A intenção de compra do brasileiro deve
continuar crescendo, mas já sem aquele vigor que levou o país ao patamar
de destaque econômico global nos últimos três anos, quando se mostrou
firme o suficiente para driblar a recessão enfrentada por Estados Unidos
e por muitos países da Europa. Passada a euforia classificada pelos
mais diversos termos, como “a ascensão da classe C”, e “o fortalecimento
da nova classe média”, o movimento do varejo deve se manter em alta,
mas voltando a patamares pré-crise econômica mundial.
“Passamos por um crescimento bastante forte e
agora, aparentemente, volta-se ao patamar de antes desse ciclo
otimista”, analisa Claudio Felisoni de Angelo, presidente do conselho do
Provar (Programa de Administração do Varejo), da FIA (Fundação
Instituto de Admninistração), que juntamente com a Felisoni Consultores
Associados realizou levantamento sobre a intenção de compra no varejo
para o Natal de 2012.
De acordo com a pesquisa, a intenção de compra
do brasileiro para o quarto trimestre de 2012, época geralmente
impulsionada pela celebração natalina, apresentou a maior queda anual da
história do levantamento, realizado desde 1999. No último quarto de
2011, essa intenção era de 78%, chegando, desta vez, a 56% — o menor
desde 2006 para o período
De acordo com Felisoni, as medidas do governo
para estimular o consumo, como o corte de juros e a redução de impostos,
tiveram sim resultado positivo, ampliando as vendas reais no varejo em
cerca de 2%. Porém, a alta do consumo como um todo no último ano,
juntamente com a inadimplência, freiam a manutenção do crescimento.
“Embora os juros tenham caído, é importante lembrar que as pessoas ainda
estão endividadas com as compras do passado”, afirma o executivo. Dadas
as variáveis — com destaque para a manutenção dos estímulos do governo,
o ânimo para compras e taxa de inadimplência —, a intenção de compra
acumulada para 2012 deve se manter entre 7,6%, no painel mais
pessimista, e 8,44%, no mais otimista.
Menor procura
Segundo o levantamento do Provar, 18,9% da renda
familiar dos brasileiros está comprometida com crediários, sobrando
apenas 9,4% de valores a serem utilizados além dos gastos básicos — como
alimentação, habitação, vestuário, transporte, saúde e educação. Entre
as principais categorias de bens de consumo do varejo, a de vestuário e
calçados é a que mais atrai os consumidores (26,6%), seguida de viagens e
turismo (12,4%), informática (10,8%), móveis (9,4%), eletroeletrônicos
(8,6%) e linha branca (8,4%).
Desses, porém, a maioria terá queda
significativa de procura se comparados ao fim do ano de 2011. Entre as
maiores quedas estão cine e foto (-61,4%, telefonia e celulares
(-44,6%), automóveis e motos (-42,1%), eletroeletrônicos (-38,6%),
imóveis (34,9%), informática (34,1%). As altas ficam restritas aos
segmentos de eletroportáteis (60%) e cama, mesa e banho (8,3%). A
pesquisa ouviu 500 consumidores entre os dias 3 e 18 de setembro, na
cidade de São Paulo.
Ainda positivo
Apesar do ânimo do brasileiro não estar mais no
mesmo patamar de otimismo dos últimos anos, os profissionais envolvidos
na pesquisa destacam que os resultados ainda são positivos. “Não é uma
queda, mas sim uma desaceleração no crescimento. Crescer 8% ainda é um
bom resultado para o ano”, avalia Nuno Fouto, coordenador de pesquisas
do Provar/FIA. Em 2011, o varejo cresceu 6,89% em comparação a 2010, que
por sua vez teve acréscimo de 11,97% frente ao ano anterior — de acordo
com o Ipeadata.
No panorama traçado por Fouto, a comunicação
será um fator ainda mais preponderante para este Natal, já que ainda há
verba nas mão do consumidor, mas ela será mais restrita. “A renda ainda
existe, apesar de menor. Com isso, a disputa por onde o consumidor vai
aplicá-la é que vai ser maior. Algumas empresas poderão sim conquistar
um crescimento bem acima da tendência, mas para isso terá que demonstrar
competência de convencimento para tirar muito dos outros concorrentes”,
ressalta o coordenador.
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