terça-feira, 25 de setembro de 2012

Mídia se adapta à demanda popular


Após noticiar o crescimento da nova classe média, veículos buscam formas de agradar esse público

A classe C nunca foi tão cortejada pela mídia como agora. Os protagonistas não moram mais no Leblon e o povão não está reduzido ao balcão do boteco ou ao emprego na cozinha. As produções de TV e as reportagens de jornal perceberam que a periferia e as comunidades também rendem histórias interessantes e criam personagens ricos, em contextos sociais que vão além da violência e da carência.


Avenida Brasil é, provavelmente, o grande símbolo da conquista desses consumidores, também identificados como “a nova classe média”. O perfil básico descreve a população que saiu da linha da pobreza nos últimos dez anos. Segundo pesquisas da Cetelem BGN e da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a classe C já é maioria no País, representando 55% da população. Outro levantamento, este da consultoria Gouvêa de Souza, revela que 49,5% dos consumidores dessa camada social preferem ficar em casa, sendo que 40% assistindo à TV.



Não é à toa que todas emissoras reforçaram suas estratégias em torno da nova classe média. Para Glen Valente, diretor comercial do SBT, é uma questão de readequação de linguagem segundo o target. “Tem de ser relevante para todos, e com simplicidade. Classe C não está acostumada com palavras como voucher, check in... Você tem de explicar o que é isso”, sugere.


Vida de Mallandro, reality do Multishow: canal investe em atrações mais populares
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Vida de Mallandro, reality do Multishow: canal investe em atrações mais populares Crédito: Gianne Carvalho/ Divulgação
 

Rumo à TV paga

O aumento na venda de televisores do tipo plasma ou LCD para a classe C foi da ordem de 400% na comparação entre 2006 e 2012. Após comprar um bom aparelho, a tendência é investir numa TV por assinatura: 27% da classe C pagam, hoje, pelo serviço, em comparação com 18% em 2009 – o índice de pessoas dessa camada que recebem pelo menos um canal pago aumentou em 116% em relação a uma década atrás.

Ciente da existência de um mercado a conquistar, as operadoras de TV por assinatura baratearam preços, investiram em pacotes de serviços com telefonia e banda larga e alteraram sua programação. “Não podemos nos acomodar – temos que estar antenados, inovar, renovar. Acompanhamos tanto o que é popular quanto o que é tendência no mundo jovem”, afirma o diretor geral do canal Multishow, Guilherme Zattar.



Luciano Martins, do Daqui, de Goiás: jornais populares de hoje têm mais qualidade
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Luciano Martins, do Daqui, de Goiás: jornais populares de hoje têm mais qualidade Crédito: Weimer Carvalho/ Divulgação
Impressos em ascensão


Mais barato que pagar cerca de R$ 30 por um plano de TV por assinatura é pagar R$ 0,50 por um jornal diário. Ou até mesmo R$ 0,25. “Chegamos até as mãos da grande massa de pessoas, que, com a estabilidade econômica, tinha como adquirir uma publicação atrativa”, aponta Rogério Maurício, editor do mineiro Super Notícia, que com seus 300 mil exemplares/dia é desde 2010 o jornal mais vendido no Brasil.



De fato, os jornais populares têm dominado a lista de circulação paga do IVC na última década. Entre os top 50 deste ano, mais da metade tem a classe C ou a classe média como público-alvo. Sem mencionar os gratuitos, que se tornaram sucesso comercial. O Destak tira em média 383 mil exemplares diários em seis regiões. O Metro imprime em média 483 mil, que circulam por nove praças.



Entre as editoras de revistas, a Abril tem a maior carteira de assinantes do Brasil e notou que havia um modelo de negócio para desenvolver. “Em 2010 percebemos que havia espaço no nosso portfólio para criar títulos voltados para essa nova classe média”, relata Lúcia Barros, diretora de redação da feminina Máxima, lançada naquele ano, ao lado da Minha Casa, de decoração. As revistas passaram a compor um núcleo voltado à nova classe média, com o desafio de atender às suas expectativas e anseios.



“É engraçado que muitas das nossas leitoras comentam que sentem orgulho de comprar a Máxima porque ‘parece revista estrangeira’ ”, comemora. Mesmo os atuais jornais populares, de forma geral, não têm mais aquela apelação popularesca que muitas vezes os levavam ao descrédito. “Hoje os populares são, sim, de qualidade e trazem informações que ajudam o leitor a ser uma pessoa melhor, mais bem informada”, avalia Luciano Martins, editor do Daqui, jornal popular de Goiás pertencente à Organização Jaime Câmara.


A Fazenda no portal R7: emissoras direcionam tráfego para seus endereços na internet
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A Fazenda no portal R7: emissoras direcionam tráfego para seus endereços na internet
Aspiracional possível


A internet é um universo a ser explorado pelos veículos junto a seu público de classe C. A pesquisa Media Book, do Ibope, aponta que a classe C representa 41% dos acessos à internet, ante 4% da D, e 55% da AB. A preferência ainda é por redes sociais: 76% dos internautas da classe C navegam por elas, ante a 9% interessados em portais de jornais, por exemplo.



As TVs parecem compreender melhor a importância de criar atrativos para manter a audiência na internet. A Globo mantém, por exemplo, um verdadeiro portal informativo da novela Avenida Brasil, no qual não só é possível resgatar episódios anteriores como antecipar pílulas dos seguintes, ver dicas de moda, conferir os bastidores, saber as receitas da personagem Nina, compartilhar gifs animados nas redes sociais, entre outras funções.



A Record direciona ao seu portal, o R7, a interatividade que programas como Ídolos e A Fazenda exigem, como votos e promoções. A TV aberta, como mídia que tradicionalmente soube chegar aos corações da massa, mantém braços bastante articulados em suas plataformas digitais. Público é público, afinal, em todo lugar, em qualquer plataforma.


O texto completo foi publicado originalmente no especial Mídia & Mercado, que circula com a edição nº 1528 de Meio & Mensagem

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