Enquanto nos países ricos o empreendedor é de classe mais alta, no
Brasil, ele é, em sua maioria (55,2%), da classe C, segundo estudo do
Sebrae (Agência de Apoio ao Empreendedor e Pequeno Empresário).
O aumento da renda e do consumo é uma das explicações, segundo o
presidente da agência, Luiz Barretto. As classes D e E respondem por
7,3% dos empreendedores, e as A e B, por 37,5%.
De 2003 a 2011, 32 milhões de brasileiros deixaram as classes D e E e
migraram para a C, com acesso a bens que não possuíam antes.
Além do mercado aquecido, Renato Meirelles, diretor do Instituto Data
Popular (responsável pela pesquisa), vê um otimismo na classe C, porque
viu a vida melhorar, o que estimularia a abertura de novos negócios.
"O sonho do empreendedorismo é o de ser dono do próprio nariz. De não
ter cartão de ponto, de poder estar junto com a família e isso vem junto
do 'empoderamento' da classe C", afirma Meirelles.
O estudo considerou que a classe C abrange famílias com renda familiar per capita entre R$ 291 e R$ 1.019.
Eduardo Knapp/Folhapress |
Rinaldo Polito abriu salão na zona leste da capital paulista |
Rinaldo Polito, 48, é um dos que aproveitaram a economia aquecida para
deslanchar nos negócios. Em 1984, Polito, que é da classe C, desistiu do
curso de engenharia química porque não encontrava emprego e abriu um
salão de cabeleireiro na garagem de casa.
Hoje, é dono do Rinaldo Estetic Center, em São Miguel Paulista, zona
leste de São Paulo. O salão é especializado em depilação masculina, que
foi responsável por impulsionar o negócio a partir de sua implantação,
em 2005. "As pessoas gastam mais com beleza hoje", afirma ele.
MENOS BUROCRACIA
A pesquisa do Sebrae também mostra que, entre 2009 e 2012, dobrou o
número de médios, micro e pequenos que se formalizaram através de
cadastro do portal do empreendedor individual e do Simples nacional (que
reduz e facilita a tributação).
"A legislação simplificou a burocracia para abrir e fechar empresas e
reduziu em 40% a carga tributária dos pequenos", comenta Barretto.
Cabeleireiros, lojas de roupa, lanchonetes, obras de alvenaria e minimercados são os negócios mais comuns desses empresários.
"O aumento do consumo da classe C se abastece em regiões periféricas
junto a pequenos mercados, formados por esse empreendedor [da classe
C]", comenta Ricardo Abramovay, professor da Faculdade de Economia,
Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo.
Mas, para Abramovay, os dados podem revelar uma realidade não tão
otimista: cerca de 54% desses empreendedores ganham o equivalente a até
três salários mínimos por mês (R$ 1.866) e 64,7% faturam até R$ 60 mil
por ano.
"Esses negócios são pequenos não porque as oportunidades de negócios se
democratizaram, mas, sim, porque eles são muito precários", afirma
Abramovay. Não é possível afirmar, com base apenas nesses dados, que o
empreendedorismo possibilita inclusão social, diz.
Sua hipótese é que, com faturamento mensal em média de R$ 5.000 e
margens baixas devido à concorrência, essas empresas não são muito
prósperas e não têm perspectiva de crescimento. São muito mais frutos da
necessidade das famílias do que de um impulso empreendedor, segundo o
pesquisador.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
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