Os bureaus de mídia estão levando o dinheiro? Alguns anunciantes acham que sim – e querem sua parte
Do Advertising Age
Deseja espantar
rapidamente um grupo de pessoas de agência e executivos de marketing? É
só pronunciar a expressão “bônus por veiculação”, o BV.
A
Associação Nacional de Publicitários reportou em julho os alarmantes
resultados de uma pesquisa indicando que 28% dos inquiridos estão
preocupados que o BV– uma tolerada prática em outros países – esteja
virando algo comum nos EUA. O assunto é tão policiado que um grande
número de executivos de agências nega que os BVs estejam se alastrando
no país. Mas considerando a fonte de onde veio a informação – uma
pesquisa de uma entidade que representa 450 grandes anunciantes que
gastam $250 milhões por ano – o fato não pode ser ignorado.
Enquanto os clientes estão suspeitando cada vez mais da prática, certos
observadores insistem que eles possam estar ocasionando-a, por conta da
maior ênfase em compras direcionadas pelo corte de custos, que pode ter
um efeito colateral não intencional: encorajar os BVs de mídia a bater
suas cabeças pelo território americano.
BV - às vezes
graciosamente chamado de “volume de bonificação da agência” (baseado na
palavra bônus) – é abertamente definido como a receita de um volume de
desconto ou compensação dos anúncios de mídia, não necessariamente
passados ao cliente. Porém, mesmo alguns críticos da prática a
consideram um crescimento natural dos esforços dos anunciantes para
diminuir os custos da agência.
“Entendo que
todo mundo queira garantir lucro máximo,” afirma declara Judy Beaudry,
ex-executivo de mídia da Procter & Gamble Co. e atual VP de mídia na
Kao USA. “Os tempos são difíceis. Mas você tem que respeitar a essência
de uma relação de negócios. Agências, especialmente algumas que detém
grandes companhias, viram seus lucros despontar muito mais rápido do que
seus clientes.”
“É simplesmente errado. Não
me refiro à taxa de aumento, mas a ter essas coisas como aliadas. Não é
como queimar suas casas para em seguida achar um meio de mantê-las
abertas”, acrescenta. “Nunca entendi agências que se beneficiam dos
dólares de clientes,” diz ela. “Incomoda-me. É uma responsabilidade
fiduciária. Eles deveriam estar me ajudando a gastar meu dinheiro da
melhor forma. Isso é o melhor pra mim, não para eles.”
Para
esclarecer, Beaudry desconhece casos em que sua agência, a Initiative,
esteja envolvida com BV ou demais bonificações. Mas o falatório gerado
pela pesquisa da ANA ainda a preocupa. “Porque temos escutado o
burburinho, isso despertou curiosidade sobre as práticas da agência,”
assegura Beaudry, acrescentando que contratos da Kao’s requerem que
nenhum BV seja devolvido ao cliente.
BV existe nos EUA
Embora tenham negado qualquer reconhecimento de BVs nos EUA, alguns
compradores de mídia contatados pelo Ad Age concordaram que o tema é
complicado, Notaram que novas formas de pagamento ou compensação
acrescentam lucro extra e limitam oportunidades para os agentes de
mídia. No entanto, dizem que estas ações não se configuram como BV.
Consultores e auditores mantém o argumento de que, ainda que a prática
no país norte-americano seja limitada nesse âmbito, o BV existe. Parte
da desconexão entre agência e cliente pode ser explicada pelo fato de
que eles geralmente vêm disfarçados.
Agências, anunciantes e
consultores afins concordam que o BV não é um problema se divulgado e
transmitido aos clientes. O problema é que definir exatamente o que é BV
e se é questão de justiça repassar adiante.
“Não é tão público ou institucionalizado como em outros países,” afirma
Manuel Reyes, ex CEO da Starcom Latin America e atual CEO da Cortex
Media em Miami. “A prática está sendo realizada de forma bastante
sagaz.”
Além disso, diz ele, existem agências
pegando comissões das empresas de mídia em troca de serviços como
pesquisa, quando os serviços podem não ser entregues e os pagamentos
foram engatilhados por atingir um limite quantitativo.
Reyes
diz que o BV frequentemente chega em forma de “bônus” quando um volume
almejado é atingido. Dependendo da forma com que a agência lida com este
inventário, pode ser um problema para os clientes. Se as agências
providenciam o inventário em uma base delimitada para clientes que
reduzem seus custos, não há problema. Se eles essencialmente o vendem
para outros clientes e embolsam o dinheiro, aí existe problema.
O cenário recente, afirma ele, só seria um problema para clientes que
não demandam faturas para mostrar o que a agência pagou pela mídia e
periodicamente fiscalizar os livros. Outras vezes, afirma Reyes, o BV
pode fluir por agências quando estão comprando em nome de clientes de
unidades similares juntamente com suas holding e o BV se acumula
naquelas unidades específicas.
Matt Seiler, CEO da Mediabrands e
um dos únicos executivos de compra de mídia disposto a declarar algo
sobre a questão do BV, afirma que se está acontecendo, “é ruim para a
indústria.” Jacki Kelley, CEO da Univerall McCann, complementa: “Não
fazemos avaliações com investimentos de clientes para benefício próprio.
Nos meus 25 anos ao lado da mídia, proporcionamos BV sob diferentes
volumes (de compra). Os donos da mídia precisam incentivar clientes a
gastar mais, mas, nos EUA, esse dinheiro sempre voltou para o cliente.”
Frequentemente, acordos caracterizados por Reyes como BV ocorrem no
nível das holdings, sem que os executivos de agências individuais
saibam.
Transparência
O BV também pode ser usado em holdings especializadas, onde a
localização dele se torna bem mais difícil. Em alguns dos acordos
internacionalmente mais criativos, o BV passa por contas mas não é
reconhecido como renda até que a agência perca a conta do cliente e a
fecha. A prática cria uma espécie de política não revelada contra perda
de negócio, embora Reyes diga que desconheça tais combinações nos EUA.
Embora ele possua óbvio interesse em pressionar os serviços de
auditoria de mídia, Reyes admite que o fluxo de BV pode servir para
contornar até mesmo a mais perfeita fiscalização, finalmente fazendo com
que a confiança seja a única garantia real para os anunciantes.
Alan Rutherford, ex-chefe de mídia da Unilever e atual presidente da
Axiology, acredita que o BV, bastante comum na Europa, começou a migrar
para os EUA como consequência natural do crescimento das agências
europeias no país. A principal questão, diz ele, é que anunciantes
norte-americanos não estão familiarizados com as práticas ou com como
lidar com elas, embora creia que eles aprenderão.
Um executivo
da indústria de mídia out-of-home, que afirma que o BV é uma prática
mais aceita nos EUA nos últimos anos, confirma o depoimento de Reyes
sobre as formas do BV. Ele pediu para não ser identificado por medo de
desencadear “uma situação de boicote velado”, notando que quando
executivos de empresas outdoor se posicionaram contra as práticas na
Europa, viram seus negócios diminuírem significativamente.
“Os
compradores lhe dirão que são transparentes,” diz ele. “Dizem que você
está pagando pela pesquisa, por todo tipo de coisa, quando você está na
verdade pagando para que eles comprem de você.” O executivo afirma que
todo acordo é posicionado como algo “legal e limpo, mas, no final do
dia, se os publicitários soubessem todos os prós e contras e a origem,
me pergunto se gostariam.”
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