhia exigiu um exercício de paciência: "Passei por vários desafios, mas às vezes foi necessário ouvir que não estava pronta para um determinado cargo."

Embora seja exceção entre os profissionais de mesma idade, Telma afirma que, por volta dos 30 anos, mesmo a geração y começa a buscar mais estabilidade. "Acho que existe uma sensação de que não dá mais para errar. É preciso criar condições para buscar cargos maiores."  

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