Livro de Alexandre Teixeira aborda as mudanças que estão transformando valores e estruturas do mercado
A participação de uma nova geração, que busca encontrar
propósitos e já vivencia um novo modelo de escritório, está direcionando
o mercado para um objetivo: a felicidade no trabalho. Esta é a base
para o livro "Felicidade S.A. – Porque
a satisfação com o trabalho é a utopia possível para o século 21",
escrito pelo jornalista Alexandre Teixeira. A publicação, que aborda a
importância da satisfação no ambiente corporativo, tanto em relação às
empresas quanto aos funcionários, será lançada na terça-feira 18, em São
Paulo. No evento, que contará com uma sessão de autógrafos,
profissionais, como Sergio Chaia, CEO da Nextel, e Sandro Bassili, CEO
da Ambev, discutirão o tema.
“O prazer aperfeiçoa a atividade”.
A frase de Aristóteles serve como fundamento para as mudanças que estão
ocorrendo entre funcionários e algumas empresas. Desde meados da década
de 1990, quando a passividade deixou de ser sinônimo de estabilidade no
trabalho, a importância dada à empresa onde se trabalha, deixou de ser
apenas o salário. “Engajamento, estímulo e motivação fazem parte da
geração Y, que visa encontrar no mercado um local que proporcione
desenvolvimento e aventura, diferente da época de seus pais”, afirma
Teixeira.
Para o autor, a tecnologia da informação
tem um papel importante na discussão sobre essa satisfação sob dois
aspectos contemporâneos. O primeiro, é a onipresença. A facilidade de
checar e-mails e exercer suas atribuições de qualquer lugar resulta na
impossibilidade de relaxar, o que, em algum momento, trará infelicidade.
Por outro lado, é a chance que essa conectividade dá aos funcionários
de trabalharem fora do escritório e no horário que desejarem. “Eu não
tomo partido para nenhum desses aspectos. Na minha opinião, o que dá
certo é quando o funcionário com o perfil certo encontra a empresa
certa”, afirma.
O autor acredita que as pessoas pensam pouco
sobre sua vida pessoal e profissional e por isso não analisam a
motivação pela qual trabalham, prazer ou dinheiro. Da mesma forma, as
empresas não conhecem profundamente sua visão e valores, por isso não
procuram profissionais com o perfil adequado.
Capitalismo consciente
O termo "capitalismo consciente" está cada vez mais em moda. Segundo o
autor, as empresas preocupadas em garantir a satisfação de seus
funcionários alcançam melhores resultados, se comparadas às empresas
médias, porque apostam na equação engajamento + desempenho. Como
consequência, as companhias começam a gastar menos com marketing, já que
a divulgação da satisfação de funcionários, clientes e fornecedores,
acontece boca a boca (confira abaixo, o trecho do livro que aborda o
marketing eficaz dessas empresas).
Na publicação, Ambev, Natura,
Unilever, Pão de Açúcar, Promon, Nextel, Serasa, DM9 são analisadas. De
acordo com Teixeira, os bons resultados obtidos nessas empresas
acompanham a clareza existente em seus valores, missões e o perfil de
funcionários que combinam com a estrutura da companhia. “Isso aumenta as
chances de ter um alto nível de felicidade”, diz.
Quando o
índice de infelicidade é alto, a saúde começa a apresentar problemas. Um
estudo da Suécia, com 3.122 trabalhadores acompanhou a incidência de
ataques cardíacos nestes funcionários por uma década. Foi constatado
que, em um ano, o risco de ter um ataque trabalhando com um chefe bom, é
20% inferior àquele que é subordinado a um chefe autoritário. De um
para quatro anos, essa redução chega a 39%.
+
O autor Alexandre Teixeira
Crédito: Divulgação
Lançamento
Teixeira trabalhou na Época
Negócios, durante quatro anos, e embora fosse feliz com a função que
desenvolvia, optou por sair da empresa e escrever o livro para iniciar
uma aventura intelectual. “Eu havia terminado um ciclo. Era
redator-chefe, mas queria fazer algo solo, então iniciei uma fase de
autoconhecimento”, relembra.
O lançamento do livro, publicado
pela Arquipélago Editorial, irá acontecer na terça-feira 18, às 18h30,
na livraria da Vila do shopping JK Iguatemi, em São Paulo. No debate,
mediado pelo autor, também estarão Roberto Lima, ex- CEO da Vivo, Elcio
Animal de Lucca, ex- CEO do Ceresa, Welington Nogueira, Líder dos
Doutores da Alegria, e o economista Eduardo Gianneti. O livro conta com
30 entrevistas, entre eles Luiz Antonio Seabra, da Natura, e Abílio
Diniz, do Grupo Pão de Açúcar.
