Levante o zíper do agasalho esportivo com listras, curve as pernas e
entre a bordo do novo Fusca. Você não precisa tirar a chave do bolso
para abrir as portas (nem para fechá-las, na saída) ou dar a partida no
motor 2.0 turbo de 200 cavalos e injeção direta de gasolina -- e isso já
vai impressionar sua companhia, pode ter certeza.
Com o botão apertado e
o acelerador pressionado, um som o leva de volta ao passado: a
eletrônica faz questão de emular aquele borbulhar típico do motor boxer
do velho Fusca. A nostalgia para quando o câmbio DSG troca as marchas de
forma tão suave, mas rápida, que o carro já está em quarta aos 60 km/h
e, quando você se dá conta, o 0-100 foi cumprido e aquele carro de três
portas ficou lá para trás, ainda parado no semáforo.
O novo Fusca pegou o nome do antigo numa jogada de marketing que nada
tem a ver com a ideia do carro de dinâmica duvidosa, mas barato. O lance
não é repetir o preço -- Gol, Fox e o futuro Up têm esta função -- mas
usar a sonoridade típica de um nome que todos conhecem (afinal, o velho
Fusca tornou-se o modelo de maior sucesso comercial da história do
automóvel). Tanto é assim que o novo carro assume o velho nome existente
em cada mercado: Beetle nos Estados Unidos, Käfer na Alemanha, Vocho no
México e por aí vai. Então pare de vociferar que o novo nada tem a ver
com o velho. Ainda bem que não tem. Ou quase não tem.
Como é o Fusca 2013
É OU NÃO
O novo Fusca é um carro mais baixo, mais esportivo e masculino do que o
antecessor, New Beetle jamais foi. Segundo a Volks, nenhuma de suas
linhas foi utilizada por puro modismo -- algo que sobrou no modelo de
1998, desenhado conforme os preceitos do retro-futurismo, daí o termo
"retrô" que marcou modelos daquele período como o Fiat 500, o Mini
Cooper e o próprio Beetle. Ainda assim, o corpo do carro, separado das
caixas de rodas, remete ao desenho do Fusca original.
A mescla de elementos e cores do painel remete, novamente, ao Fusca
original, como o porta-luvas superior e seu mecanismo de abertura. Ou as
linhas paralelas e círculos, que se repetem numa organização típica de
alemães. E ainda a distância que o motorista tem de abrir o braço para
alcançar a alavanca de câmbio -- calma! Nem o manual, nem o DSG têm
aquele globo com um caranguejo dentro (ou uma bola de sinuca) no topo da
alavanca.
Afinal, a mecânica é de outro patamar. Num dos raros momentos em que
fomos forçados a parar de acelerar o carro, num engarrafamento da
Marginal Pinheiros, um motorista de Toyota Hilux emparelhou, abaixou o
vidro e disparou o sorriso: "É o mesmo motor do Jetta"? A plataforma e
os equipamentos são do Jetta topo de linha, o que garante um desempenho
bem esportivo, já que o novo Fusca é mais leve e baixo. "Está andando
bem?" O 0-100 km/h prometido é de 7,5 segundos. Quando o trânsito andou e
deixamos a picape para trás, ficou a certeza de que mais uma unidade do
novo Fusca teria destino certo em alguma garagem.
O carro torce pescoços facilmente, mas torce melhor ainda as curvas
da estrada, algo que o antigo Fusca nunca sonhou em fazer com sua
solidez de folha de papel. Abra a porta do modelo 2013 e repare: abaixo
dos estribos há uma fenda. É nela que se encaixa a trava existente na
base de cada porta, aumentando ainda mais a rigidez do conjunto. O
volante com assistência elétrica fica na medida, por mais que a curva
surja veloz no para-brisa e o controle XDS ajuda a fazer o contorno da
forma correta.
