Edição 2012 da pesquisa goodpurpose sinaliza tendências na relação entre cidadãos, marcas e causas, mostrando que consumidor busca cada dia mais empresas que atendam seus propósitos
Pode-se dizer que o propósito é um elemento central no cenário brasileiro de engajamento e construção de marcas. Se a edição 2010 da pesquisa goodpurpose já sinalizava um incremento no senso crítico de um consumidor em amadurecimento, o estudo apresentado neste ano afirma esta condição não apenas como tendência, mas um fato.
Hoje, mais brasileiros ingressaram consistentemente na arena de consumo
e, não contentes em apenas terem a possibilidade de adquirir mais
produtos e serviços, exigem das empresas um comportamento que transcende
o atendimento a requisitos de qualidade
e preço. Mais críticos, demandam uma atuação mais ampla, que considere
questões de interesse público e universos simbólicos capazes de
agregá-los racional e afetivamente.
Para tanto, as empresas devem agir a partir de um propósito, ou seja,
algo que demonstre suas visões de mundo e, ao mesmo tempo, enderece
questões relevantes para os públicos com quem se relacionam.
Ao endereçar um propósito relevante para seus stakeholders, uma marca
amplia sua confiança, o que gera melhores condições para que se atribua a
ela um valor superior. Além disso, ela fortalece seus relacionamentos,
compartilha benefícios junto à sociedade, sem deixar de favorecer um
incremento em sua performance comercial.
No Brasil, o propósito está no centro de estratégias de marcas
vencedoras, como Natura – que conecta como poucos empreendimentos no
mundo suas crenças e um modelo de negócio sustentável – Petrobras e
Nestlé. Em comum a todas estas corporações, está a preocupação em
realizar entregas para além de seus portfolios, em um movimento no qual
incluem em suas agendas associações a conteúdos sociais, ambientais,
esportivos, culturais, entre outros que mantém nexo com o significado de
suas marcas, o desafio de suas operações e, claro, os anseios da sociedade em que se inserem.
Conforme a conclusão da última edição da pesquisa Trust Barometer,
realizada pela Edelman, cabe às empresas liderar a partir de um
propósito engajador, dado o cenário de paralisia governamental e um
panorama brasileiro inédito em que as organizações não-governamentais
sofrem com a falta de prestígio. Trata-se, contudo, de uma
responsabilidade e uma oportunidade. Responsabilidade pelo desafio que
reside em encontrar um propósito alinhado às perspectivas e identidade
da marca e oportunidade pelos resultados potenciais que uma companhia
pode alcançar ao transformar sua visão em ações concretas e socialmente
relevantes. Particularmente no Brasil, em que o cidadão valoriza ainda
mais a atuação empresarial junto a causas, trata-se de um importante
vetor de construção de confiança. Todavia, é preciso que as empresas
delimitem muito bem seu papel neste sentido, de maneira que não
substituam outros entes em questões que cabem, por exemplo, ao governo.
De acordo com os números 2012 de goodpurpose, o brasileiro considera
diversas causas como importantes, principalmente pelas inúmeras
necessidades estruturais ainda demandadas no país. Entre as causas
centrais figuram a proteção ao meio ambiente, a melhoria dos serviços de
saúde e o acesso à educação. Neste sentido, percebe-se uma forte
confluência entre questões teoricamente correspondentes à ação
governamental que acabam tornando-se frentes a serem consideradas também
pelas corporações. Todavia, uma esfera não substitui a outra; por essa
razão, as empresas devem engajar-se em parcerias complementares, que
envolvam também os cidadãos em uma atmosfera participativa capaz
de tornar tais déficits em soluções reais. A avaliação por parte deles é
crítica quanto ao desempenho das empresas neste sentido: 48% dos
entrevistados creem que as corporações não têm endereçado causas de
maneira adequada. Enquanto isso, somente 26% consideram a atuação
empresarial boa ou excelente neste sentido
Esta avaliação “fraca” não representa, porém, uma atuação
insatisfatória por parte das empresas. Além de todas as expectativas –
inclusive as que não dizem respeito a elas – serem depositadas sobre
seus ombros, há outros pontos a serem trabalhados que influenciam na
percepção dos indivíduos em relação a este tipo de performance, como
comunicação e, obviamente, a intensidade do engajamento liderado pelas
marcas em torno das causas que defendem.
