Future Concept Lab aponta que o país ainda é afoito por novidades, mas estas são passageiras e é preciso mirar em estudos sociológicos de mudanças estruturais
A confusão gera instabilidade e, na ânsia de melhorar o faturamento, as
marcas definem táticas que podem não ser as melhores. “No Brasil é
tendência falar sobre tendência, mas não adianta só observá-la, é
preciso entendê-la. O país é um laboratório do futuro, só que falta
cultura e profundidade para diferenciar o que é evento do que é projeto.
As marcas querem resolver os problemas rapidamente, aí surge o
relatório de tendências, que pode inclusive piorar a situação. Não
adianta, por exemplo, mudar a embalagem, se não há proposta de valor
junto”, avalia Sabina Deweik, representante da Future Concept Lab no
Brasil, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Os paradigmas brasileiros
Na avaliação do instituto italiano, antes das empresas traçarem
estratégias ousadas de Marketing é preciso entender os quatro paradigmas
pelos quais o país vem passando. O primeiro deles é o “Compartilhamento
e Confiança”, que mostra a capacidade dos brasileiros de entender que
os territórios virtual e real não são opostos e sim complementares e
potencializadores um do outro.
Isso significa que na rede é o compartilhamento que dará força para a
marca e, por consequência, gerará confiança no consumidor. “As pessoas
estão buscando cada vez mais inovação e se tornando especialistas. Só
que é impossível uma empresa conseguir seu espaço se não juntar forças
em um processo de compartilhamento. É preciso convocar o consumidor,
pedir ajuda a ele, trabalhar em co-criação. Não estamos mais na década
de 1980 quando os valores eram outros e a publicidade era mais
persuasiva. Autenticidade é muito importante, assim como transparência”,
explica Sabina.
Outro paradigma é o “Único e universal”, conceito que mistura o local
com o global, em que ambos funcionam em sintonia e não em contraposição
como se pensava anteriormente. O erro, segundo o Future Concept Lab, é
ter imaginado que a globalização e a abertura de fronteiras faria do
mundo um lugar homogêneo, com consumidores pensando da mesma forma e
comprando as mesmas coisas, sem consciência.
Nesse
cenário, o destaque foi exatamente para marcas que conseguiram manter
características locais com visões globais. A Havaianas é um case de
sucesso nessa área. “Quando um estrangeiro compra Havaianas, compra o
imaginário brasileiro. É importante reforçar a identidade local, mas com
linguagem universal. Assim como ela, o design e o conceitos dos irmãos
Campana são exemplos. Eles olham para a realidade brasileira e conseguem
tirar dela algo que vai além do folclore e bem além do artesanato”,
completa Sabina.
Rápido e sustentável
A possibilidade de consumo do brasileiro abriu as portas também para um
modelo mais consciente e rigoroso de compras. O paradigma “Rapidez e
profundidade” explica o fato: ao desejo une-se o imediatismo e também a
vontade de se aprofundar nas experiências. Ainda que pareça paradoxal, o
exemplo, de acordo com o Future Concept Lab, é a “fast good”. “Eu quero
uma comida rápida, mas que seja saudável. Por que não?”, questiona
Sabina.
O último paradigma é a “Sustentabilidade”, que nasceu como tendência,
mas encontrou no Brasil um discurso engajado por parte das marcas. A
diferença, no entanto, está exatamente nos canais que os grupos
encontram para falar com seus públicos. “Não adianta fazer camiseta e
falar que é sustentável: os processos também precisam ser sustentáveis. O
consumidor não quer mais ouvir mensagem de emergência ‘o planeta está
acabando’. A gente pode unir ética com estética, sem ser superficial.
Essa é a grande mudança e as marcas precisam enxergá-las”, indica Sabina
Deweik.
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