Semana
passada estava preparando uma apresentação para uma reunião com
executivos de uma empresa sobre a ainda crucial dúvida existencial "Devo
ou não colocar minha empresa nas mídias sociais" e aproveitei para
reler o "Security, Privacy and Web 2.0". Já esta série de documentos
chamada GIO (Global Innovation Outlook) apresenta relatórios resumindo
conclusões geradas a partir de debates de alto nível sobre questões
relevantes para a sociedade e as empresas, e vale a pena investir algum
tempo dissecando seu conteúdo.
Na verdade, a velocidade com que a World Wide Web se integrou nas
nossas vidas é alucinante. O primeiro site www apareceu em 1991, ou
seja, vinte anos atrás. Em meados do ano passado já eram mais de 364
milhões de websites. Seu impacto no nosso cotidiano social, político e
econômico é incontestável.
Caminhamos hoje para uma web mais interativa e colaborativa,
inicialmente chamada de Web 2.0, e que se reflete em serviços quase que
indispensáveis ao nosso dia a dia, como Facebook, Twitter, Youtube,
Wikipedia e outros. Por outro lado, esta interatividade e a crescente
exposição de nossos dados pessoais, fotos, localização, etc., abre
questionamentos e debates sobre eventuais riscos à nossa privacidade e
segurança. Mas serão riscos reais ou mais percepção de insegurança
diante de um fenômeno tão novo?
O relatório buscou analisar esta questão e chegou a conclusões bem interessantes.
Primeiro, identificou que a cultura de cada país tem um papel
fundamental na determinação da tolerância a riscos que as pessoa e a
sociedade assumem em relação a divulgar suas informações pessoais. Por
exemplo, 39% dos brasileiros disseram que os benefícios obtidos com uso
das plataformas de mídias sociais compensam eventuais riscos de
segurança e privacidade. Já apenas 10% dos chineses concordaram com esta
afirmação. A diversidade cultural, as diferenças entre os regimes
políticos e a maturidade democrática influenciam significativamente a
postura dos usuários diante das plataformas sociais.
Outro ponto que me chamou a atenção foi que ao contrário da percepção
geral, a imensa maioria dos usuários pesquisados sabe distinguir muito
bem quando interagindo em nome pessoal ou abordando questões
relacionadas com as empresas onde trabalham. E usam o bom senso para não
divulgar informações consideradas impróprias. Na minha opinião pessoal,
a lição aqui é que a educação e a prática levam ao uso mais adequado
das novas tecnologias e não a imposição tutelar, que parte do
pressuposto que as pessoas são ingênuas e que precisam de tutela para se
comportarem bem nas redes sociais. O uso de práticas que levam a maior
segurança se dissemina com conhecimento e experiência prática. Nós,
quando crianças da geração analógica aprendemos a não passar informações
pelo telefone e nem atravessar a rua sem olhar para os lados. Quando
nascemos, o telefone e as ruas já existiam... A geração digital está
acostumada com a World Wide Web, pois quando nasceram ela já existia. Os
questionamentos surgem principalmente de nós, oriundos da geração
analógica, que estamos migrando para o mundo digital e ainda não estamos
tão íntimos dela assim. Daí os receios e questionamentos.
Fazendo, por conta própria, um levantamento oficioso via buscador do
Google, descobri que os casos de uso inadequado e impróprio das
plataformas sociais são raros e por isso aparecem com tanto destaque na
mídia.
O uso das plataformas sociais dentro das empresas é um tema que ainda
gera muito debate. A pesquisa mostrou que a maior parte das pessoas sabe
distinguir quando está usando estas tecnologias no contexto corporativo
e no pessoal. Portanto, o receio das empresas em entrarem nas
plataformas sociais, pois seus funcionários falarão coisas impróprias é,
antes de mais nada, desmerecê-los. Se você não confia neles, porque os
contratou?
Aliás, debater se a empresa vai entrar ou não as mídias sociais é um
debate bizantino. Ela já está lá. A questão é se ela quer participar das
conversas ou não. O fato de uma empresa não estar oficialmente no
Facebook não impede que milhões de comentários, positivos e negativos já
estejam circulando pela rede. Ela tem que decidir apenas se quer
participar da festa... Pois na festa ela já está.
O importante é criar uma política aberta e bem divulgada de guidelines
de uso das mídias sociais, incentivar seus funcionários e criar
condições para que eles, estando em rede conectados ao mundo, tragam
retorno à empresa. O caso da IBM é emblemático de como incentivar e
explorar midias sociais para criar redes de relacionamento e incentivar
inovação. Vejam este artigo. As guidelines da IBM estão aqui.
Em um mundo cada vez mais conectado os profissionais devem ser cada vez
mais empowered e isso significa que não devem existir políticas muito
restritivas de uso das tecnologias que facilitam a criação e redes
sociais e troca de idéias. Enpowerment (ou emponderamento) é exatamente
isso: criar relacionamentos para melhor decidir ou agir em situações
onde antes era necessario passar por uma longa e demorada cadeia de
decisões. Tem uma frase, mantida aqui em inglês, de Harriet Pearson,
Chief Privacy Officer da IBM que explicita claramente a questão :
"Empowering employees to help develop guidelines engenders trust,
fosters the enterprise-wide learning process, and improves compliance".
O sucesso e a continuidade das plataformas sociais não é mais
discutida. Chegaram para ficar. Pode acontecer de uma nova plataforma
substituir a anterior, como o Facebook substituiu MySpace e o Orkut, mas
o conceito e a aplicabilidade vão continuar. Para entrarem neste mundo
as empresas devem entender as diferenças culturais, e isto é um desafio e
tanto para as empresas globais, e incentivar os seus funcionários a
explorarem as tecnologias sociais. Uma empresa debater se vai ou não
entrar no mundo do social business é perder o tempo. A discussão deve
ser quão rápido eu recupero o tempo de ainda não estar lá.
Por Cezar Taurion, executivo de Novas Tecnologias Aplicadas/Technical Evangelist da IBM Brasil.
Publicado originalmene no Administradores.
As opiniões aqui expressas são de responsabilidade do autor.
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