Cinco meses após fusão operação do WPP consolida modelo e quer “explicá-lo”
Próxima a completar cinco meses de operação, a
Grey141 – fusão da Grey Brasil e da 141 Soho Square, ambas pertencentes
ao WPP – ainda gera certa dúvida no mercado quanto ao entendimento de
seu modelo de atuação. “Nós já aparecemos unificados nos rankings, mas
acho que ainda não caiu a ficha para quem está de fora, o conceito não
decantou”, analisa Luiz Kroeff, ceo da Grey 141.
Tal modelo é realmente diferente dos padrões, o
que não se torna um ponto negativo em nenhum aspecto, na visão de seu
principal líder. A questão fica em conseguir transmitir ao mercado sua
estruturação, baseada numa única agência, mas ramificada em quatro
divisões de pertinência regional e estratégica. “Somos a Grey 141, uma
agência única, uma única pessoa jurídica, mas com quatro unidades
físicas: duas em São Paulo, uma no Rio e uma em Brasília. Decidimos por
dividir a presença na capital paulista por uma questão de produtividade e
estratégia de negócios”, detalha Kroeff.
No bairro de Pinheiros ficou a 141 Soho Square,
que herdou o nome da antiga agência e também a carteira de clientes, com
Avon entre as principais contas, além de Zurich Seguros, WWF, Vivara,
Etna, Barbacoa, Vipal e Editora Abril. O comando criativo está nas mãos
do diretor geral de criação Celso Alfieri – no cargo desde fevereiro de
2011 –, que também lidera o departamento do escritório de Brasília. Já
no Morumbi está instalada a Grey, abrigando outro diretor geral de
criação, Pedro Cappeletti – primeira grande contratação visando a fusão,
ainda em novembro do ano passado –, que também comanda o time do
escritório carioca e se dedica a contas como Casa & Vídeo, 3M,
Hipoglós (P&G), Hasbro, GSK, HBO, DHL e à campanha “Visit Britain”,
entre outras.
Essa “dinastia” na liderança criativa, mesmo que
bem definida internamente, assim como uma unificação de comando para
toda a Grey141 em outras áreas – como Sumária Osório no planejamento e
Ana Balleroni na mídia, além do back office (administrativo, financeiro e
recursos humanos) – e a presença de um quinto braço, a 141 Newport,
voltada ao varejo e parte da estrutura física da Grey, é outro
elemento que gera confusão para os menos ambientados com a agência.
De acordo com Kroeff, todo o plano de fusão e
subdivisão teve como meta principal gerar segurança para os clientes que
já estavam na carteira das partes que se uniram, bem como para aqueles
que pretendem entregar sua conta a uma das divisões. “A intenção não é
competir, mas sim o contrário: oferecer conforto em eventuais conflitos.
Nosso modelo de negócios é baseado em uma independência operacional. Os
líderes em comum estão mais focados na busca por melhores ferramentas,
treinamento e cultura de suas áreas. Cada operação tem seu diretor
executivo e diretores de departamento, esses sim diretamente ligados aos
clientes e ao dia-a-dia”, reforça o ceo.
Pouco antes de formalizar a fusão, porém, a Grey
141 amargou a perda para a New Energy de três marcas da P&G, Wella
Koleston, Downy e Pantene, até então na carteira da Grey – por possível
conflito com a Avon, atendida pela 141 Soho Square. Uma das principais
preocupações do executivo, que espera “voltar a ser de grande relevância
para a P&G”, é exatamente exaltar que tal receio é infundado graças
ao modelo adotado.
Perfis
A decisão por manter grandes operações distintas
na capital paulista foi baseada também pela adoção de conceitos
praticamente opostos visando a evolução tanto de Grey quanto de 141 Soho
Square. “Nossa intenção principal foi sinalizar aos clientes da 141 que
tudo aquilo que eles já recebiam seria mantido, enquanto, no caso da
Grey, o processo mirava uma nova dinâmica”, explica Kroeff.