Engajar
é mandatório em um cenário de progressivo aumento do poder de
indivíduos conectados, que conversam em escala global a respeito de
inúmeros interesses. Afinal, a autoridade não está mais centralizada em
instituições como a mídia, o governo ou mesmo as empresas. No Brasil,
esta afirmação do potencial dos cidadãos comuns tem se elevado
rapidamente. Para os respondentes de goodpurpose no país, 20% creem em
sua importância para endereçar propósitos. Todavia, o governo lidera
esta responsabilidade com 52% enquanto a expectativa que recai sobre as
empresas é de 6%.
Vincular-se a causas gera, também, condições comerciais favoráveis. O
brasileiro mostra-se propenso a pagar mais, recomendar e ser fiel a
marcas que colocam o propósito como ponto relevante em seus negócios. O
ambiente para mudança é positivo, pois 76% creem ser possível para as
companhias realizar lucros e, simultaneamente, cuidar de causas de modo
consistente. Para se ter uma ideia, em 2007 este índice era de 58%, o
que demonstra o amadurecimento do consumidor brasileiro quanto ao tema. À
parte de preço e qualidade, o cidadão local confere imensa importância
às atitudes concretas das marcas, muito à frente de outros
qualificativos como design, inovação ou mesmo lealdade.
O país, ao mesmo tempo em que vive um florescimento do consumo, mostra
que há muitos outros aspectos além das transações comerciais. Trata-se
de um horizonte promissor, no qual as marcas deverão elevar a qualidade
de suas atitudes em relação a causas caso desejem ter uma atuação mais
civilizada, consciente e alinhada às demandas desta sociedade. Tendem a
sobreviver no longo prazo as marcas que tiverem uma sólida associação a
causas e conteúdos capazes de darem vida a um propósito considerado
importante pelos indivíduos.
Em linhas gerais, os números brasileiros mostram-se em níveis
superiores à média global, o que demonstra uma manutenção de importantes
tendências verificadas na edição de 2010 da pesquisa. Podemos
organizá-las da seguinte forma:
1) Consumidores emergentes e mais críticos ganham espaço e afirmam seus próprios potenciais para agir em torno de causas;
2) Indivíduos acreditam cada vez mais em seus poderes para atuar sobre um propósito – processo de descoberta pessoal deflagrado pelo aumento do poder aquisitivo contribui para a elevação da autoconfiança;
1) Consumidores emergentes e mais críticos ganham espaço e afirmam seus próprios potenciais para agir em torno de causas;
2) Indivíduos acreditam cada vez mais em seus poderes para atuar sobre um propósito – processo de descoberta pessoal deflagrado pelo aumento do poder aquisitivo contribui para a elevação da autoconfiança;
Empresas têm a chance de liderar por propósito, mas também engajar indivíduos e outros grupos como governo e ONGs;
3) Há muitas causas a endereçar no país, sobretudo pelo déficit da
atuação pública em muitas áreas; porém, as empresas não devem substituir
outras entidades – como o governo – em suas práticas ao redor destes
propósitos;
4) Atuar sobre propósitos, portanto, é uma notável oportunidade e, ao
mesmo tempo, um risco caso estas atitudes não tenham consistência e não
sejam contínuas e comunicadas;
5) O propósito afirma-se como vetor de construção de lealdade,
recomendação e escolha de marca, contribuindo crescentemente na
performance comercial das empresas que operam no país.
*Por Rodolfo Araújo e Sharon Hess. Esta reportagem foi publicada originalmente no portal Com:Atitude, da Edelman Significa, e agora no Mundo do Marketing de acordo com parceria que os dois portais mantêm.
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