Confira abaixo um trecho, cedido pelo autor ao Meio & Mensagem
(Extraído do Epílogo – Por que ser feliz é estratégico)
O que a maioria das companhias ainda faz para aumentar sua margem de
lucro, seguindo a cartilha tradicional, é apertar ao máximo os
funcionários e fornecedores. “Elas pagam o mínimo possível, não cobrem
custos médicos se puderem evitar, jogam uns fornecedores contra os
outros e compram sempre de quem cobra menos”, afirma Raj Sisodia.
As
empresas conscientes não fazem isso. Ao contrário, tendem a pagar mais
do que precisariam aos empregados e procuram ser generosas com os
fornecedores. Tratam de criar relações mutuamente vantajosas com eles.
Ainda assim, são mais lucrativas.
Um dos segredos por trás deste
aparente paradoxo é que, nessas empresas, os gastos com marketing são
menores. Elas contam com o benefício da propaganda boca a boca. Clientes
felizes, funcionários felizes, comunidade satisfeita, todos estes
públicos passam suas mensagens adiante. Logo, as companhias conscientes
não precisam gastar tanto dinheiro com publicidade e promoções, áreas
geradoras de enormes despesas que agregam pouco valor.
O custo dos
recursos humanos também é menor, porque a rotatividade é mais baixa,
como se viu na história da “desterceirização” dos atendentes da Vivo.
Nos Estados Unidos, o turnover anual do conjunto de empresas que Sisodia
isolou no grupo de “companhias conscientes” variou de 5% a 7%. Na média
do varejo americano, a rotatividade supera com folga os 100%, o que
significa que o equivalente numérico a toda a força de trabalho é
substituída a cada ano. Na prática, a cúpula das varejistas tende a
permanecer em seus postos, enquanto a base da pirâmide, incluindo caixas
e outros funcionários que têm contato direto com o público, é revolvida
continuamente.
O custo legal das empresas conscientes também é
menor, assim como as despesas administrativas. “Se a cultura é de
confiança, você não precisa de tantos gerentes de nível médio. As
pessoas se auto-organizam e se automotivam”, afirma Sisodia.
Embora
os funcionários médios sejam mais bem pagos nestas companhias, os
executivos no topo recebem pagamentos relativamente modestos. “Se você
tem líderes que se preocupam com o negócio, não é preciso recrutá-los
com base apenas no dinheiro”, diz Sisodia. É o contrário do que nos
acostumamos a ver em empresas tradicionais, nas quais o pagamento dos
gestores mais graduados se tornou uma área de despesas desproporcionais.
Em muitas delas, a remuneração dos executivos é maior do que o lucro
líquido.
Há também um senso de justiça interna, com impacto direto
no moral dos trabalhadores. Pesquisas recentes mostram que a diferença
entre o salário do executivo chefe e do funcionário médio tem correlação
direta com o nível médio de engajamento dos empregados. Quanto mais
justa a empresa, mais dedicado o funcionário.
Dados compilados pelo
instituto Gallup comprovam a ligação entre o engajamento dos empregados e
o desempenho financeiro das companhias. Empresas com altas taxas de
engajamento, segundo uma dessas pesquisas, têm um crescimento dos lucros
por ação 3,9 vezes maior que a média. Isso se deve, entre outros
fatores, ao menor absenteísmo, à menor incidência de acidentes de
trabalho e às melhores condições de saúde dos funcionários.
Quando
estavam preparando o livro The Why of Work, lançado em 2010, o guru de
administração David Ulrich e sua esposa, a psicóloga Wendy Ulrich,
buscavam argumentos para sustentar a tese de que ajudar os funcionários a
encontrar algum significado no trabalho traz dinheiro para as empresas.
Assumindo que o estímulo à busca de sentido é parte importante do
pacote de satisfação com um emprego, eles agruparam as melhores empresas
para trabalhar nos Estados Unidos – segundo as pesquisas do instituto
Great Place to Work – e calcularam o retorno anual médio daquelas entre
elas com ações negociadas em bolsa entre 1998 e 2008. Chegaram ao número
6,8%. No mesmo período, o retorno anual médio das 500 companhias mais
negociadas na Bolsa de Nova York ficou em apenas 1,04%.
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