Após noticiar o crescimento da nova classe média, veículos buscam formas de agradar esse público
A classe C nunca foi tão cortejada pela mídia como agora. Os
protagonistas não moram mais no Leblon e o povão não está reduzido ao
balcão do boteco ou ao emprego na cozinha. As produções de TV e as
reportagens de jornal perceberam que a periferia e as comunidades também
rendem histórias interessantes e criam personagens ricos, em contextos
sociais que vão além da violência e da carência.
Avenida
Brasil é, provavelmente, o grande símbolo da conquista desses
consumidores, também identificados como “a nova classe média”. O perfil
básico descreve a população que saiu da linha da pobreza nos últimos dez
anos. Segundo pesquisas da Cetelem BGN e da Fundação Getúlio Vargas
(FGV), a classe C já é maioria no País, representando 55% da população.
Outro levantamento, este da consultoria Gouvêa de Souza, revela que
49,5% dos consumidores dessa camada social preferem ficar em casa, sendo
que 40% assistindo à TV.
Não é à toa que todas emissoras
reforçaram suas estratégias em torno da nova classe média. Para Glen
Valente, diretor comercial do SBT, é uma questão de readequação de
linguagem segundo o target. “Tem de ser relevante para todos, e com
simplicidade. Classe C não está acostumada com palavras como voucher,
check in... Você tem de explicar o que é isso”, sugere.
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Vida de Mallandro, reality do Multishow: canal investe em atrações mais populares
Crédito: Gianne Carvalho/ Divulgação
Rumo à TV paga
O aumento na venda de
televisores do tipo plasma ou LCD para a classe C foi da ordem de 400%
na comparação entre 2006 e 2012. Após comprar um bom aparelho, a
tendência é investir numa TV por assinatura: 27% da classe C pagam,
hoje, pelo serviço, em comparação com 18% em 2009 – o índice de pessoas
dessa camada que recebem pelo menos um canal pago aumentou em 116% em
relação a uma década atrás.
Ciente da existência de um mercado a
conquistar, as operadoras de TV por assinatura baratearam preços,
investiram em pacotes de serviços com telefonia e banda larga e
alteraram sua programação. “Não podemos nos acomodar – temos que estar
antenados, inovar, renovar. Acompanhamos tanto o que é popular quanto o
que é tendência no mundo jovem”, afirma o diretor geral do canal
Multishow, Guilherme Zattar.
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Luciano Martins, do Daqui, de Goiás: jornais populares de hoje têm mais qualidade
Crédito: Weimer Carvalho/ Divulgação
Impressos em ascensão
Mais barato que
pagar cerca de R$ 30 por um plano de TV por assinatura é pagar R$ 0,50
por um jornal diário. Ou até mesmo R$ 0,25. “Chegamos até as mãos da
grande massa de pessoas, que, com a estabilidade econômica, tinha como
adquirir uma publicação atrativa”, aponta Rogério Maurício, editor do
mineiro Super Notícia, que com seus 300 mil exemplares/dia é desde 2010 o
jornal mais vendido no Brasil.
De fato, os jornais
populares têm dominado a lista de circulação paga do IVC na última
década. Entre os top 50 deste ano, mais da metade tem a classe C ou a
classe média como público-alvo. Sem mencionar os gratuitos, que se
tornaram sucesso comercial. O Destak tira em média 383 mil exemplares
diários em seis regiões. O Metro imprime em média 483 mil, que circulam
por nove praças.
Entre as editoras de revistas, a Abril tem a
maior carteira de assinantes do Brasil e notou que havia um modelo de
negócio para desenvolver. “Em 2010 percebemos que havia espaço no nosso
portfólio para criar títulos voltados para essa nova classe média”,
relata Lúcia Barros, diretora de redação da feminina Máxima, lançada
naquele ano, ao lado da Minha Casa, de decoração. As revistas passaram a
compor um núcleo voltado à nova classe média, com o desafio de atender
às suas expectativas e anseios.
“É engraçado que muitas das
nossas leitoras comentam que sentem orgulho de comprar a Máxima porque
‘parece revista estrangeira’ ”, comemora. Mesmo os atuais jornais
populares, de forma geral, não têm mais aquela apelação popularesca que
muitas vezes os levavam ao descrédito. “Hoje os populares são, sim, de
qualidade e trazem informações que ajudam o leitor a ser uma pessoa
melhor, mais bem informada”, avalia Luciano Martins, editor do Daqui,
jornal popular de Goiás pertencente à Organização Jaime Câmara.
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A Fazenda no portal R7: emissoras direcionam tráfego para seus endereços na internet
Aspiracional possível
A internet é um
universo a ser explorado pelos veículos junto a seu público de classe C.
A pesquisa Media Book, do Ibope, aponta que a classe C representa 41%
dos acessos à internet, ante 4% da D, e 55% da AB. A preferência ainda é
por redes sociais: 76% dos internautas da classe C navegam por elas,
ante a 9% interessados em portais de jornais, por exemplo.
As TVs parecem compreender melhor a importância de criar atrativos para
manter a audiência na internet. A Globo mantém, por exemplo, um
verdadeiro portal informativo da novela Avenida Brasil, no qual não só é
possível resgatar episódios anteriores como antecipar pílulas dos
seguintes, ver dicas de moda, conferir os bastidores, saber as receitas
da personagem Nina, compartilhar gifs animados nas redes sociais, entre
outras funções.
A Record direciona ao seu portal, o R7, a
interatividade que programas como Ídolos e A Fazenda exigem, como votos e
promoções. A TV aberta, como mídia que tradicionalmente soube chegar
aos corações da massa, mantém braços bastante articulados em suas
plataformas digitais. Público é público, afinal, em todo lugar, em
qualquer plataforma.
O texto completo foi publicado originalmente no especial Mídia & Mercado, que circula com a edição nº 1528 de Meio & Mensagem
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