Para isso, Celso Alfieri, que vinha há cerca de
um ano atuando na 141, teve como meta amadurecer o trabalho que já
desempenhava, como trazer às suas mãos a produção para clientes
internacionais. “Antes, adaptávamos cerca de 60% do material que era
veiculado no Brasil para a comunicação de Avon. Hoje já somos um centro
de criação para a América Latina, inclusive desenvolvendo trabalhos de
aproveitamento global. Para a Zurich Seguros, fomos contratados com foco
em adaptação, até desenvolvermos e apresentarmos uma campanha aprovada
pelo cliente e ganharmos espaço na criação de novos trabalhos”, relata
Alfieri.
Outro elemento que mostra, na opinião do diretor
geral de criação, a mudança de percepção do mercado em relação à 141
Soho Square é a maior visibilidade por parte do mercado. “Pessoas com
relevante background começaram a aceitar o convite para vir trabalhar
com a gente. Além disso, foi perceptível o aumento de convites para
participarmos de concorrências”, avalia.
Já o trabalho de Cappeletti na Grey foi pautado
pela renovação. “Estava tudo estruturado e eu cheguei para
desestruturar”, brinca. “Inicialmente, me dediquei a conhecer os
clientes e seu passado com a agência para entender como e o quê mudar,
tendo como principal intenção gerar mais frescor nessa relação”,
acrescenta. O caminho foi confirmado como correto, em sua visão, graças à
resposta de todos os envolvidos na repostura da operação. “Chegar
sempre é fazer uma crítica ao modelo antigo. É preciso, porém, saber
comunicar isso da melhor forma possível. O importante é que a aceitação
foi muito boa, tanto da parte dos clientes quanto da criação e do
restante da equipe. Foi possível sentir um sorriso vindo deles,
especialmente dos clientes, além de uma receptividade muito grande ao
movimento”, conclui.
Objetivo
O perfil dos dois diretores gerais de criação da
Grey141, de rico currículo e prestígio no mercado, porém, de postura
menos “pop”, é, na visão de Kroeff, uma característica comum ao restante
da agência, além de proposital para a escolha, de acordo com o
executivo, o que facilita que o modelo proposto dê certo, apesar de
aumentar a dificuldade de sua exposição. “Temos mesmo uma postura mais
low profile”, confirma o ceo. “Claro que queremos prêmios, reputação,
mas buscamos isso de uma forma muito mais focada no trabalho interno”,
acrescenta.
Por outro lado, o menor destaque midiático uma
posição menor diante do gigante WPP, que controla Y&R, Ogilvy e JWT –
respectivamente 1ª, 3ª e 7ª no ranking do Ibope baseado na compra de
mídia –, permite maior liberdade para experimentação. “O interessante é
que sentimos um carinho, uma torcida e uma simpatia pelo nosso trabalho.
Além disso, por sermos a menor operação do WPP entre as grandes
agências de publicidade, temos mais liberdade para ousar e experimentar.
Nosso modelo realmente não é dos mais convencionais, mas, enquanto ele
se mostrar interessante aos nossos clientes, ele será explorado e
mantido”, avalia.
Ao final de 2011, ainda de acordo com o ranking
do Ibope, a 141 Soho Square figurava na 19ª posição, com R$ 883,4
milhões, enquanto a Grey aparecia na 35ª, com R$ 434,8 mi. Já na lista
de março deste ano, a última divulgada pelo instituto, a operação já
aparece como Grey141 e ocupa o 19ª posto, com R$ 251,7 mi mensurados até
o fim do trimestre. O plano de Kroeff, sem pretensão detalhista de
tempo, é se aproximar consideravelmente das “irmãs mais ricas” em um
futuro próximo. “Não nos prendemos a um prazo definido, já que a questão
envolve fatores alheios ao nosso controle. Mas nosso objetivo é figurar
entre as 10 maiores agências do Brasil – e temos a consciência de que
isso é totalmente possível”, finaliza o ceo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário