Levar mais mulheres brasileiras para o campo científico-tecnológico. Com
esse objetivo e a experiência como embaixadora no Instituto Anita Borg
por mulheres e tecnologia é que a estudante de doutorado Larissa
Romualdo Suzuki, atualmente na Inglaterra, pretende voltar para o
Brasil.
A hoje pesquisadora da University College London recebeu o aceite de 12
instituições de ensino superior nacionais e internacionais para seu
projeto de doutorado, além de sete bolsas de estudo, incluindo uma do
Google, empresa que também a convidou para um estágio científico.
Arquivo Pessoal | ||
Larissa Romualdo Suzuki, pesquisadora da University College London quer trazer ao Brasil projetos semelhantes aos que faz parte, com o intuito de aproximar mulheres e tecnologia |
Suzuki conta ter sofrido discriminação na USP. "Algumas pessoas te
tratam como se você fosse um lixo, uma demente por você ter vindo de uma
faculdade particular." Leia seu relato.
*
Não sou de família rica. Nasci em Ribeirão Preto, onde estudei nos
colégios Orlando Jurca, Santos Dumont e Otoniel Mota --todos públicos.
Meus irmãos estudavam computação. Foi isso que despertou em mim o
interesse por tecnologia.
Terminando o Ensino Médio, entrei no Centro Universitário Barão de Mauá
para estudar ciências da computação. Já trabalhava, mas tive que
financiar meu curso por meio do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil, do Ministério da Educação).
Em outras palavras, fui eu quem pagou minha faculdade. Na verdade, quem
paga --porque até hoje as parcelas não terminaram (risos).
Uma vez dentro da Mauá, fiz uma prova para iniciação científica e passei. A "bolsa" era uma dedução de 20% na minha mensalidade.
Formei-me em uma turma de mais de 30 pessoas, entre as quais eu era a
única mulher, e decidi seguir na pesquisa. Fiz alguns processos
seletivos e consegui entrar em um mestrado em engenharia elétrica pela
USP, no campus de São Carlos.
No mestrado, tinha bolsa da Capes
(Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, também do
governo federal) e fazia estágio, trabalhando como professora
assistente.
Sofri discriminação na USP por ser uma forasteira. Eu era tratada como
um lixo, como uma demente só por ter vindo de faculdade particular.
Muita gente me desestimulava, mas esses eram insignificantes para a
ciência. Os que me incentivavam, por outro lado, eram pessoas
extraordinárias dentro da academia.
Terminei o meu mestrado, que era sobre diagnóstico médico por imagem, e
dei início a um doutorado com linha de pesquisa semelhante na FMRP
(Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP).
Sou apaixonada por computação. É maravilhoso saber que podemos usá-la para o bem da humanidade, como para diagnosticar câncer.
VIRADA
Eu tinha começado meu doutorado na faculdade de medicina havia três
meses quando recebi o "sim" da universidade em que estudo atualmente, a
University College London, e de outras 11 instituições britânicas para
fazer doutorado.
Também fui selecionada nos processos de seis bolsas de estudo. Tive de
recusar todas elas, menos a que usufruo atualmente, concedida pelo EPSRC (Conselho de Pesquisa em Engenharia e Ciências Físicas, na sigla em inglês).
Meu doutorado, sobre integração de sistemas de cidades, é feito em
conjunto com a Imperial College London. Ambas as instituições são
universidades públicas de pesquisa.
Recebo 16 mil libras esterlinas por ano (cerca de R$ 4.300 por mês) mais um adicional por dar aulas.
Neste ano, fiz um curso de docência pela Academia Britânica de Educação Superior.
Sempre tive facilidade em ensinar. Comecei a lecionar aos 16 anos,
dando aulas de música. O meu sonho é ser professora de uma universidade
federal brasileira.
MENINAS E CIÊNCIA
Meu objetivo é também levar ao Brasil os projetos que existem aqui
(Reino Unido) e nos EUA para atrair mulheres para a tecnologia.
Sou embaixadora do Instituto Anita Borg por mulheres e tecnologia, para o qual trabalho ajudando a promover eventos e difundir suas ideias.
Nos eventos, que juntam milhares de pessoas, muitas mulheres apresentam
seu trabalho. A ideia é mostrar para quem está começando que qualquer
uma pode ter uma carreira brilhante na área.
As meninas olham uma mulher com dois filhos e que é do alto escalão de
uma empresa como a Cisco, por exemplo, e pensam "nossa, é mesmo
possível".
Trabalhar com computação, encarando durante o dia inteiro uma tela, é
pesado. Mas não acho que seja por isso que haja tão poucas mulheres na
área de tecnologia. As meninas crescem acreditando que videogames,
computadores não são para elas. Isso precisa mudar.
Ajudei a fundar uma associação por mulheres e tecnologia dentro da minha
faculdade, com a ajuda de uma supervisora administrativa. Qualquer
instituição ou projeto que tenha objetivo semelhante pode contar com o
meu apoio.
Está na hora de o Brasil ter algo nesse sentido: levar meninas, crianças
mesmo, à computação, para que mais tarde elas se tornem parte do
progresso científico-tecnológico do país.
GOOGLE
Já depois de um tempo dentro do Anita Borg, recebi uma bolsa do Google para apoiar meu trabalho como promotora do Instituto.
Fui uma das dez estudantes de mestrado que ganharam essa bolsa. A
empresa deixou claro que eles dão oportunidade para pesquisadores que se
dispuserem a estudar o Google e seus serviços para um eventual trabalho
aprofundado.
Estou estudando um pouco do que faz o Google. Eles me ofereceram outra
bolsa, dessa vez de estágio como pesquisador, para o ano que vem. Acho
que vou aceitar.
Mas ainda estou lutando para terminar meu doutorado, que é difícil.
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