Quem ficou de fora corre para se aproximar e dar uma espiadinha. "É o
novo New Beetle"? Basta convidar para conhecer o interior para a névoa
mental se dissipar. A sensação de direção é muito mais esportiva, com
melhor visibilidade e maior proximidade dos equipamentos. O carro é
tipicamente um médio, mas ainda assim parece vestir o motorista. Ainda
assim, os sensores de estacionamento de série são bem-vindos, uma vez
que a dianteira com sua ponta chapada e a traseira alta e massuda ficam
"invisíveis".
UM PAI PARA ÓRFÃOS DO GTi
Um dos grandes lances dos velhos Fuscas atualmente esta na
customização. Traduzindo: esqueça aquela noção do Fusca econômico usado
para levar a família. Os "moleques" querem botar a maior roda, o som
mais forte e o motor mais abusado possível na casca do velho besouro.
Aliás, nem a antiga "Fusqueta" serve mais: olhe para a faixa do lado no
trânsito e perceba como cresceu a quantidade de Chevrolet Cruze Sport6
(o hatch) e de Hyundai Elantra e Sonata usados para tuning. É este
espaço que a Volkswagen está sedenta para ocupar com o novo Fusca.
O carro, que chega ao Brasil num pacote equivalente ao Sport vendido
lá fora, já traz rodas de 18 polegadas, estribo, spoiler bicolor gigante
e, por dentro, marcadores sobre o painel e LEDs que mudam a cor da
borda dos alto-falantes. Mas tudo poderia ser melhor: a Volks "esqueceu"
de trazer as rodas mais vistosas, que lembram aquelas utilizadas pelo
modelo clássico -- Heritage (aro 17), Disco (aro 18) e Tornado (aro 19).
O próprio diretor de marketing, o alemão Axel Schröder, confessou
preferir o uso dos modelos de 19 polegadas. Tudo bem, tudo bem, nosso
asfalto é mais cruel que o piso gringo.
Mas o que dizer da ausência da pintura "sunburst" no painel -- a mesma
utilizada nas guitarras Fender Stratocaster -- para quem leva o caro
pacote de som da Fender? Doeu tanto quanto uma nota desafinada.
Ainda assim, o supervisor de design Guilherme Knop aponta: "Há o
estribo, que é um elemento formal e de decoração, diferente da utilidade
do primeiro Fusca, mas que pode ter a cor alterada. Há essa pegada de
comportar uma roda maior, o spoiler em dois tons, o teto solar elétrico,
que é escurecido, num contraste com a carroceria, que tem as cores
clássicas do velho Fusca".
Cromados, insertos em fibra de carbono, volante de base chata,
relógios sobre o painel, partida por botão e a alavanca do câmbio DSG
complementam pacote com o devido toque de esportividade.
O novo Fusca pode até atrair a turma que ficava louca com o Golf GTI,
mas que viu o carro morrer sem deixar herdeiros no Brasil. Imagine um
Fusca manual, seis marchas, com seus 200 cavalos e controles que dosam o
giro das rodas em curvas? Imagine o quanto ele pode ser instigado nas
mãos dos fuçadores e personalizadores. Fica a dica!
Novo Fusca busca influência no velho Fusca
Foto 1 de 26 - O
Fusca clássico (à esquerda): este foi o ponto de partida para o novo
Fusca, e não apenas no nome; uma curiosidade: os dois carros são brancos
-- tom Lótus no original, Cristal no atual Mais Murilo Góes/UOL
O fato é que o novo Fusca foi um dos carros mais divertidos e
interessantes a passar por nossa garagem este ano. Deu conta com louvor
do "estilo de fim-de-semana", do carro feito para aparecer, mostrou
vigor para encarar a pressão de ser um modelo com pegada esportiva (de
fato) e mesmo com o espaço esguio em relação a veículos maiores (tem
4,27 m de comprimento, entre-eixos de 2,53 m e porta-malas de 310
litros), agradou até mesmo em momentos do dia-a-dia, com saídas e
retomadas ligeiras (nada de lag de turbo para atrapalhar a vida) e
consumo de 8,6 km/l na cidade e quase 11 km/l na estrada, sempre
considerando arrancadas para testes e ar condicionado bem gelado para
aguentar o calor da rua, afinal, se for para passar calor é melhor ficar
com o Fusca antigo.
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